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Comportamento do pessegueiro 'Douradão' em itupeva (página 2)

W. Barbosa

 

INTRODUÇÃO

O melhoramento genético do pessegueiro (Prunus persica L. Batsch) iniciou-se no Brasil, em 1947, no Instituto Agronômico (IAC), sendo fortemente incrementado no início da década de cinquenta. Como resultado das hibridações pioneiras, originaram-se cultivares de pêssegos como Talismã, Tutu e Doçura, de polpa branca, que persistiram dominantemente na persicultura paulista durante cerca de 25 anos. Os maiores méritos das primeiras seleções IAC de pêssegos têm sido atribuídos aos fatores: alta adaptabilidade ao clima local, ampliação do período de maturação, uniformidade de colheita e, especialmente, considerável melhoria da qualidade organoléptica dos frutos (Rigitano, 1964; Rigitano & Ojima, 1971).

Apesar da excelência dos primeiros cultivares IAC, o programa local de melhoramento continuou buscando novos tipos de pêssegos de maturação mais precoce e coloridos. Assim sendo, desenvolveram-se novas seleções com ciclo, da florada à maturação, de 80 a 120 dias e de epiderme rosada a bem avermelhada. Como exemplo, destacam-se os cultivares das séries Jóia, Doçura, Ouromel, Dourado, Aurora (Ojima et al., 1993), além de Centenário (Campo-Dall'Orto et al., 1987) e Tropical (Barbosa et al., 1989).

Mais recentemente, dada a importância comercial dos pêssegos firmes e de maior tamanho, pesquisaram e incorporam-se tais características em algumas seleções IAC de quarta geração. A seleção Douradão (IAC 6782-83), por exemplo, de frutos bem grandes e firmes, vem se destacando em plantios experimentais no Estado de São Paulo. Apesar disso, esse material apresenta adaptação variável nos diferentes locais de cultivo. Objetivando definir, então, regiões aptas ao seu plantio, distribuiram-se borbulhas e mudas de Douradão a fruticultores colaboradores de várias regiões paulistas, abrangendo as latitudes entre 22o30' e 24o30'S, que apresentam desde 0 até 200 horas anuais de frio inferiores a 7°C (Pedro Júnior et al., 1979).

Neste trabalho, relata-se o comportamento do pessegueiro 'Douradão' em Itupeva, SP, cultivado por seis anos na propriedade Irmãos Kobayashi.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado em 1991, em Itupeva, SP, (23o05'S), em área de 5000m2. Os pessegueiros 'Douradão' e as testemunhas 'Flordaprince' e 'Aurora-1', enxertados sobre 'Okinawa'e avaliados por seis anos, foram cultivados sob espaçamento de 6x4m (417 pl.há-1). As plantas foram conduzidas em forma de taça, contendo de 4 a 6 pernadas, recebendo os tratos culturais recomendados para a cultura (Ojima et al., 1998).

A partir do primeiro ano de desenvolvimento, efetuaram-se as seguintes determinações: volume da copa (m3); área de secção transversal do tronco (cm2); número de gemas por nó; número de nós por metro de ramo (n.r.); número de gemas por metro de ramo (g/m), número de gemas vegetativas e reprodutivas por nó; número de folhas por metro de ramo e área da folha (cm2); número de anteras por flor; número de pólen por antera e flor; porcentagem de germinação do pólen; porcentagem de pegamento dos frutos; número de frutos por metro de ramo; ciclo de maturação dos frutos e produção. O volume da copa foi calculado mediante as medidas de altura e largura, empregando-se a fórmula: 4/3 ab2, onde a refere-se a 1/2 do eixo maior, e b, 1/2 do eixo menor (Westwood, 1978). A área da secção transversal do tronco foi obtida convertendo-se a medida do diâmetro do tronco, determinada com um paquímetro a cerca de 20cm do solo, com a tabela apresentada por Westwood (1978). A área da folha foi estimada pelo método da fotocópia, sendo a mesma conhecida por meio da impressão recortada da folha (Reis & Muller, 1979).

O método para quantificação do número de grãos de pólen/antera e flor e porcentagem de germinação dos mesmos in vitro, foi baseado em Barbosa et al. (1991b). Aplicou-se um raleio de 50 a 70%, deixando-se entre 8 e 10 frutos/m.r. Desta forma, 'Douradão', 'Flordaprince' e 'Aurora-1' permaneceram com 3,2; 3,8 e 4,0 frutos, em média, por ramo pré-estabelecido de 40cm. Em 'Flordaprince' e 'Aurora-1', controlou-se a produção, apenas, no 6º ano de cultivo. Outras características morfológicas e agronômicas foram, ainda, subjetivamente avaliadas: adaptação climática, densidade foliar, sanidade e vigor das plantas. A análise organoléptica dos frutos foi realizada no laboratório do Centro de Fruticultura, do IAC, caracterizando o tamanho, o formato, a coloração externa, a polpa, o caroço, o paladar, o pH e o teor de sólidos solúveis. Utilizaram-se, nas avaliações, vinte plantas ao acaso e, destas, dez ramos vegetativos e reprodutivos cada, igualmente para os três cultivares pesquisados (Barbosa et al., 1990).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As plantas da seleção 'Douradão' apresentaram, nos seis anos de pesquisa, vigor médio e crescimento compacto. Com 13,4m3 e 437cm2 de volume de copa e área da secção transversal de tronco a 20cm do solo, respectivamente, Douradão diferenciou-se estatisticamente dos cultivares Aurora-1 e Flordaprince, que foram superiores nestas características varietais (TABELA 1). Por apresentar desenvolvimento inferior, o'Douradão' proporcionou menor trabalho manual na época de poda de inverno e retirada de excesso de ramos no verão. Todos os cultivares apresentaram susceptibilidade à ferrugem, chumbinho e gomose, porém não prejudicando o desenvolvimento das plantas.

