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O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita da Universidade Federal de Santa Maria. Os frutos foram colhidos em um pomar comercial da empresa Agropecuária Schio de Vacaria, RS. No Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita, os mesmos foram selecionados e divididos em dois estádios de maturação (verde e maduro), levando-se em consideração a coloração de fundo da epiderme. As amostras experimentais foram homogeneizadas antes do armazenamento. Os tratamentos originaram-se da combinação de dois fatores (condições de armazenamento e estádio de maturação), sendo o delineamento experimental utilizado o inteiramente casualizado com quatro repetições contendo 20 frutos cada.
As condições de armazenamento avaliadas, para ambos os estádios de maturação, foram: 1,5kPa de O2 + 1,0kPa de CO2; 1,5kPa de O2 + 2,0kPa de CO2; 1,0kPa de O2 + 1,0kPa de CO2; 1,0kPa de O2 + <0,5kPa de CO2; e o armazenamento refrigerado a +0,5ºC e a combinação de 1,5kPa de O2 + 1,0kPa de CO2 com a temperatura de -0,5ºC. O emprego da combinação 1,5kPa de O2 + 1,0kPa de CO2 em duas temperaturas foi devido a esta condição, segundo a pouca literatura existente, ser a mais adequada para o armazenamento desta cultivar, sendo importante avaliá-la em diferentes temperaturas. As amostras foram armazenadas em minicâmaras experimentais de atmosfera controlada de 233 litros, as quais foram conectadas, por tubulações plásticas, a um equipamento de controle automático das pressões parciais de CO2 e O2, marca Kronenberger Sistemtechnik. As pressões parciais de O2, referentes a cada tratamento, foram obtidas pela injeção, nas minicâmaras, do gás nitrogênio proveniente de um gerador, que utiliza o princípio "Pressure Swing Adsorption" (PSA). Os níveis de CO2 foram obtidos mediante a injeção deste gás puro, a partir de cilindros de alta pressão. O equipamento de controle automático realizava medições diárias das pressões parciais de gases nas minicâmaras e manteve os níveis prestabelecidos no início dos experimentos.
A temperatura das câmaras frigoríficas foi controlada automaticamente por termostatos de alta precisão (±0,1ºC), sendo monitorada diariamente através de termômetros de mercúrio introduzidos na polpa de frutos. Depois de transcorridos nove meses de armazenamento, seguido de um dia de acondicionamento dos frutos a 20ºC, os parâmetros produção de etileno, respiração (expressa pela produção de CO2) e ocorrência de podridões foram analisados. Após sete dias da permanência dos frutos a 20°C, foram avaliados os demais parâmetros, inclusive a produção de etileno, respiração (expressa pela produção de CO2) e ocorrência de podridões.
Os parâmetros analisados foram: firmeza de polpa, determinada através de um penetrômetro, com ponteira de 11mm de diâmetro, nos dois lados dos frutos (colorido e verde), na região equatorial, onde previamente foi retirada a epiderme; cor de fundo da epiderme, determinada com um colorímetro, marca Minolta, pelo sistema tridimensional de cores CIE L*a*b*, onde, a* representa as cores do verde ao vermelho e b* representa as cores do azul ao amarelo. Os resultados foram expressos pelo somatório do valor de a* e b*; acidez titulável, determinada através da titulação, até pH 8,1, de uma solução contendo 10mL de suco diluídos em 100mL de água destilada. Os resultados foram expressos em meq 100mL-1; sólidos solúveis totais, determinados por refratometria, sendo os valores expressos em graus Brix com correção da temperatura ambiente; incidência de podridões, expressa em porcentagem de frutos podres, sendo que foram considerados podres os frutos que apresentavam lesões características de ataque de fungos e superiores a 5mm de diâmetro; degenerescência senescente e com cavernas, expressos em porcentagem de frutos que apresentavam sintomas característicos na polpa; suculência, determinada através da prensagem de uma amostra de aproximadamente 20g de polpa, dos frutos de cada unidade experimental, em uma prensa experimental construída no Núcleo de Pesquisa em Pós-Colheita com 15Kgf cm-2. Subtraindo-se o peso de polpa prensada, do peso inicial da amostra, foi obtido o peso de suco extraído. Posteriormente, foi calculada a porcentagem de suco na polpa.
