Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

Conservação e germinação de sementes e desenvolvimento de plântulas da pereira porta-enxerto Taiwan (página 2)

W. Barbosa

INTRODUÇÃO

Na formação de mudas de pereira, os porta-enxertos podem ser obtidos através de estacas ou de sementes de clones de espécies afins. Atualmente, há grande interesse pela utilização de sementes de peras rústicas orientais, mais tolerantes a doenças, pragas e ambientes adversos, como as espécies Pyrus calleryana Decaisne e P. betulaefolia Bunge. No entanto, nas condições brasileiras, pouco se conhece experimentalmente a respeito das características germinativas de suas sementes, além do próprio desenvolvimento das plântulas até a fase de enxertia.

Das cerca de trinta espécies conhecidas de pereira, a P. calleryana Decne., natural do sul e do leste da China, se constitui em porta-enxerto dos mais adaptados ao clima subtropical-tropical. Suas sementes podem mostrar germinação acima de 90%, em cerca de trinta e dois dias de estratificação, sob frio-úmido de 5ºC. Nestas condições, a pêra européia (P. communis L.), por exemplo, demora praticamente três meses para obter tal índice de germinação (Westwood & Bjornstad, 1968; Shen, 1980; Shen et al., 1994). Na literatura frutícola, não foram encontrados dados sobre a conservação de sementes de clones P. calleryana Decne., nem tão pouco sobre o desenvolvimento de suas plântulas para fins de formação de porta-enxertos. Sabe-se, apenas, que as sementes de cultivares de P. communis L. mantêm-se viáveis por dois a três anos sob condições comuns de armazenagem (Crocker & Barton, 1931; Westwood, 1978). Em marmeleiro, outra frutífera pomoidea, sementes de diversos cultivares conservam-se bem por vinte e quatro meses, em ambiente frio entre 5 e 10ºC, acondicionadas em sacos plásticos. Entretanto, quando armazenadas em sacos de papel, mesmo a baixas temperaturas, o poder germinativo das sementes diminui acentuadamente. Tal efeito é atribuído à maior absorção de umidade pelas sementes, afetando a sua viabilidade (Campo Dall'Orto, 1982). As pesquisas demonstram que o teor de umidade, a temperatura e a tensão de oxigênio, quando baixos, aumentam a longevidade das sementes durante o armazenamento (Barton, 1961); decrescendo qualquer destes fatores, já se consegue melhorar razoavelmente a longevidade das sementes (Roberts, 1973). Sementes de características bem distintas, como da nêspera e uva, conservam-se melhor quando mantidas em frascos de vidro fechados e a baixa temperatura (Zink & Ojima, 1965; Maeda, 1982).

Objetivando obter conhecimentos sobre a conservação e a germinação de sementes e a emergência e o desenvolvimento de plântulas de P.calleryana Decne., pesquisou-se o comportamento de Taiwan Nashi-C, clone que, preliminarmente, vem mostrando ser bem rústico e excelente porta-enxerto para pereiras diversas (Barbosa et al., 1994).

MATERIAL E MÉTODOS

As sementes de Taiwan Nashi-C foram extraídas de frutos maduros, provenientes de plantas de polinização livre, cultivadas na Estação Experimental de Jundiaí, do IAC. Após lavadas e secas a sombra por três dias, em ambiente de laboratório, as sementes foram tratadas com o fungicida Thiran. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, composto de onze tratamentos e cinco repetições de vinte sementes cada. As sementes de cada tratamento, com 12% de umidade, foram acondicionadas em frascos de vidro fechados com tampa plástica e mantidas em refrigerador comum, sob temperaturas entre 5 e 10ºC. Estratificaram-se, então, trimestralmente as sementes dos tratamentos 1 a 11, correspondendo de zero a 30 meses de conservação respectivamente. As sementes ficaram acomodadas entre duas camadas de algodão levemente umedecidas, em placas de Petri, sob temperatura constante de 5ºC. Entre 40 e 60 dias de estratificação, as sementes com cerca de 5mm da radícula, eram retiradas das placas de Petri e semeadas em bandejas de isopor com substrato próprio, sob ambiente de ripado, onde se controlava a emergência das plântulas.

No controle do desenvolvimento vegetativo, empregou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, composto de seis grupos de 50 plântulas cada. Todo o material foi mantido a céu aberto, em sacos plásticos sanfonados contendo cinco litros de terra previamente preparada. As medições bimensais de altura e diâmetro das 300 plântulas de Taiwan Nashi-C, que se iniciaram em agosto e outubro de 1992, após dois e quatro meses da emergência, respectivamente, persistiram até o 12º mês de desenvolvimento. Efetuou-se análise da variância aos dados de germinação das sementes e emergência das plântulas, além da altura e diâmentro dos caules, comparando-se as médias pelo teste de Tukey (5%).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes de Taiwan Nashi-C, mantidas sob baixas temperaturas e acondicionadas em frascos de vidro fechados, mostraram alto poder de conservação, principalmente, nos primeiros doze meses do experimento. Nos tratamentos 1 a 4, correspondendo de zero a nove meses de armazenamento, respectivamente, ocorreu 100% de germinação. Verificou-se leve diminuição da germinação somente no 12o mês de armazenagem, mesmo assim, apresentando índices de 97%. Níveis de germinação de 94, 83 e 76% foram verificados ao término do 18o, 24o e 30o mês de armazenamento - tratamentos 7, 9 e 11 respectivamente (TABELA 1).

