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Controle associado de Cornitermes cumulans (Kollar, 1832) (Isoptera: termitidae) com Metarhizium (página 2)

Júlio Marcos Melges Walder

 

 

INTRODUÇÃO

O controle do cupim de montículo, Cornitermes cumulans, tem sido realizado basicamente utilizando inseticidas químicos como os clorados, atualmente proibidos (Vanetti, 1959; Amante, 1963), organo fosforados, carbamatos e piretróides (Furquim et al., 1968; Mariconi et al., 1971; 1989; 1990; Biondo et al., 1988; Wilcken, 1992). Mais recentemente, outras moléculas inseticidas vem sendo utilizadas, como o fipronil (10g por ninho do produto comercial granulado a 2%, com 100% de eficiência de controle e o imidacloprid, nas concentrações de 150 e 300 mg/litro/ninho do produto comercial a 70%, controlando 80 e 100% das colônias de C. cumulans, respectivamente) (Mariconi et. al. 1994). Outros produtos que não requerem a utilização de água, como iscas granuladas com diferentes princípios ativos (Nogueira et al., 1971; Mariconi et al., 1977) e formulações como as pastilhas de fosfina apresentaram também bons resultados (Perez Filho et al., 1987; Melo Filho, 1996).

O controle biológico de C. cumulans com entomopatógenos apresentou resultados satisfatórios, para ninhos pequenos (15 a 24 cm de diâmetro ao nível do solo), quando foram utilizadas 2 a 5 g de conídios/cupinzeiro de Beauveria bassiana ou Metarhizium anisopliae (Fernandes, 1991; Fernandes & Alves, 1991; Alves et al., 1995). Entretanto, para ninhos grandes (50 a 150 cm de diâmetro ao nível do solo), os resultados foram bastante variáveis, sendo que somente concentrações muito elevadas de conídios provocaram a eliminação das colônias (Alves et al., 1995). A necessidade de se utilizar elevadas concentrações de conídios está relacionada com a capacidade de assepsia dos cupins, os quais retiram os conídios rapidamente da cutícula e diminuem as chances de germinação e penetração, dos mesmos. Este comportamento pode ser inibido utilizando-se substâncias químicas, como alguns inseticidas, os quais aumentam a eficiência de controle. Assim, este estudo teve como objetivos, verificar, em ninhos grandes de C. cumulans, a eficiência da associação patógeno/estressor no controle das colônias e determinar os níveis mínimos que promovem um controle eficiente, das colônias, através de um efeito sinérgico, a um custo ecologica e economicamente aceitável.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Os testes foram realizados em áreas de pastagens no município de Piracicaba-SP utilizando-se ninhos grandes de C. cumulans, com uma média de 250 ± 50 cm de diâmetro ao nível do solo. Para a aplicação dos diferentes produtos, em mistura ou não, os ninhos foram perfurados com um bastão de ferro até se atingir a parte basal da região cartonada, enquanto que as testemunhas foram somente perfuradas.

De todos os ninhos foi retirada, antes da aplicação, uma pequena parte da calota superior para se certificar da presença dos cupins, bem como da espécie. As misturas dos diferentes componentes envolvendo estressores, conídios e calcene (inerte) foram feitas um dia antes da aplicação e mantidas em congelador.

Utilizou-se uma polvilhadeira manual de aplicação de formicida onde se instalou, na extremidade da mangueira, uma ponteira de aço inox de aproximadamente 40 cm de comprimento com a ponta chanfrada, aberta e com 4 séries de furos de 3 a 4 mm, espaçados de 2 a 2,5 cm até uma distância de aproximadamente 20 cm da extremidade, visando uma melhor distribuição do produto dentro do ninho. Para a aplicação de pequenas quantidades de produto foi adaptado um dispositivo, tipo Venturi, constituído de um "T" de PVC de 2,54 cm ligado à mangueira por dois redutores. O produto foi colocado no interior do dispositivo, através de um funil, tampando-se com uma rolha de borracha. Para evitar problemas de contaminação entre os tratamentos, foram empregadas várias polvilhadeiras. A aplicação do produto nos diferentes tratamentos foi sempre da menor para a maior concentração.