Os ramos de 'Douradão' desenvolveram, em média, 37,4 nós de gemas por metro de ramo. O número de gemas por nó foi de 2,24, tornando-se 29% delas vegetativas no ciclo pós-endodormência. Ressalte-se que cultivares, como Tropical, Aurora-1 e Talismã, dos mais adaptados ao clima subtropical, apresentam de 2,7 a 2,9 gemas por nó (Barbosa et al., 1990; 1991a; 1998). As folhas, em número de 66,7 por metro de ramo (m.r.), apresentaram-se grandes (43cm2), espessas (8,4mg/cm2 de massa seca), bem denteadas e verde-escuras. 'Aurora-1' e 'Flordaprince' apresentaram desenvolvimento vegetativo superior ao 'Douradão', exceto na área da folha, com 40,7 e 38,4cm2 respectivamente (TABELA 2).

A plena floração de 'Douradão' ocorreu, nos diferentes anos, entre 1 e 10 de julho, cerca de 30 dias após o tratamento de quebra de endodormência com 0,6% de Cianamida hidrogenada. De todas as gemas, cerca de 70% delas diferenciaram-se em flor, com 1,58 por nó; o número de flores por metro de ramo ultrapassou 60. O 'Douradão', autofértil, produziu 41,3 anteras/flor e 1345 grãos de polén/antera, com 58% de germinação in vitro. Seu índice de frutificação efetiva aproximou-se de 45%, com 18,1 frutinhos.m.r.1 (TABELA 3).

Os frutos da seleção Douradão amadureceram, em maior quantidade, no segundo decêndio de outubro - ciclo de 105 dias - concomitante ao 'Aurora-1' e após 25 dias do 'Flordaprince' (TABELA 3). Sua produção, considerada satisfatória, de 23, 48, 60 e 65 kg.planta-1, no 3º, 4º, 5º e 6º ano de cultivo, foi equivalente a 9,6; 20; 25 e 27,1 ton.ha-1 respectivamente. Colheram-se, em quatro anos consecutivos, frutos grandes, com médias de 160 gramas e 6 cm de diâmetro transversal, globoso-oblongos, atraentes e de coloração externa até 90% vermelha estriada, sobre fundo amarelo-claro. Cerca de 10% dos frutos apresentaram massas entre 201 e 350g, 40% entre 141 e 200, 40% entre 101 e 140g e 10% entre 70 e 100g. A polpa amarela mostrou-se espessa, firme, fibrosa, medianamente suculenta e sem aderência ao caroço, grande (6,5g), bem corrugado e levemente avermelhado. A firmeza da polpa, medida com penetrômetro e ponta fina, correspondeu a 15 e 7 libras de pressão, nas épocas de colheita e consumo respectivamente. 0 sabor doce-acidulado apresentou-se bem equilibrado e agradável, com 16º Brix e pH 4,5. Os frutos colhidos ainda bem firmes, conservaram-se por cinco dias em ambiente de sala. Em ambiente refrigerado, os frutos foram armazenados por duas semanas sem alterações de sabor.

Apesar da seleção Douradão apresentar desenvolvimento inferior aos demais cultivares, não houve comprometimento da produtividade e nem da qualidade do produto final. No mercado atacadista, seus frutos atingiram melhores preços em confronto aos demais pêssegos de mesma época de maturação.

CONCLUSÕES

• A produtividade do 'Douradão' em espaçamento de 6 x 4m, corresponde a 9,6; 20; 25 e 27,1 ton.ha-1, respectivamente, no 3º, 4º, 5º e 6º ano de cultivo.

• Os frutos do 'Douradão' apresentam as maiores massas, 160g em média, sendo que 10% deles atingem 201 a 350g.

• A produtividade do 'Douradão' em espaçamento de 6 x 4m, corresponde a 9,6; 20; 25 e 27,1 ton.ha-1, respectivamente, no 3º, 4º, 5º e 6º ano de cultivo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos Irmãos Kobayashi, Itupeva, SP, pela colaboração na realização dos tratos e práticas culturais dos pessegueiros, aos Técnicos de Apoio à Pesquisa Marcilene de Moraes e Antonio Carlos de Carvalho e à estudante de agronomia Lucilene Kobayashi pelo auxílio na coleta dos dados do experimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Wilson Barbosa (2,3)*; Mário Ojima (2,3); Fernando Antonio Campo Dall' Orto (2,3)
wbarbosa[arroba]iac.sp.gov.br

1. Trabalho apresentado no 15º Congresso Brasileiro de Fruticultura - Poços de Caldas, 1998
2. Centro de Fruticultura - IAC, C.P. 28 - CEP: 13001-970 - Campinas, SP.
3. Bolsistas do CNPq.



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