Os dados expressos em porcentagem foram transformados pela fórmula antes de serem submetidos, junto com os demais, à análise da variância. Para a comparação das médias, adotou-se o teste de Duncan em nível de 5% de probabilidade de erro.
Após nove meses de armazenamento, não foi observada interação entre os fatores condições de armazenamento e estádios de maturação (Tabelas 1, 2, 3 e 4). A cor da epiderme é um dos parâmetros de qualidade mais usados pelos consumidores para auxiliar na avaliação da qualidade e maturação de maçãs. A cor de fundo da epiderme dos frutos da cultivar Pink Lady, armazenada em atmosfera controlada, não apresentou diferença estatística entre as condições de atmosfera controlada, com exceção dos frutos mantidos em armazenamento refrigerado, os quais apresentaram coloração mais amarela, por estarem mais maduros que os frutos armazenados em atmosfera controlada (Tabela 1).
A atmosfera controlada proporcionou frutos com maior firmeza de polpa e acidez titulável em relação ao armazenamento refrigerado, porém não houve diferença estatística entre os tratamentos de atmosfera controlada (Tabela 1). Esse efeito da atmosfera controlada sobre a firmeza de polpa e acidez em maçãs é devido à redução da respiração e à menor degradação das pectinas da parede celular (BRACKMANN & WACLAWOVSKY, 2000). A manutenção da acidez mais elevada em atmosfera controlada deve-se, principalmente, quando em baixo O2, à inibição da atividade da enzima málica (HULME & RHODES, 1971). Altas pressões parciais de CO2 apresentam efeito sobre a oxidação do malato (SHIPWAY & BRAMLAGE, 1973) e/ou sobre a inibição de enzimas do ciclo dos ácidos tricarboxílicos (ciclo de Krebs) (MONNING, 1983) e algumas enzimas glicolíticas (KADER, 1989). Entre as condições de atmosfera controlada avaliadas, verificaram-se pequenas diferenças entre os frutos em relação à firmeza de polpa e acidez titulável.
Os níveis de sólidos solúveis totais em maçãs ‘Pink Lady’ armazenadas em atmosfera controlada e expostas durante sete dias a 20°C foram superiores aos frutos submetidos ao armazenamento refrigerado, não ocorrendo diferença estatística entre os tratamentos de atmosfera controlada (Tabela 2). Normalmente não são percebidas grandes alterações nos sólidos solúveis totais durante o armazenamento em atmosfera controlada, pois os açúcares são substratos da respiração, cujo início de utilização ocorre somente depois de acentuado consumo de ácidos orgânicos (BRACKMANN & SAQUET, 1995). Também deve ser evidenciado que a concentração de açúcares de um fruto é mais influenciada pelas condições de nutrição na planta do que pelas condições de armazenamento.
A ocorrência de podridões nos frutos na saída da câmara (Tabela 2) foi estatisticamente igual entre os tratamentos, com exceção do armazenamento refrigerado, confirmando os resultados de BRACKMANN & SAQUET (1999). Após sete dias de exposição a 20ºC, os frutos armazenados em atmosfera refrigerada apresentaram maior ocorrência de podridão, seguido do tratamento com 1,0kPa de O2 + 1,0kPa de CO2, não diferindo do tratamento com 1,0kPa de O2 + <0,5kPa de CO2 (Tabela 2).
A suculência foi maior nos frutos dos tratamentos com pressões parciais de 1,5kPa de O2 + 1,0kPa de CO2; 1,5kPa de O2 + 2,0kPa de CO2 e 1,0kPa de O2 + 1,0kPa de CO2 na temperatura de +0,5°C (Tabela 3). Em maçãs ‘Gala’, maior suculência foi obtida com o uso de pressões parciais de 1,0kPa de O2 + 2,0kPa de CO2 e 0,8kPa de O2 + 2,0kPa de CO2, além de ter sido observada uma relação direta entre a manutenção da firmeza da polpa e a suculência em maçãs (LUNARDI, 2003).