O período de germinação, durante a estratificação, foi influenciado pelo tempo de armazenamento das sementes. Verificou-se tendência de maior velocidade na germinação de sementes que possuiam poucos meses de armazenamento. Nesses tratamentos a germinação, ocorria próximo aos 35 dias de estratificação, com emissão mais rápida da radícula, em ambiente de 5oC. Posteriormente ao 12o mês de armazenamento, a germinação foi se tornando mais lenta, demorando acima de 50 dias para o início da emissão da radícula. Esse decréscimo de vigor das sementes, provavelmente, deve ter afetado, também, a emergência das plântulas. Em ambiente de ripado, a emergência baixo de 89% no 12º mês para 76 e 70% no 24º e 30º mês de armazenamento (TABELA 1); índices estes ainda aceitáveis em se tratando de frutífera de clima temperado cultivada em zona subtropical-tropical. Segundo a literatura, a idade das sementes exerce bastante influência no seu comportamento fisiológico, a exemplo da sensibilidade às temperaturas de germinação ou à duração da endodormência (Piggin et al., 1973; Cseresnyes, 1979). Além da idade, a maturidade e o próprio modo de manejo dos frutos pode, também, interferir na longevidade e na germinação das sementes e na emergência das plântulas, fato esse verificado em uva e em maçãs, caquís e pêssegos subtropicais (Maeda, 1982; Campo Dall'Oto et al., 1978; Ojima et al., 1976). Sementes mucilaginosas, como de marmelo, podem perder rapidamente a viabilidade se forem deixadas, por certo tempo, no interior de frutos amadurecidos. Os envoltórios naturais das sementes deterioram-se rapidamente, baixando drasticamente o poder germinativo e a emergência das plântulas (Campo Dall'Orto, 1982). No presente trabalho, com as sementes de Taiwan Nashi-C, esses fatores devem, ter sido insignificantes, pois as mesmas foram obtidas de frutos maduros e saudáveis, submetidas a várias lavagens e secas a sombra por três dias para diminuição de umidade. A perda gradual do potencial germinativo, portanto, deve ter ocorrido em função de outros fatores intrínsicos do próprio material ou do ambiente de armazenagem.

As plântulas de Taiwan Nashi-C emergiram após sete-dez dias da semeadura e se apresentaram extremamente rústicas e com desenvolvimento bem rápido. Mantidas por trinta dias dentro de ripado com 50% de luminosidade e, posteriormente, por onze meses a céu aberto, as plântulas mostraram crescimento vegetativo dos mais satisfatórios, atingindo em média 141,5cm de altura e 11,9mm de diâmetro (TABELA 2). O ponto de enxertia foi atingido por 65% dos porta-enxertos aos oito meses de desenvolvimento, os quais apresentaram diâmetro médio de 10,4mm. Essa certa heterogeneidade no desenvolvimento de indivíduos provenientes de sementes, constitui-se em efeito genético bastante comum em populações de frutíferas (Masseron, 1989). Aliás, a pequena variabilidade genética, em populações de cultivares porta-enxertos, é um fator extremamente considerado e desejado pelos viveiristas frutícolas. A esse respeito, verificou-se que cerca de 20% dos porta-enxertos de Taiwan Nashi-C se apresentaram com aparência arbustiva e ananicante, características impróprias ao futuro desenvolvimento normal das mudas enxertadas. Para formação de mudas sadias e vigorosas de pereira com base em porta-enxertos de Taiwan Nashi-C, convém que estes atingem, pelo menos, diâmetro ao redor de 10mm e altura de 100cm, após oito-dez meses da emergência. Barbosa et al. (1996), ao experimentarem a enxertia em plântulas deste material, com diâmetros de caule entre 4 e 12mm, verificaram adequado comportamento fitotécnico das copas quando os porta-enxertos mediam acima de 8mm.

Os dados deste trabalho permitem estimar que, partindo de 1000 sementes frescas de Taiwan Nashi-C (35 gramas) e descontando as perdas naturais nas fases de germinação e emergência, além das plântulas anormais, cerca de 550 porta-enxertos vigorosos podem ser aproveitados aos dez meses de desenvolvimento. Com base no ritmo de desenvolvimento apresentado pelas plântulas de Taiwan Nashi-C, pode se definir, ainda, as várias épocas de estratificação das sementes, compatibilizando-as com os melhores períodos de execução das enxertias, seja por garfagem ou borbulhia.

CONCLUSÕES

- Sementes de Taiwan Nashi-C com 12% de umidade conservam-se adequadamente, sob ambiente frio entre 5 e 10oC, em frascos de vidro fechados por dezoito meses, quando proporcionam germinação de 94%.

- A emergência das plântulas, em ambiente de ripado, mantem-se a níveis viáveis de 81% até o 18o mês de armazenamento das sementes.

