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Caracterização de oito raças do bicho-da-seda (Bombyx mori L.) (página 2)

Antonio José Porto; Fumiko Okamoto; Eduardo Antonio da Cunha; Ivani Pozar O

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido na Estação Experimental de Zootecnia de Gália, do Instituto de Zootecnia, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, no ano de 2000, quando foram analisadas oito raças do bicho-da-seda, sendo quatro de origem japonesa (B101, B102, B104, B 109) e quatro de origem chinesa (C201, C202, C203, C208), em função de caracteres biológicos de grande influência genética e relacionados direta e indiretamente com a produção de seda. Para cada raça, foram separadas aproximadamente duas mil lagartas (uma grama). Todas as raças foram criadas em ambiente controlado (temperatura média de 25,44ºC, umidade relativa do ar média de 70,68% e ventilação) e receberam o mesmo manejo, tanto alimentar (folhas do cultivar de amoreira IZ 56/4 e cinco tratos diários) quanto de criação (caixas padronizadas, aplicação de cal, tipo de bosque, etc).

No oitavo dia do quinto ínstar, foram coletadas amostras de lagartas das respectivas raças, colocadas em recipientes plásticos e levadas ao freezer. Após inativação, as mesmas foram dissecadas, sendo suas glândulas sericígenas retiradas e pesadas, determinando-se o peso unitário da glândula (GS) em gramas.

Foram avaliados o ganho de peso total para uma lagarta (GP), obtido no final do período larval, sendo expresso em gramas; a porcentagem média de mortalidade larval (MO); o número de machos (NM) e fêmeas (NF), obtido a partir da contagem em uma amostra de 30 casulos, tomada ao acaso; o número de ovos/postura (OP); a porcentagem de eclosão (EC), obtida pela contagem e transformação em porcentagem dos ovos que efetivamente eclodiram lagartas, por mariposa.

De cada raça do bicho-da-seda, foram coletados 30 casulos e seus caracteres mais importantes foram analisados, como: peso de casca sérica (CS) (após o corte dos casulos e retirada da crisálida e do espólio, as cascas foram pesadas), determinando-se o peso em gramas; peso de crisálida (PC), obtido a partir dos casulos utilizados na determinação anterior, sendo os valores expressos em gramas; casulos desclassificados (CD), obtidos pela contagem e transformação em porcentagem dos casulos não considerados como casulos de primeira, de acordo com TINOCO et al. (2000), com exceção dos casulos duplos, em uma amostra de 200 gramas de casulos, coletada aleatoriamente; teor de seda líquido (TS), obtido a partir da fórmula: % de seda bruta = peso de 30 cascas séricas/peso de 30 casulos inteiros x 100, descontando-se 24% (perdas na fiação) do resultado obtém-se o valor médio; comprimento de um casulo(CC), obtido pela medição unitária de casulos, sendo os valores expressos em milímetros; largura de um casulo (LC), obtido pela medição unitária de casulos, sendo os valores expressos em milímetros.

Os dados de MO e CD foram transformados para Log (x) e os de NM, NF e OP foram transformados para Raiz quadrada (x).

O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, com quatro repetições/raça. A comparação entre as médias de raças do bicho-da-seda foi realizada pelo teste de Tukey.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O desempenho biológico do bicho-da-seda demonstra o grau de adaptação deste inseto ao ambiente e a sua potencialidade para a produção de seda. Na tabela 1, estão apresentadas as médias de alguns caracteres biológicos de interesse para a sericicultura, como: GP, MO, NM, NF, OP e EC.

Considerando que o bicho-da-seda acumula reservas energéticas durante a fase larval para a produção de casulos e para as fases posteriores de seu ciclo biológico (crisálida, mariposa, postura), o ganho de peso (GP) no final desta fase é de grande importância. Não foram encontradas variações quanto ao GP para as raças em estudo (Tabela 1). Tal fato pode ser explicado pela capacidade de adaptação dos insetos lepidópteros às condições ambientais e ao alimento fornecido, de forma a otimizar seu crescimento e desenvolvimento (CROCOMO & PARRA, 1985; PARRA, 1991; PAUL et al., 1992; PORTO, 2000).

A produção do casulo depende do índice de sobrevivência da lagarta que é considerado por BRASLAVSKY et al. (1997), como um dos fatores-chave em todo programa de seleção e, do qual depende a produção do casulo. Os resultados relativos a porcentagem de mortalidade (MO) não variaram, demonstrando uma grande homogeneidade entre as raças (Tabela 1). Através do cálculo da média geral da MO das raças (20,50%), pode-se observar que os valores foram relativamente elevados, quando comparados com dados da literatura, que cita uma perda de 15% em uma criação normal (HANADA & WATANABE, 1986), embora este dado se refira a híbridos comerciais selecionados e não a raças puras, mais susceptíveis.

Quanto ao número de machos (NM) e fêmeas (NF) observados, apenas para a primeira variável houve diferença entre as raças. As raças B102, B109, C201, C202 e C208 apresentaram maior NM somente em relação a raça B101 (Tabela 1). Em geral, as raças Japonesas apresentaram uma tendência de produzir maior número de fêmeas e as raças Chinesas um maior número de machos, estando em conformidade com os resultados observados por TOLEDO (1992).

Também para a variável número de ovos/postura (OP), não foram observadas diferenças significativas entre as raças (Tabela 1). TOLEDO (1992), quando comparou duas raças puras do bicho-da-seda (Chinesa e Japonesa), não observou variação quanto ao número de ovos por mariposa. A média geral (410 ovos/postura) está de acordo com dados da literatura, onde é afirmado que uma mariposa, em média, põe de 300 a 600 ovos (DOIRA et al., 1978; KANTARATANAKUL et al., 1987).