A ocorrência de degenerescência senescente foi maior nos frutos submetidos ao armazenamento refrigerado e às pressões parciais 1,0kPa de O2 + 1,0kPa de CO2 e 1,0kPa de O2 + <0,5kPa de CO2, o que pode ser decorrente da maturação avançada desses frutos (Tabela 3). ELGAR et al. (1999) e WATKINS (1996) consideram que a degenerescência da maçã cv. Braeburn está associada com o armazenamento em atmosfera controlada. No entanto, há maior ocorrência desse distúrbio em atmosfera refrigerada na cultivar Braeburn (BRACKMANN & WACLAWOVSKY, 2000). Os frutos submetidos às pressões parciais de CO2 inferiores a 0,5kPa apresentaram elevada ocorrência de degenerescência, contrariando KNEE (1973), que afirma que altas concentrações de CO2 atuam sobre enzimas do metabolismo respiratório, tais como a succinato desidrogenase, conduzindo a uma acumulação de succinato nas células, que causaria o escurecimento da polpa.
A produção de etileno foi estatisticamente igual em todos os tratamentos de atmosfera controlada, logo após a retirada dos frutos das câmaras (Tabela 4). No entanto, após sete dias de climatização dos frutos a 20°C, houve uma menor produção de etileno pelos frutos do tratamento com baixo CO2, embora não diferindo estatisticamente do tratamento com 2kPa de CO2. As enzimas envolvidas da biosíntese de etileno, ACC oxidase e ACC sintase, são influenciadas de forma diferenciada pelas concentrações de O2 e CO2. ACC oxidase tem sua atividade diminuída em baixas concentrações de O2, visto que realiza uma reação de oxidação e necessita deste elemento para a produção de etileno a partir do ACC. A ACC sintase pode ser afetada tanto pela baixa concentração de O2, quanto pelo CO2 da atmosfera controlada. Sendo assim, existe um efeito acumulado do baixo O2 e também do CO2, usados na atmosfera controlada, sobre a atividade destas enzimas (SAQUET, 2001).
A respiração dos frutos apresentou um comportamento similar ao do etileno. Logo na abertura das câmaras, a atividade respiratória foi menor nos frutos armazenados em atmosfera controlada, em especial, nas pressões parciais de 1,0kPa de O2 + 2,0kPa de CO2 e 1,0kPa de O2 + <0,5kPa de CO2 (Tabela 4). Após sete dias de climatização dos frutos a 20ºC, foi observado um aumento na evolução da respiração em todos os tratamentos. Entretanto, os menores valores foram observados nos tratamentos de atmosfera controlada com 1,0kPa de O2 + 1,0kPa de CO2 e 1,0kPa de O2 + <0,5kPa de CO2 (Tabela 4). O efeito da atmosfera controlada sobre a respiração celular localiza-se, basicamente, sobre enzimas do ciclo de Krebs, bem como sobre enzimas glicolíticas. Tanto as baixas concentrações de O2, bem como as concentrações de CO2 usadas na atmosfera controlada, diminuem a atividade de várias enzimas destas rotas metabólicas (SAQUET, 2001).
A atmosfera controlada melhora a conservação da qualidade da maçã ‘Pink Lady’ e aumenta o período de armazenamento. As condições avaliadas, com exceção da atmosfera refrigerada, mantiveram conservada a qualidade da maçã cv. Pink Lady. As temperaturas de +0,5ºC e –0,5ºC, testadas em atmosfera controlada, se equivalem, ocorrendo apenas uma diminuição da suculência com a redução da temperatura.
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Auri BrackmannI; Affonso José Wietzke GuarientiII; Adriano Arriel SaquetIII; Ricardo Fabiano Hettwer GiehlIV; Ivan SestariV - brackmann[arroba]ccr.ufsm.br
IEngenheiro Agrônomo, Doutor, Professor do Departamento de Fitotecnia, Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: brackman[arroba]ccr.ufsm.br IIAcadêmico do curso de Agronomia, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. E-mail: affonsoguarienti[arroba]bol.com.br IIIEngenheiro Agrônomo, Doutor, Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Vicente do Sul, Brasil. E-mail: adrianosaquet[arroba]hotmail.com IVAcadêmico do curso de Agronomia, bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Brasil. E-mail: hetgiehl[arroba]yahoo.com.br VEngenheiro Agrônomo, Aluno do Programa de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil. E-mail: isestari[arroba]yahoo.com.br
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