Coragem para mudar

Indice
1. Introdução
2. Fundamentando a reflexão...
3. Propondo uma mudança
4. Conclusão
5. Bibliografia

1. Introdução

"Uma das condições fundamentais é tornar possível o que parece não ser possível. A gente tem de lutar para tornar possível o que ainda não é possível. Isto faz parte da tarefa histórica de redesenhar e reconstruir o mundo."(Paulo Freire)
O homem caracteriza-se pelo fato de poder aprender e ter de ser educado, pois é um ser em desenvolvimento e a educação é um dos elementos que gera a sua evolução. Desta forma, é preciso repensar as problemáticas educacionais à luz das novas descobertas científicas e das mudanças sociais. É preciso recriar a educação, repensando a reforma que foi proposta pela nova legislação, de forma que possamos estabelecer de fato uma nova escola. Para isso, se faz necessário reformar o próprio pensamento acerca dos currículos mínimos que devem ser ministrados para educar jovens e adultos que voltaram às salas de aulas, mas que as freqüentam em condições diferentes e especiais com relação ao ensino regular. Visamos com este trabalho de reflexão tentar enfrentar um dos principais problemas da educação de jovens e adultos do Brasil, que passa por um déficit tanto quantitativo quanto qualitativo. Acreditamos que o último implica o primeiro, daí procurarmos elaborar e fundamentar uma real mudança que seja capaz de dar sentido e coerência a este setor da educação.

"Não se pode educar sem ao mesmo tempo ensinar; uma educação sem aprendizagem é vazia e portanto degenera, com muita facilidade, em retórica moral e emocional."

Este trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla na área da Educação. Vamos abordar aqui um dos problemas que conseguimos detectar na Educação brasileira, em especial, na educação de jovens e adultos, no segmento referente ao ensino médio. Não trataremos aqui do segmento fundamental, por considerar que já existem diversos trabalhos sérios, que visam tentar resolver os problemas acerca da alfabetização e da continuidade deste processo nos jovens e adultos trabalhadores.
O segmento que analisamos diz respeito a segunda etapa deste processo de continuidade da educação básica do indivíduo que intenta inseri-lo na sociedade como cidadão participante e integrado ao seu mundo, consciente das novas descobertas científicas e tecnológicas.
A partir da nova legislação da Educação, que distingue e determina parâmetros para este setor educacional, foi-nos possível observar que, para o ensino médio regular e o profissionalizante, a lei é bastante explícita e expõe as diretrizes e as bases de estruturação desta parte da Educação Básica. Entretanto, quanto a Educação de Jovens e adultos é bastante vaga, deixando que cada estabelecimento determine suas próprias diretrizes. Não que ela deva ser regulada uniformemente pelo estado, mas que se crie bases mais forte e coesas para sua prática. Consideramos que não basta apenas tomarmos emprestado os parâmetros para o ensino médio regular, visto que a diferença na quantidade de horas já torna inviável esta ação. Entretanto, o que observamos na prática educacional, é que o currículo do ensino médio regular foi reduzido para uma pequena parte e totalmente aplicado a educação de jovens e adultos. A primeira pergunta que se faz é óbvia: que tipo de ensino, ou melhor, que qualidade de ensino podemos esperar de uma educação que toma o conteúdo de três anos e espreme em três semestres apenas? Esta questão é um dos principais problemas que nos levou a pensar em uma mudança nos currículos para a Educação de jovens e adultos.

Ë preciso ainda que se diga que o próprio currículo do ensino médio não atende as reais necessidades da população discente, no que diz respeito aos parâmetros assinalados, não só na nova LDB 9394/96, como nos pareceres seguintes e na resolução nº 3 de 26 de julho de 1998, e, novamente, os princípios e bases permanecem apenas inscritos na lei.