Utilizou-se como estressor o produto comercial Regent 800 WG na formulação grânulos dispersíveis em água ( ingrediente ativo fipronil) e o produto Gaucho 70 PM na formulação pó molhavel ( ingrediente ativo imidacloprid), nas misturas com os fungos e o inerte. As quantidades de inseticida foram especificadas em miligramas dos produtos comerciais, sendo empregado o calcene como inerte, após constatar-se que o mesmo não afetava a viabilidade dos conídios.

Realizaram-se quatro experimentos. No primeiro experimento, utilizou-se conídios de M. anisopliae ( isolado 1037), misturados ou não com os inseticidas fipronil, imidacloprid e o inerte (calcene). No segundo e terceiro experimentos, somente foram utilizados imidacloprid e os conídios de M. anisopliae. No último experimento, foi testada a mistura de imidacloprid com conídios de M. anisopliae e B. bassiana.

Em todos os experimentos, o delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com duas e quatro repetições, respectivamente, para os dois primeiros e os dois últimos. Avaliou-se as porcentagens de colônias mortas e de conidiogênese sobre os cadáveres. Foi também determinada a presença ou não de ninfas no interior do ninho.

Nos dois primeiros experimentos foi aberto um ninho em cada avaliação e nos dois últimos dois ninhos. No terceiro e quarto experimentos, os dados relativos à porcentagem de mortalidade e conidiogênese foram transformados em raiz quadrada de (x + 0,5) e a comparação das médias dos tratamentos feita pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados do primeiro experimento encontram-se na TABELA 1. Ocorreu elevada mortalidade (100%) em todos os tratamentos, com exceção das testemunhas (tratamentos 17 e 16) e onde foi aplicado somente o fungo M. anisopliae nas três concentrações (tratamentos 13, 14 e 15). Quando não ocorreu a morte das colônias observou-se a presença de ninfas, evidenciando o vigor dos ninhos.

A conidiogênese foi irregular nos tratamentos onde foi aplicado o patógeno com o imidacloprid (TABELA 1). O tratamento com a maior concentração de fungo associado com a menor concentração de imidacloprid (tratamento 1) e vice-versa (tratamento 3), apresentaram médias de conidiogênese de 100%. Por outro lado, no tratamento com as concentrações intermediárias de fungo e imidacloprid (tratamento 2), ocorreu uma menor conidiogênese.

Quando o imidacloprid foi empregado sem o patógeno observou-se, na avaliação aos 43 dias, para as duas menores concentrações do inseticida (tratamentos 4 e 5), uma média de conidiogênese de aproximadamente 25% (TABELA 1). Em princípio isto poderia ser devido à contaminação entre os tratamentos com e sem o patógeno, o que deve ser descartado por terem sido utilizados diferentes equipamentos para a aplicação. Assim, a hipótese mais provável é que o inseticida tenha atuado sobre a inibição da capacidade de defesa dos cupins em relação ao fungo M. anisopliae presente naturalmente no solo. Esta hipótese é reforçada uma vez que a conidiogênese somente ocorreu nas menores concentrações, onde os insetos demoraram mais tempo para morrer possibilitando a penetração e colonização pelo patógeno. Para a maior concentração (tratamento 6), os insetos provavelmente morreram mais rapidamente, impossibilitando o estabelecimento do fungo.

A associação do inseticida fipronil com o patógeno apresentou níveis de conidiogênese consideravelmente inferiores aos observados na mistura com imidacloprid (TABELA 1). A menor conidiogênese pode estar relacionada com a elevada toxicidade deste produto, provocando uma grande mortalidade em um curto espaço de tempo, diminuindo a possibilidade de estabelecimento do patógeno. Também na aplicação de fipronil sem os conídios não se observaram insetos onde tenha ocorrido conidiogênese (tratamentos 10, 11 e 12). Assim, nos experimentos posteriores foi utilizada somente a associação do patógeno com o imidacloprid.

Os conídios de M. anisopliae aplicados sem os inseticidas não provocaram a morte de nenhuma das colônias avaliadas, ressaltando-se, para ninhos grandes, a ineficiência do patógeno nas concentrações testadas (TABELA 1).

Mesmo ocorrendo elevada conidiogênese na associação do fungo com imidacloprid, observaram-se níveis de 100% de mortalidade das colônias quando foi utilizado somente o inseticida, não caracterizando a ação sinérgica do patógeno em associação com o inseticida. Deste modo, no experimento seguinte, testou-se o efeito de menores concentrações do fungo e do estressor (imidacloprid) para se determinar níveis economicamente e ecologicamente mais aceitáveis.