A porcentagem de eclosão (EC) é um importante fator pelo qual se avalia a resistência do bicho-da-seda às condições adversas do ambiente e às doenças, bem como sua prolificidade. A EC da raça B101 foi inferior às demais, não diferindo apenas em relação à raça C203. Considerando como ideal uma eclosão acima de 90% (ABREU & ABRAMIDES, 1974), na média geral (92,83%) as raças apresentaram bom desempenho, com exceção para as raças B101 e C203 (Tabela 1).

O casulo do bicho-da-seda e conseqüentemente o fio de seda obtido, são os objetivos básicos da exploração Sericícola, portanto suas características desempenham importante fator na seleção de raças especializadas. Na tabela 2 estão apresentados alguns caracteres relacionados à produção de seda, como: GS, CS, PC, TS, CD, CC e LC, para as oito raças em estudo.

Os caracteres peso da glândula sericígena (GS), peso de casca sérica (CS) e peso de crisálida (PC) determinam valores para a produção de seda, já o teor de seda líquido (TS) é um índice para avaliar comercialmente a produção.

Apenas a raça C201 apresentou valores inferiores para GS (Tabela 2). Transformando estes pesos em porcentagem do peso total da lagarta, os seguintes valores podem ser observados: 32%, 32%, 36%, 35%, 32%, 38%, 32% e 34% para as raças B104, B102, B101, B109, C201, C202, C203 e C208, respectivamente. Nota-se uma boa proporção quanto ao peso da glândula sericígena em relação ao peso corporal da lagarta para a raça Chinesa C202 (38%), demonstrando uma boa capacidade para produção de seda. Estes resultados estão de acordo com FONSECA & FONSECA (1988) que determinaram porcentagens entre 20 a 40%.

Quanto ao peso da casca sérica (CS), duas raças de origem Japonesa (B101 e B104) e três raças de origem Chinesa (C202, C203 e C208) apresentaram valores médios superiores, sendo que apenas a raça B104 apresentou um PC superior, denotando importantes características tanto produtivas quanto biológicas. Os piores resultados quanto ao CS e PC foram observados para a raça C201. Para a variável TS, em geral, as raças chinesas apresentaram teores mais elevados, destacando-se a raça C202 (Tabela 2).

A presença de casulos de segunda, aqui denominados de casulos desclassificados (CD), é característica indesejável que pode ter origem genética. As raças Japonesas (B104 e B109) apresentaram os menores valores para CD. A raça C201 foi a que apresentou um dos valores mais elevados para CD (Tabela 2).

As características externas do casulo, relacionadas a sua forma, estão normalmente ligadas à raça do bicho-da-seda (BORGONOVI,1955). As raças Japonesas, em geral, apresentaram casulos de maior comprimento (CC), destacando-se as raças B101 e B104. A raça C201 produziu casulos de menor comprimento. Quanto à largura (LC), as raças Chinesas produziram casulos com valores superiores, destacando-se as raças C203 e C208 (Tabela 2). Estes resultados estão de acordo com OKINO (1982), que afirmou que as raças de origem Japonesa produzem casulos médios e de forma alongada, enquanto as raças Chinesas produzem casulos de forma esférica a oval.

Pode-se observar ainda uma relação entre o CC, PC e TS. Os casulos produzidos por lagartas da raça C201 apresentaram menor CC, menor PC e um TS que não diferiu das demais, o que pode ser explicado por BORGONOVI (1955), quando afirmou que os casulos pequenos, em geral, apresentam maior riqueza em seda, em virtude do menor peso das suas crisálidas, uma vez que o TS é obtido através de uma proporção (CS/Peso de casulo inteiro).

As informações levantadas neste estudo permitem uma avaliação preliminar do material genético disponível, de forma a direcionar um programa de seleção e formação de um híbrido comercial do bicho-da-seda.

CONCLUSÕES

As raças Japonesas e Chinesas apresentaram grande homogeneidade quanto ao ganho de peso, mortalidade, número de fêmeas e número de ovos/postura.

A raça B101 apresentou um menor número de machos e uma menor porcentagem de eclosão. Entre as raças de origem Japonesa, a B104 apresentou as melhores características de produção de casulo. No geral, a raça de origem Chinesa C202 apresentou as melhores características de produção de casulo e a raça de origem Chinesa C201, as piores características.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Antonio José PortoI; Fumiko OkamotoI; Eduardo Antonio da CunhaII; Ivani Pozar OtsukIII
cunha[arroba]iz.sp.gov.br

IPesquisador Científico da Estação Experimental de Zootecnia de Gália, Instituto de Zootecnia, SAA-SP, CP 16, 17450 000, Gália, SP, Brasil.
IIPesquisador Científico do Centro de Etologia, Ambiência e Manejo, Instituto de Zootecnia, SP
IIIPesquisador Científico do Centro de Métodos Quantitativos, Instituto de Zootecnia-SP
A publicação dos textos técnicos disponíveis na WEB de autoria dos pesquisadores da área de ovinocultura, Drs. Luiz Eduardo dos Santos, Eduardo Antonio da Cunha e Mauro Sartori Bueno, está liberada desde que na forma integra, sem alterações e tendo claramente citados os autores e a instituição (Instituto de Zootecnia - Nova Odessa (SP) / APTA / SAA.)



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