Assim sendo, tomamos como apoio as reflexões de alguns dos nossos grandes educadores junto às reflexões de pensadores contemporâneos, que também se debruçam sobre o problema da educação, e nos propomos a pensar duas questões fundamentais da EJA, quais sejam: o problema da exclusão e o problema da qualidade de ensino.
Sabemos que a exclusão da escola básica data da colonização no Brasil. A primeira idéia de educação surgiu com a colonização e visava apenas moldar, adequar, enfim, catequizar e ficou a cargo dos jesuítas, que vieram ao Brasil com a finalidade de "educar" o povo indígena, incutido-lhes a cultura portuguesa da época. Politicamente, podemos afirmar, então, que sempre ocorreu um movimento de exclusão relacionado ao movimento de expansão no país. "A expansão se sustenta no modelo de exclusão e esse modelo de exclusão leva à política educacional excludente."
Temos que pensar, ainda, que a exclusão educacional não é apenas deixar um grande número de jovens adolescentes e adultos fora da escola, nem mesmo que resolveremos este problema quantitativo, incentivando a matricula e "diplomando"estes alunos, para que , estatisticamente, o Brasil possa ser visto como um país que tem resolvido o problema da exclusão das salas de aula no ensino médio. Pior que esta exclusão, que não se resolve assim tão facilmente, é a exclusão do diplomado do mercado de trabalho porque seu diploma não garante o saber ali determinado. Estes são as verdadeiras vítimas do processo de solução política imediatista, baseado numa avaliação quantitativa da educação.
Considerando o panorama da cultura ocidental hoje que é, eminentemente, baseada na escrita, o indivíduo analfabeto ou o chamado analfabeto funcional mantêm-se excluídos não só do mercado de trabalho como de toda a cultura da sociedade em que ele vive. A (boa) leitura é condição sine qua non para a inclusão do indivíduo como cidadão atuante e participante, mas, principalmente, é condição para a aprendizagem com qualidade.

Segundo a professora Emilia Ferreiro,
"pode parecer um pouco esquemático, mas as dificuldades com a matemática são detectadas depois.(...) As dificuldades com a escrita são detectadas muito cedo. Realmente, saber o que acontece com a aprendizagem da leitura é um dado crucial para entender os fenômenos de repetência. O fracasso escolar está centrado na língua escrita e sobre isso há uma evid6encia internacional contundente."
Logo, nossa preocupação com a reformulação dos currículos e conteúdos para a EJA vem de encontro a estas questões mencionadas acima, a fim de tentar contribuir com uma parcela, ainda que pequena, para a reestruturação da educação no Brasil para o século XXI.

2. Fundamentando a reflexão...

Nos últimos 2 anos, de acordo com estatísticas do IBGE, o número de alunos do 1º e 2º grau cresceu substancialmente. Para se analisar esse fato deve se considerar a necessidade que as pessoas tem em estudar e aprender, para poder "sobreviver" no mundo atual, extremamente competitivo, que não mais oferece condições de sobrevivência a quem não possuir instrução. Daí, conclui-se que ainda há muito a se fazer em termos de educação. Pesquisas recentes dizem que 63% dos trabalhadores não têm nem o 1º grau, que dizer o 2º, chamado, atualmente, de ensino médio
Segundo o BID08 os brasileiros que estão entre os 40% mais pobres têm uma escolaridade inferior ao da mesma parcela da população de alguns dos países mais atrasados da África, como Tanzânia, Quênia e Zimbábue. Sabemos, entretanto, que o futuro social e político de cada país depende da revolução educacional. E esta só poderá ocorrer quando o debate sobre o ensino público tiver seu eixo finalmente deslocado para as questões essenciais: como universalizar a educação básica, para que realmente possa beneficiar os segmentos mais desfavorecidos da população, oferecendo-lhes as condições mínimas de sobrevivência e crescimento social., como atender à sociedade nas suas reais necessidades e anseios com relação a formação de seus jovens e como atender aos adultos que querem dar continuidade ao seu processo de desenvolvimento pessoal, tanto quanto a melhoria da sua profissionalização. Portanto, é importante que haja uma preparação deste aluno, tanto para trabalhar com as novas tecnologias de produção, quanto para o exercício da cidadania.
Segundo o filósofo contemporâneo Edgar Morin09, os sete saberes necessários à educação do futuro devem abranger os seguintes tópicos: as cegueiras do conhecimento – suas incertezas, erros e ilusões; os princípios do conhecimento pertinente; ensinar a condição humana – seu caráter único e plural ("o homo complexus"); ensinar a identidade terrena, através da conscientização ecológica; ensinar a enfrentar as incertezas e as imprevisibilidades do momento histórico; ensinar a ética da compreensão, refletindo a partir do etnocentrismo e do sociocentrismo; e por fim, ensinar a ética do gênero humano. Este é o grande desafio de nosso tempo, visto que a educação do futuro exige um esforço transdisciplinar que seja capaz de rejuntar ciência e humanidades e romper com a oposição entre natureza e cultura.