No segundo experimento de controle associado, em todos os tratamentos com o inseticida ocorreram mortalidades de 100% (TABELA 2). Nas colônias que não morreram observou-se a presença de ninfas, evidenciando o vigor do ninho.

Na utilização do fungo sem o inseticida não foi constatada mortalidade. A conidiogênese, nos tratamentos onde foi utilizada a mistura, apresentou-se bastante variável.

A porcentagem de controle e de conidiogênese dos insetos dentro dos ninhos pode ser afetada por diferentes fatores, influenciando os resultados das avaliações. Estes estão relacionados com o vigor do ninho, que por sua vez é determinado pela sua idade (capacidade de postura da rainha), pelo número de indivíduos de cada uma das castas, época do ano e pela pressão de predação, principalmente por formigas. No presente trabalho, quando os ninhos possuíam grande número de alados e pré-alados, aguardando a revoada, a conidiogênese foi maior sobre esta casta, possivelmente por apresentar maior quantidade de nutrientes, possibilitando o desenvolvimento mais vigoroso do patógeno. Também, num grande número de ninhos, foram observadas formigas habitando partes do montículo. Estas provavelmente exercem uma pressão de predação constante sobre a colônia de cupins, enfraquecendo-a. Esta predação já foi referida como um importante fator de controle destes insetos em ninhos tratados com entomopatógenos (Alves et al., 1995). A avaliação da porcentagem de conidiogênese após os 15 a 20 dias pode não representar o que realmente ocorreu no ninho, uma vez que os insetos atacados pelo patógeno morrem em 3 a 4 dias e a conidiogênese inicia-se depois de 5 dias da aplicação do patógeno (Neves,1998). Assim, nas avaliações mais tardias, muitos dos insetos mortos pelo patógeno podem não mais apresentar o corpo coberto pelos conídios ou podem ter sido eliminados por predadores. Constatou-se, em alguns ninhos, grande quantidade de ácaros provavelmente se alimentando dos cadáveres dos cupins. Fernandes (1991) citou também que os ninhos tratados no verão mostraram uma maior contaminação por organismos saprofíticos (ácaros, fungos e bactérias), que se desenvolveram sobre os cupins mortos, diminuindo a conidiogênese em relação aos ninhos tratados no inverno.

Por terem ocorrido, no segundo experimento, níveis de mortalidade de 100% quando o inseticida foi aplicado sem o fungo, pode-se concluir que não houve um efeito sinérgico.

Os resultados do terceiro experimento de controle associado encontram-se na TABELA 3. Os tratamentos 1, 2, 3 e 4, onde se utilizaram conídios de M. anisopliae em associação com imidacloprid, controlaram de forma eficiente os cupins com 75%, 100%, 100% e 100% de mortalidade respectivamente, não sendo observada diferença entre esses índices de mortalidade (TABELA 3). Como nos experimentos anteriores, nas colônias que não morreram observou-se a presença e atividade de ninfas. No primeiro tratamento, num dos ninhos avaliados aos 14 dias, ocorreu uma diminuição na atividade, apesar de não ter sido eliminada a colônia. Isto pode ter ocorrido por erro experimental, quando da aplicação ou na elaboração da formulação do produto. Por outro lado, o controle parcial ocorreu somente na maior concentração de imidacloprid aplicado sem o patógeno (tratamento 7) em uma das repetições avaliadas aos 46 dias. Entretanto, todos os tratamentos de controle associado diferiram daqueles onde se utilizou somente o estressor ou o patógeno. Com exceção do tratamento 6, no qual ocorreu a morte de uma colônia, sem observação de conidiogênese, o fungo isento do estressor também não controlou os cupins. Deste modo, as concentrações de imidacloprid testadas somente provocaram a morte das colônias quando associadas com o patógeno, caracterizando o efeito sinérgico.

