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4. Material e métodos

O trabalho foi conduzido no Campo Experimental de Coronel Pacheco, da Embrapa Gado de Leite, localizado no sudeste de Minas Gerais. O Município de Coronel Pacheco está situado a 21° 33' 22" de latitude sul e 43° 06' 15" de longitude oeste, com altitude de 426 metros. A precipitação pluviométrica anual, média de 30 anos, é de 1600 mm, com cerca de 90% desse total ocorrendo de outubro a abril.

O experimento foi montado em uma pastagem naturalizada de capim-gordura (Melinis minutiflora Beauv.), localizada em Latossolo Vermelho-Amarelo e com intensa infestação de capim-sapé. As características químicas médias do solo são: pH em água, 4,77; H+Al, 6,86 cmolc/dm3; cátions trocáveis (cmolc/dm3): Al, 0,67; Ca, 0,76; Mg, 0,50 e K, 0,13; e P-disponível (Mehlich), 3,06 mg/kg.

Os tratamentos consistiram de cinco doses de calcário dolomítico, 0, 1, 2, 4 e 6 t/ha, mais um tratamento extra sem calcário e gradagem. O delineamento experimental adotado foi em blocos ao acaso com quatro repetições.

A área foi queimada em 18/11/94, com a finalidade de reduzir a vegetação acumulada, constituída basicamente de capim-sapé e capim-gordura. Para permitir a incorporação do calcário, foram preparadas, por meio de gradagem, duas faixas em nível e com largura aproximada de 4 m, intercaladas por uma faixa de igual largura, não-gradeada. Nas faixas cultivadas, foram alocados os quatro blocos com as doses de calcário e na não-cultivada, as quatro repetições com o tratamento extra. As parcelas mediam 4 x 2 m, considerando-se como área útil os 2 m2 centrais. Utilizou-se calcário dolomítico calcinado com 28% CaO, 12% MgO e PRNT=70%. O calcário foi aplicado em 1/12/94, em quantidade corrigida para PRNT=100%, sendo distribuído em cobertura e incorporado manualmente por meio de enxada à profundidade de 20 cm.

A produção de matéria seca do capim-sapé foi avaliada por meio de três cortes efetuados a 10 cm do solo, em 18/04/95, 20/03/96 e 09/09/97, aos quatro meses e meio, 15,5 e 33 meses após a aplicação do calcário, respectivamente. Por ocasião dos 1o e 3o cortes, foi medida também a produção de matéria seca de outras plantas existentes nas parcelas. No 3o corte, foi feita uma avaliação visual sobre a contribuição percentual das principais espécies, consideradas como outras plantas, além do capim-sapé. Em 10/05/95 e 22/09/97, foram feitas amostragens de solo, coletando-se cinco subamostras por parcela da camada de 0 a 20 cm de profundidade. As análises químicas do solo foram feitas de acordo com a metodologia descrita em EMBRAPA (1979).

Os dados foram analisados usando-se os procedimentos GLM e REG do SAS (Statistical Analysis System) em um modelo de análise de variância que incluiu os efeitos de bloco e tratamento. O efeito significativo da calagem sobre as características avaliadas foi estudado por análise de regressão, considerando-se como variável dependente as médias dos dados das características consideradas em função das doses de calcário aplicadas no solo.

5. Resultados e discussão

As características químicas do solo foram influenciadas significativamente pelas doses de calcário, nas duas épocas de avaliação (Tabela 1). O teor de Al trocável diminuiu (P<0,01), enquanto o pH, o teor de Ca e Mg trocáveis, a soma de bases (SB) e a saturação por bases (V%) aumentaram (P<0,01). As alterações promovidas pela calagem nas características químicas do solo foram mais pronunciadas na 2a época de avaliação, aos 33 meses após a sua aplicação, que na 1a época, apenas cinco meses após a aplicação (Tabela 2). Na 2a época de avaliação, os aumentos entre as doses extremas de calcário (0 e 6 t/ha) foram: pH, 4,72 para 6,03; Ca, 0,71 para 3,00 cmolc/dm3; e V%, 18,8 para 66,3% (Tabela 2).