Conforme Charles Hadji, "no que se refere ao ensino, é preciso libertar-se da hipótese política. O verdadeiro problema não é democratizar o ensino, posto que na maioria das sociedades ele já o é, mas em torná-lo mais eficaz" . Com isto o professor deve centrar-se em sua função instrumental e desenvolver as ferramentas cognitivas próprias aos universais. Ele é assim, um mediador entre o sujeito que se desenvolve e seu ambiente, o qual ele estrutura de forma a torna-lo instrutivo. A qualidade do trabalho do professor se mede pela qualidade do trabalho ao qual ele conduz seus alunos e o mais importante, é saber fazer com que estes trabalhem realmente na construção de seus conhecimentos.
Pedro Demo ao tratar da questão da qualidade diz que não se trata de estabelecer entre quantidade e qualidade uma polarização radical e estanque, como se uma fosse a perversão da outra, mas que uma interage com a outra atuando ambas na realidade social. Não podemos pensar no quantitativo educacional, seja ele referente ao número de estabelecimentos de alunos, de alunos matriculados ou de alunos formados, como um dado inferior ou simplesmente materialista, mas por outro lado, não podemos associar a idéia de qualidade a enlevo, espiritualidade, transcendência. Para avançarmos numa real reflexão que tenha conseqüências políticas, sociais e pedagógicas temos que pensar a educação a partir da qualidade formal conjugada a qualidade política. A primeira nos ajuda a pensar os instrumentos e métodos; a outra, as finalidades e os conteúdos.
Conforme mencionamos, temos acompanhado muitos artigos e entrevistas acerca da educação nos vários semanários e diários dos diversos estados brasileiros e todos são unânimes quando falam da exclusão dentro da escola, como um dos problemas mais tocantes no âmbito social. A pergunta que fica é: qual o real motivo desta exclusão? É suficiente mudar os processos de avaliação ou mesmo as didáticas e metodologias de ensino, se o aluno tem que enfrentar um currículo defasado e que pouca utilidade tem em sua vida real?

Não queremos defender aqui a tese do utilitarismo nem do imediatismo na educação, pelo contrário, mas é preciso ser honesto e perceber que um aluno trabalhador, ou de uma comunidade carente, não tem condição nenhuma de estudar os mesmos conteúdos que um aluno do ensino regular, geralmente oriundo da classe média ou alta, em tempo integral e em condições totalmente favoráveis. Por que então continuar com o mesmo currículo, considerando: 1. que o aluno adulto ou trabalhador prepara-se para o mercado ou para se manter no mercado; 2. que este aluno deseja melhorar de vida no sentido sócio-econômico e por isso visa estar apto a realizar os diversos concursos existentes no mercado; 3. que, enquanto trabalhador, este aluno dispõe de tempo reduzido para ampliar ou aprofundar os conceitos apreendidos durante a aula propriamente dita; 4. que, na maioria das vezes, este aluno chega cansado à sala de aula e, ser obrigado a estudar ou estar atento a conteúdos que não lhe dizem respeitos, que pouca utilidade terão concretamente em sua vida, é uma tarefa mais que árdua, é praticamente impossível; 5 que, mesmo quando este aluno pensa em dar continuidade à sua formação, dificilmente pensa em uma faculdade e sim num curso politécnico que lhe capacite de forma mais rápida e eficiente para a atuação no mercado? Considerando todos estes pontos, pensamos que currículo seria essencial a este alunado? Que currículo seria capaz de prepará-lo para a vida prática e imediata e ao mesmo tempo, formá-lo enquanto cidadão no seu exercício pleno de e reflexão crítica político-social?