A conidiogênese foi relativamente baixa para a maioria dos tratamentos onde se utilizou a mistura, com exceção do tratamento 4 (TABELA 3). Convém destacar que, após a morte dos insetos, provavelmente ocorre uma alteração nas condições de temperatura e umidade internas da colônia, passando esta a ser mais influenciada pela temperatura e umidade externas ou do ambiente. Fernandes (1991) observou que para B. bassiana a conidiogênese foi maior sobre os cadáveres com o aumento da pluviosidade, confirmando que a umidade externa influencia a umidade no interior do ninho após a morte da colônia. Também pela baixa concentração de inóculo utilizada, pode ter ocorrido um aumento no período de colonização do inseto, tornando o patógeno mais exposto à ação de competidores e antagonistas, além das condições de temperatura e umidade.

Para o quarto experimento observou-se, com relação à eficiência de controle e à conidiogênese, que o tratamento 1 (1,9 mg de imidacloprid mais 500 mg de conídios de M. anisopliae - isolado 1037) foi o melhor, controlando 100% das colônias com uma conidiogênese média de aproximadamente 70% (TABELA 4). O tratamento 3, utilizando as mesmas concentrações, mas com conídios de B. bassiana, causou um nível médio de controle de 50% e uma menor média de conidiogênese (22,5%) (TABELA 4). Os outros tratamentos sem a mistura (tratamentos 5, 6, 7, 8 e 9) não controlaram os ninhos e foram significativamente inferiores aos tratamentos de controle associado, com exceção do tratamento 3 onde a mortalidade foi estatisticamente igual. Assim, pode-se inferir que o fungo M. anisopliae é mais eficiente no controle associado, provocando maior mortalidade nas colônias de C. cumulans, nas concentrações de 500 mg de conídios e 1,9 mg de imidacloprid. Com relação às menores concentrações de conídios (tratamentos 2 e 4), tanto para M. anisopliae como para B. bassiana os níveis de eficiência de controle foram similares (75%) ocorrendo, entretanto, uma maior média de conidiogênese quando se utilizou B. bassiana (47,5%).

Estes resultados caracterizam de forma bastante evidente que as concentrações do patógeno e do estressor onde o sinergismo mostrou-se mais eficiente, no controle de C. cumulans, foram 500 mg de conídios de M. anisopliae (isolado 1037) e 1,9 mg de imidacloprid.

Uma análise conjunta dos resultados observados nos três experimentos onde se utilizou o inseticida imidacloprid com e sem o patógeno mostrou que foi obtido um controle de 100 % dos ninhos de C. cumulans com concentrações de 300 e 7,5 mg do inseticida, aplicado juntamente com o inerte calcene. Dessa maneira, uma redução de 40 vezes na máxima concentração recomendada para o controle de ninhos de C. cumulans mostrou-se ainda efetiva. Quando em associação com os conídios de M. anisopliae a eficiência de controle foi de 100 % até à concentração de 1,9 mg de imidacloprid obtendo-se uma redução de aproximadamente 157 vezes na maior concentração de imidacloprid recomendada. Para as concentrações de conídios ocorreu uma redução de 8 vezes, de 2 g para 250 mg, quando aplicados juntamente com o estressor. Portanto, o custo do controle foi reduzido significativamente com grandes benefícios ecológicos pelo emprego de reduzidas quantidades de inseticida. Assim, a associação patógeno/estressor mostrou-se como alternativa para o aumento da eficiência de controle de ninhos grandes de C. cumulans. Entretanto, este estudo teve caráter exploratório, com a finalidade de delimitar as faixas de otimização do sinergismo, havendo a necessidade de novos testes a campo para a confirmação e ajuste dos resultados aqui obtidos.

 

CONCLUSÕES

  • Ocorre uma ação sinérgica entre os fungos entomopatogênicos M. anisopliae e B. bassiana quando aplicados em associação com o estressor imidacloprid em concentrações subletais.
  • Esta ação sinérgica mostra-se otimizada para as concentrações de 500 mg de conídios dos dois patógenos e 1,9 mg do produto comercial Gaucho 70 PM misturados a 6 gramas do inerte calcene.
  • A ação sinérgica do fungo e do estressor possibilitam reduzir as concentrações de conídios em até 8 vezes e as de inseticida em até 157 vezes.
  • O controle associado tem benefícios econômicos e ecológicos devendo ser utilizado como uma alternativa importante na eliminação das colônias de C. cumulans.

 

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Pedro Janeiro Neves (2)*; Sérgio Batista Alves (3)
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