Apesar dessas alterações marcantes nas características químicas do solo, as doses de calcário não influenciaram a produção de matéria seca (MS) do capim-sapé, em nenhuma das três avaliações efetuadas (Tabela 3). As relações entre o efeito das doses de calcário sobre algumas características químicas do solo e sobre o crescimento do capim-sapé podem ser visualizadas nas Figuras 1 a 4, nas quais se compara a média da produção de MS do capim-sapé nos cortes 1 (Figuras 1 e 2) e 3 (Figuras 3 e 4), com as equações de regressão do pH, Al, Ca e Mg trocáveis e V%, em função das doses de calcário, usando-se os dados da primeira (Figuras 1 e 2) e da segunda (Figuras 3 e 4) amostragem de solo. Do mesmo modo, não houve efeito significativo da calagem sobre a produção de MS de outras espécies presentes nas parcelas.

Houve grande variabilidade na produção de MS do capim-sapé já a partir do corte 1, aos quatro meses e meio após a calagem. A gradagem e a incorporação manual do calcário concorreram para reduzir o rendimento da invasora em relação às parcelas sem gradagem e sem calagem, que representavam a condição natural da área naquele momento (Tabela 3). O corte de toda a biomassa nas parcelas (corte 1) e o incremento das outras espécies contribuíram para diminuir a produção de MS da invasora aos 15 meses após a calagem (corte 2).

A variabilidade na produção de MS do capim-sapé aumentou no decorrer do experimento, à medida que houve grande incremento na produção das outras espécies (corte 3). Por ocasião do corte 1, as "outras espécies" eram predominantemente espécies de folhas largas, as quais se desenvolveram após a gradagem, quando o crescimento do capim-sapé e do capim-gordura foi mais lento. No corte 3, as "outras espécies" eram representadas basicamente por capim-gordura (79%) e Brachiaria decumbens (21%). Entre os cortes 2 e 3, com a área reservada (sem pastejo ou corte) por cerca de 18 meses, a densidade do capim-gordura nas parcelas aumentou, possivelmente, por ressemeadura natural. A B. decumbens disseminou-se na área, por meio de sementes provenientes de pastagens existentes nas proximidades. Contudo, o aumento na produção de MS do capim-gordura e da B. decumbens não foi influenciado pela calagem (Tabela 3).

Os resultados do presente experimento não confirmaram as informações de LORENZI (1991) sobre o efeito da correção da acidez do solo no controle do capim-sapé. É possível que, quando observado, o controle do capim-sapé esteja mais relacionado com o efeito da calagem, estimulando o desenvolvimento de outras espécies, que, no caso das pastagens, seriam as espécies forrageiras, as quais ocupariam o espaço antes preenchido pelo sapé. No entanto, como prática isolada, a calagem não deve garantir o crescimento de gramíneas e leguminosas forrageiras em solos ácidos de baixa fertilidade natural. Além da calagem, a correção de outras deficiências nutricionais, como as de P e K, podem ser essenciais para assegurar o crescimento de forrageiras nesses solos. Em um Latossolo Vermelho-Escuro de Brasília, VILLELA e HARIDASAN (1994) não observaram resposta da vegetação nativa de cerrado (gramíneas e espécies herbáceas e arbustivas) a doses de calcário que variaram de 0 a 8,4 t/ha. Nesse estudo, embora o calcário não tenha sido incorporado, o pH e outras características químicas do solo aumentaram significativamente com as doses crescentes. Os autores consideraram que a falta de resposta da vegetação de cerrado à calagem pode ter sido relacionada com deficiências no solo de outros elementos importantes para o seu crescimento.