3. Propondo uma mudança

Com base na nova legislação brasileira, a LDB 9394/96, em especial o artigo 3º, incisos I, IX e XI, o artigo 4º, inciso VII e o artigo 36º , 1º parágrafo propomos uma mudança real e substancial no currículo mínimo da Educação de jovens e adultos, visto que a LDB se eximiu em propor um currículo especial que contemplasse às necessidades deste setor educacional, limitando-se a escrever dois artigos, e, sendo assim, a escola que quiser abraçar esta proposta, não poderá ser criticada, uma vez que há liberdade de proposição garantida na lei.
Nossa reflexão tem como resposta o corte de algumas disciplinas e em algumas outras, o corte de conteúdos, além de uma reformulação na forma como são ministradas estas disciplinas hoje. O nosso novo currículo estabelece duas disciplinas para cada um dos três grupos propostos na legislação, de acordo com o 36º artigo, 1º parágrafo que determina o currículo para o ensino médio, agrupando as disciplinas por finalidades e afinidades, quais sejam:" I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem

domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania."
Para o primeiro grupo, propomos a continuação da Matemática e acrescentaríamos apenas a Ecologia e tecnologias modernas que seriam ministradas pelos docentes das antigas disciplinas (Química, Física e Biologia). Para o segundo grupo, propomos língua portuguesa e uma língua estrangeira moderna - no caso escolhemos o espanhol por fazer jus à política internacional do Brasil junto ao Mercosul (a língua inglesa seria uma disciplina opcional) ; e para o terceiro grupo, incluímos História, Geografia e Filosofia, esta última em tr6es estágios a ser contemplado em cada semestre: Ética, Política e Estética. A princípio, os docentes das disciplinas "cortadas" podem pensar que esta proposta é um absurdo, mas é preciso ser coerente e sincero no que diz respeito a ação educacional. Não adianta continuarmos ministrando conteúdos e disciplinas que nada acrescentam ao aluno jovem e adulto, só para que ele tenha um diploma. A conseqüência mais grave desta atitude coletiva é o estado atual da educação brasileira, as inúmeras queixas de ambos os lados, da deficiência do saber. Não se pode continuar a alimentar a idéia de que o homem do século XXI seja inferior ao dos séculos anteriores, incapaz de aprender, de ler, de interpretar, de criticar, comparar e propor soluções. Se compararmos o nível de leitura de um aluno do antigo ensino primário, da primeira metade do século XX, vamos perceber que o mesmo aluno do ensino fundamental hoje está qualitativamente inferior àquele, e por quê? Hoje, mais do que nunca, na era da informação e com a globalização do mundo ocidental, este aluno deveria estar em melhores condições que o do século passado. O seu acesso à informação, tanto quantitativa quanto qualitativamente, é fácil, democrático e imediato. Portanto, temos que nos perguntar o que faz com que esse aluno não consiga obter os conceitos mínimos e as práticas mais elementares da educação – leitura e cálculo.
Quanto aos conteúdos, seria necessário que se sentasse com um grupo de professores de cada disciplina para que, com toda a sinceridade, eles dissessem o que realmente é básico e fundamental para um jovem e adulto que quer preparar-se para a vida e o mercado atualmente.

Perguntemos: que aluno trabalhador tem necessidade de realizar os cálculos de um movimento retilíneo uniformemente acelerado, ou precisa dos conceitos da periodização da literatura brasileira, ou tem necessidade de calcular que tipo de reação química acontece na mistura de duas substâncias? Até mesmo, para o ensino regular, muitas destas disciplinas só ocupam o tempo do aluno e não refletem a atualidade dos seus próprios conceitos. Esta idéia de educação, herdada da ditadura militar, é tecnicista e visa à especialização. Todavia, sabemos que o mais importante não são os conteúdos específicos de uma disciplina, mas o seu todo, que despertará o interesse do aluno para esta ou aquela área do saber. Defendemos a idéia de que é mais importante que o aluno conheça através de seu professor os problemas científicos e tecnológicos de sua área, no que afetam ou acrescentam à sociedade, do que este tentar ensinar fórmulas, regras, cálculos que pouco uso têm na prática dos alunos. Nossa idéia não é deixar de abordar a formação técnico-científica, nem desvalorizá-la, ao contrário, queremos que a ciência e a tecnologia seja realmente conhecida e debatida em toda a sua atualidade.