- Cerca de 65% dos porta-enxertos de Taiwan Nashi-C atingem ponto de enxertia aos oito meses de desenvolvimento, com diâmetro de 10,4mm.

- Aproximadamente 20% da população de Taiwan Nashi-C se apresentam anormais, com segregação genética indesejável para fins de formação de mudas vigorosas de pereira.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos Técnicos de Apoio MEIRE CORREIA DA SILVA FERRARI, MARCILENE DE MORAES, ANTONIO CARLOS DE CARVALHO E ROGÉRIO DA SILVA LEONE o preparo e estratificação das sementes, semeadura e o controle dos dados do experimento em laboratório e ripado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BARBOSA, W.; CAMPO DALL'ORTO, F.A.; OJIMA, M.; MARTINS, F.P.; CASTRO, J.L. Desenvolvimento de cultivares e espécies de pereira enxertados no porta-enxerto Taiwan Nashi-C na fase de formação de mudas. Bragantia, v.55, n.2, p.341-345, 1996.
  • BARBOSA, W.; OJIMA, M.; CAMPO DALL'ORTO, F.A.; KALIL, G.P.C.; MARTINS, F.P.; CASTRO, J.L. Diâmetro do porta-enxerto Taiwan Nashi-C no desenvolvimento de mudas da pereira Okussankichi. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 13., Salvador, 1994. Anais. Cruz das Almas: Sociedade Brasileira de Fruticultura, 1994. p.859-860.
  • BARTON, L.V. Seed preservation and longevity. New York: Interscience, 1961. 216p.
  • CAMPO DALL'ORTO, F.A. Marmeleiro(Cydonia oblonga Mill.): propagação seminífera, citogenética e radiossensitividade - bases ao melhoramento genético e á obtenção de porta-enxertos. Piracicaba, 1982. 161p. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiróz", Universidade de São Paulo.
  • CAMPO DALL'ORTO, F.A.; OJIMA, M.; RIGITANO, O.; SCARANARI, H.J.; MARTINS, F.P. Estudos de germinação de sementes de maçã. Bragantia, v.37, p.83-91, 1978.
  • CROCKER, W.; BARTON, L.V. After-ripening, germination and storage of certain rosaceous seeds. New York: Boyce Thompson Institute for Plant Research, 1931. 404p.
  • CSERESNYES, Z. Studies on the duration of dormancy and methods of determining the germination of dormant seeds of Melianthus annuus. Seed Science & Technology. v.7, p.179-188, 1979.
  • MAEDA, J.A. Germinação e dormência de sementes de Vitis vinifera. Campinas, 1982. 124p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas.
  • MASSERON, A. Les porte-greffe pommier, poirier et nashi. Paris: Centre Technique Interprofessionnel des Fruits ef Légumes, 1989. 297p.
  • OJIMA, M.; CAMPO DALL'ORTO, F.A.; RIGITANO, O. Germinação de sementes de caqui. Campinas: Instituto Agronômico, 1978. 13p. (Boletim Técnico, 5l)
  • OJIMA, M.; CAMPO DALL'ORTO, F.A.; RIGITANO, O.; IGUE, T. Sementes de pêssego. Campinas: Instituto Agronômico, 1976. 7p. (Circular, 48).
  • PIGGIN, C.McE.; HALLETT, M.L.; SMITH, D.F. The germination response of seed of some annual pasture plants to alternating temperature. Seed Science & Technology, v.1, p.739-748, 1973.
  • ROBERTS, E.H. Predicting the storage of seeds. Seed Science & Technology, v.1, p.499-514, 1973.
  • SHEN, T. Pears in China. HortScience, v.15, n.1, p.13-17, 1980.
  • SHEN. D.; LIN, B.; CHEN, D. Recent advances in chinese pear breeding and genetics in China. Acta Horticulturae, v.364, p.46-54, 1994.
  • WESTWOOD, M.N. Temperate zone pomology. San Francisco: W.H. Freeman, 1978. 428p.
  • WESTWOOD, M.N.; BJORNSTAD, H.O. Chilling requirements of dormant seeds of 14 pear species as related to their climatic adaptation. Proceedings of the American Society for Horticultural Science, v.92, p.141-149, 1968.
  • ZINK, E.; OJIMA, M. Influência das condições de armazenamento no poder germinativo das sementes de nêspera. Bragantia, v.24, p.19-22, 1965.

W. Barbosa (2, 4); F. A. C. Dall'orto (2, 4); M. Ojima (2, 4); M. C. S. S. Novo (2); J. A. Betti (2); F. P. Martins (3)
wbarbosa[arroba]iac.sp.gov.br

1. Pesquisa integrante dos projetos IAC: "Manutenção de germoplasma de fruteiras de clima temperado" e "Pereira: melhoramento genético e cultural".
2. Fruticultura de Clima Temperado-IAC, C.P. 28, CEP: 13001-970 - Campinas, SP.
3. Estação Experimental de Jundiaí-IAC, C.P. 11, CEP: 13200-970 - Jundiaí, SP.
4. Bolsista do CNPq.

 



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.