O Latossolo Vermelho-Amarelo utilizado no presente estudo apresenta séria deficiência de P, que limita o desenvolvimento inicial de gramíneas, retardando o seu estabelecimento (CARVALHO, 1985, 1994). Com a correção dessa deficiência, o crescimento inicial das gramíneas forrageiras é acelerado e o das invasoras, diminuído (CARVALHO, 1994). Portanto, a calagem e, principalmente, a correção de deficiências nutricionais, como a de P, podem controlar invasoras de pastagens, entre as quais o capim-sapé, na medida em que estimulam o crescimento das forrageiras em detrimento do crescimento dessas invasoras. No entanto, maior eficiência no controle do capim-sapé é obtida quando as gramíneas forrageiras são semeadas na área após um processo químico ou mecânico de controle, conforme observado por SOUSA et al. (1985). Apesar de não ter sido feita aplicação de P ou semeadura de gramíneas forrageiras, houve grande acumulação de MS total durante os 33 meses de duração do experimento (Tabela 3), a qual foi atribuída mais à participação das "outras espécies" que do capim-sapé. Nas parcelas sem calagem e gradagem (Tabela 3), a produção de MS do capim-sapé diminuiu em, aproximadamente, 60% entre os cortes 1 e 3, enquanto a de "outras espécies", formadas principalmente por capim-gordura e B. decumbens, aumentou 598%.

6. Conclusões

A aplicação das doses de calcário em um Latossolo Vermelho-Amarelo, que após 33 meses elevou o pH em água de 4,72 para 6,03 e a saturação por bases de 18,8 para 66,3%, não contribuiu para controlar a ocorrência da invasora capim-sapé em pastagem de capim-gordura.

A correção da acidez do solo pela calagem também não aumentou a produção de matéria seca do capim-gordura e de outras espécies.

7. Referências bibliográficas

CARVALHO, M.M., FREITAS, V.P., CRUZ FILHO, A.B. 1994. Requerimentos de fósforo para o estabelecimento de duas gramíneas tropicais em um solo ácido. Pesq. Agrop. Bras., 29(2):199-209.

CARVALHO, M.M., OLIVEIRA, F.T.T., SARAIVA, O.F. et al. 1985. Fatores nutricionais limitantes ao crescimento de forrageiras tropicais em dois solos da Zona da Mata, MG. I. Latossolo vermelho-amarelo. Pesq. Agrop. Bras., 20(5):519-528.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA E AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. 1979. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos - SNLCS, Rio de Janeiro, RJ. Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro: EMBRAPA-SNLCS. 271p.

LORENZI, H. 1991. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas, tóxicas e medicinais. 2.ed. Nova Odessa, SP: Plantarum. 440p.

OBEID, J.A., GOMIDE, J.A. 1976. Estudos sobre o sapé (Imperata sp.) objetivando seu controle. R. Soc. Bras. Zootec., 5(2):210-225.

SOUSA, R.M., TEIXEIRA, N.M., TORRES, R.A. 1985. Métodos de controle de sapé em pastagem de capim-gordura. Pesq. Agrop. Bras., 20(8):963-967.

VILLELA, D.M., HARIDASAN, M. 1994. Response of the ground layer community of a cerrado vegetation in central Brazil to liming and irrigation. Plant and Soil, The Hague, 163:25-31.

Margarida Mesquita Carvalho1, Deise Ferreira Xavier2, Vicente de Paula Freitas3, Rui da Silva Verneque2 - rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br

1 Eng. Agr., Pesquisadora da Embrapa Gado de Leite. Rua Eugênio do Nascimento, 610. CEP 36038-330, Juiz de Fora, MG. Bolsista do CNPq. Fone (032)249-4858. Fax: (032)249-4721. E.mail: mmcarval[arroba]cnpgl.embrapa.br

2 Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. E.mail: dfxavier[arroba]cnpgl.embrapa.br; rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br

3 Técnico de Nível Superior da Embrapa Gado de Leite. Coronel Pacheco, MG.



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