Por exemplo, a Ecologia seria abordada em cada semestre sob a ótica de cada uma das disciplinas acima mencionadas, e consideramos ser muito mais importante que o aluno possa participar dos debates acerca da Bioética, da questão da clonagem, dos problemas ambientais e suas soluções, do que ficar decorando problemas e conceitos que nada vão acrescentar a sua formação de fato. Nós colocamos aqui nome para algumas das novas disciplinas apenas como exemplo. Não necessariamente elas deverão ter este nome. O importante é estar aberto a uma real reflexão e ter coragem para mudar.

As disciplinas fundamentais e básicas são realmente a Língua portuguesa e a Matemática. Para esta nova proposta, consideramos que a Literatura, da forma como é ministrada e cobrada dos alunos do ensino médio, é totalmente inadequada à EJA. Com base nos estudos dos professores, pedagogos e lingüistas: Emilia ferreiro, Rosa Maria Torres, Daniel Godin, Roger Chartier, J. Gregoire, Foucambert e outros, concluímos que o ato de aprender a ler (compreender e interpretar) e escrever são fundamentais, mais que isso, são essenciais a todo e qualquer habitante do planeta, visto a complexidade de nossa sociedade estar intimamente relacionada com a língua escrita. Portanto, a literatura é o uso da linguagem escrita no âmbito da estética e o mais importante para o aluno de hoje, jovem e adulto, é que ele seja capaz de ler todo e qualquer texto, compreendendo o seu significado e interpretando os possíveis outros significados e ser capaz de redigir autonomamente, ser realmente capaz de produzir um texto, que reflita suas idéias e reais reflexões críticas acerca da sua leitura do mundo.
Para que isto aconteça adequadamente é preciso tempo, é preciso haver uma dedicação maior neste ponto e deixar outros de somenos. Em educação básica é preciso selecionar, saber escolher o essencial e deixar que o processo naturalmente se cumpra. Leitura, redação e gramática, eis o que realmente é essencial para a formação dos jovens e adultos no tocante à língua materna. A literatura não será descartada, e sim inserida na medida da dificuldade do aluno e poderá ser abordada na disciplina de estética, junto as demais expressões artísticas. O que é mais importante, a leitura de um conto ou que o aluno saiba as características estéticas da escola literária que deu origem àquele texto? Acreditamos que se ele conseguir ler, compreendendo o que está lendo, será um ótimo sinal para que mais tarde ele continue a ler o que lhe interessar.

A verdade é que muitos dos nossos alunos, jovens ou adultos, não estão nem lendo. E não é o preço do livro que faz com que poucos sejam leitores, nem mesmo a linguagem ou a temática, porque neste ponto, o mercado editorial brasileiro é muito rico e diversificado em todos os sentidos. A questão é: nossos alunos não sabem ler! A maioria pode até ser considerada como analfabeto funcional. Onde está o erro? Porque as aulas de português não conseguem formar um cidadão leitor? Qual o sentido das aulas de Literatura para um aluno não leitor? Mesmo que possamos considerar os inúmeros meios de comunicação audiovisuais da nossa sociedade, a era da informação pressupõe leitura e de alto nível, leitura em quantidade e qualidade. O problema não é que o nosso aluno não lê porque prefira computador ou videogames, ou televisão, ou cinema, ou porque não tem tempo, ou porque trabalha muito e chega cansado em casa. Mas é que nosso aluno não desenvolveu adequadamente a leitura e cansa, e não entende o vocabulário, e não percebe os significados das palavras. Estes são alguns dos problemas detectados em vinte anos de magistério no ensino supletivo, com diversas práticas metodológicas. No fim, qualquer uma que se aplicasse, o resultado era o mesmo porque a base não tinha sido construída.
Portanto, se tivermos bem claros os objetivos que queremos alcançar com a Educação básica, sem nos enganarmos nem enganarmos a sociedade, veremos que a maior parte dos conteúdos das disciplinas é completamente obsoleto. É claro que nenhum conhecimento é inútil, mas quando se trata de educar jovens e adultos trabalhadores, temos que nos preocupar com o essencial. Só assim estaremos realmente contribuindo para a formação destas pessoas, visto que, com uma base sólida, a continuidade da educação é estimulada e de certa forma facilitada.

4. Conclusão

"O ensino entre nós é uma forma de negócio; ensinar a pensar, ensinar a pesquisar são antiqualhas, o que importa é dispor de muitas máquinas – nós apreciamos tanto o exemplo americano, mas mostramos que dele só aprendemos o mais superficial."13
Há muitos professores e intelectuais que alimentam uma idéia negativa sobre o futuro da educação, principalmente na educação no Brasil, constatando que os problemas pedagógicos, a globalização e a crescente informatização do conhecimento e da sociedade são fatores irreversíveis que determinam o fim desta instituição. Acreditam que o que prevalece é o modelo da administração eficiente, capaz de gerar seus próprios recursos, estabelecendo nexos cada vez mais profundos com o mercado e a corrida tecnológica. A eficácia de desempenho é medida em termos de sucessos estatísticos, de capitais, produtividade e visibilidade, todos conversíveis em valores de marketing apenas.
Uma das críticas mais veementes que fazemos a Educação básica é o fato dela ter se preocupado com a quantidade, com as estatísticas e com os resultados muito mais do que com a qualidade do ensino . O crescimento absurdo de estabelecimentos privados que distribuem diplomas de ensino médio e a diversificação de cursos paralelos sem valor algum, fizeram com que os princípios básicos da Educação em si se perdessem.
Sabemos que toda mudança, quanto mais radical e substancial for, mais difícil para ser colocada em prática. Sabemos também que mesmo que o Estado regulamente muitos tópicos acerca da educação, o setor privado interessado apenas no lucro, descuidará completamente dos pontos essenciais que fazem um estabelecimento de ensino ser o que é. Por isso, nós os profissionais da educação temos que estar atentos e não participar desta mercantilização do ensino, desta vulgarização da educação brasileira.
É preciso acreditar sim, acreditar no processo, na ação educacional, mas ter coragem para transforma-la quando as circunstâncias o pedem. Temos que partir da intelig6encia do desenvolvimento para o desenvolvimento da inteligência.É preciso acreditar na educação de todos, como Jean-Jacques Rousseau diz: "a regra mais útil de toda a educação é saber perder tempo."14

5. Bibliografia

A . LIVROS:
01. ARENDT, Hanna. Entre o passado e o futuro. SP, Perspectiva, 1972.
02. CHARTIER, Roger. Cultura escrita e história. Porto Alegre, Artmed, 2000.
03. CRAMER & CASTLE. Incentivando o amor pela leitura. Porto Alegre, Artmed, 2001.
04. DEMO, Pedro. Avaliação qualitativa. Campinas, Autores associados, 1999.
05. DOLL JR., W. E. Currículo – uma perspectiva pós-moderna. Porto Alegre, Artmed, 2000.
06. FERREIRO, Emília. Cultura escrita e educação. Porto Alegre, Artmed, 2001.
07. GIMENO SACRISTAN, J. O currículo – uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre, Artmed, 2000.
08. GOMES, Cândido Alberto. A nova LDB: uma lei de esperança. São Paulo, Cortez/ Brasília, DF, UNESCO, 1998.
09. HADJI, Charles. Pensar & agir a educação. Porto Alegre, Artmed, 2001.
10. HERNANDEZ, F. Transgressão e mudança na educação – os projetos de trabalho. Porto Alegre, Artmed, 1999.
11. MORIN, Edgar. Saberes globais e saberes locais. Rio de Janeiro, Garamond, 2000.
12. ______. A cabeça bem –feita. Rio de Janeiro, Bertrand do Brasil, 2001.
13. ______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo, Cortez/ Brasília, DF, UNESCO, 2001.
14. SMITH, F. A leitura significativa. Porto Alegre, Artmed, 2000.
B. ENDEREÇOS ELETRÔNICOS DA WEB:
01. www.mec.gov.br/rivemod/educjoved.shtm
02. www.paulofreire.org/eja.htm
03. www.projetoeducar.com.br/jovens_e_adultos
04 .www.unesco.org.br/programas/
05. www.vitae.org.br

 

Trabajo enviado por:
Professora doutora Cristina Magalhães
cris_magalhaes[arroba]hotmail.com
Mestre e Doutora em Letras pela UFRJ
Doutoranda em Filosofia pela UFRJ


 
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