Características biológicas de linhagens de Trichogramma pretiosum desenvolvidas em ovos de Spodoptera frugiperda

Palavras-chave: controle biológico, lagarta-do-cartucho, seleção de parasitóides, parasitóide de ovos.

ABSTRACT. Biological characteristics of Trichogramma pretiosum strains developed on eggs of Spodoptera frugiperda. The aim of this paper was to evaluate the biological characteristics and the capacity of 20 strains of Trichogramma pretiosum R. (Hymenoptera: Trichogrammatidae) to accept and develop through the eggs of Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) (Lepidóptera: Noctuidae). The strains Lsg¹, Lsg¹¹ and Lsg¹⁸ were more effective in parasitizing and developing through the eggs of S. frugiperda. The strains Lsg¹¹ and Lsg¹⁸ presented a great aggressiveness and preference for the natural host even after having been developed for several generations in alternative host, Anagasta kuehniella Zeller.

Key words: Biological control, fall armyworm, selection of parasitoids, eggs parasitoid.

Spodoptera frugiperda (J. E. Smith) é uma das pragas mais importantes da cultura do milho, no Brasil, gerando perdas na produção que podem exceder a 30% (Cruz et al., 1996). Uma alternativa ao controle de S. frugiperda é a utilização de inimigos naturais como os parasitóides de ovos do gênero Trichogramma, que são produzidos e utilizados para o controle de pragas em vários países do mundo. Na Colômbia, Trichogramma atopovirilia Oatm. e Platn. é um produto biológico comercializado entre os agricultores, o qual tem colonizado ecossistema onde S. frugiperda é considerada praga (Roa, 1995).

Estudos de campo feitos por Toonders e Sánchez (1987) e Sá e Parra (1994) mostraram a dificuldade de se utilizar espécies desse gênero no controle de S. frugiperda, já que o parasitismo observado é baixo, em função, provavelmente, das suas posturas serem em massas de uma ou mais camadas e cobertas de escamas. Porém, Greenberg et al. (1998) avaliaram, em condições de campo, a capacidade de parasitismo de T. pretiosum R. e T. minutum R., em ovos de S. exigua (Hüb.), que foram de 36,8% e 32,5%, respectivamente, demostrando a possibilidade de uso desses parasitóides para o controle da praga, mesmo que a presença de escamas sobre as posturas funcione como barreira ao parasitismo.

Potencialmente, S. frugiperda, pode ser controlada através de liberações com T. pretiosum, parasitóide freqüente dessa praga. Linhagens dessa espécie foram coletadas em ovos de S. frugiperda, em diferentes períodos na região de Piracicaba, Estado de São Paulo, e vem sendo mantidas em laboratório por mais de 20 gerações em ovos de Anagasta kuehniella Z. Porém, a criação de T. pretiosum por várias gerações no hospedeiro alternativo, pode afetar a preferência pelo hospedeiro natural e alterar a sua eficiência no controle de S. frugiperda, o que, segundo Cobert (1985), se deve, em parte, ao condicionamento préimaginal adquirido durante o desenvolvimento larval.

Estudos de Hassan (1989) constataram a perda de preferência de linhagens de Trichogramma spp por ovos de Cydia pomonella L. após terem sido criadas em ovos do hospedeiro alternativo, Sitotroga cerealella (Oliv.).

Hassan (1989, 1994) chamou a atenção para a necessidade de se selecionar linhagens de Trichogramma spp. para o uso em controle biológico, principalmente, quando estas são mantidas em um hospedeiro alternativo. Entre os critérios de seleção, devem ser consideradas a preferência hospedeira (reconhecimento e aceitação), bem como, a sua adequação ao desenvolvimento do inimigo natural.

Características biológicas como fecundidade, fertilidade, longevidade e razão sexual contribuem substancialmente para a capacidade reprodutiva do inseto (Pintureau et al., 1981). Avaliações desses parâmetros podem servir como medida da qualidade do inseto produzido em laboratório e dão uma indicação da sua eficiência em campo (Hassan et al., 1978).

No presente trabalho procurou-se, a partir das 20 linhagens de T. pretiosum coletadas na região de Piracicaba, fazer uma seleção preliminar de linhagens com capacidade para reconhecer, aceitar e se desenvolver sobre ovos de S. frugiperda. Para tanto, foram avaliados aspectos biológicos de T. pretiosum em ovos de S. frugiperda e testada a sua preferência entre ovos do hospedeiro natural e do alternativo, A. kuehniella.

O trabalho foi conduzido no Laboratório de Biologia de Insetos do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - Esalq/USP, Piracicaba, em câmara climatizada regulada a 25 ± 2ºC, U.R. 70 ± 10% e fotofase de 14 horas. Foram utilizadas 20 linhagens de T. pretiosum, coletadas em posturas de S. frugiperda em milho, nos períodos de março de 1998 a julho de 1999. As posturas foram individualizadas no laboratório em tubos de vidro (8,5 x 2,5cm), considerando-se como uma linhagem, os indivíduos emergidos de uma mesma postura. Cada linhagem foi nomeada segundo o local de coleta e a ordem de emergência no laboratório, quais sejam: Lsgnº quando coletadas em campo de milho do Departamento de Genética (campus da Esalq) e Lsanº na Fazenda Areão, pertencente à Esalq, ambas em Piracicaba, SP. Em laboratório foram mantidas por mais de 20 gerações, em ovos do hospedeiro alternativo A. kuehniella, criado segundo metodologia de Parra et al. (1989).

Antes da instalação do experimento, as linhagens foram mantidas por uma geração em ovos de S. frugiperda, a fim de se eliminar o provável efeito do condicionamento pré-imaginal do hospedeiro alternativo sobre as fêmeas do parasitóide. Fêmeas de T. pretiosum recém-emergidas (n=30), de cada linhagem, foram individualizadas em tubos de vidro (12,0 x 7,5mm), ofertando-se, para cada uma, 40 ovos de S. frugiperda, com o máximo de 12 horas de idade e como fonte de alimento uma gota de mel de abelha.

Visando avaliar apenas a qualidade do hospedeiro para o desenvolvimento de T. pretiosum, os ovos de S. frugiperda foram separados, eliminando-se, dessa forma, as barreiras físicas (camadas e escamas) de suas posturas. Inicialmente, as posturas foram mergulhadas por 15min em água destilada, para facilitar a separação dos ovos. Em seguida, esses ovos foram destacados com pincel e fixos à cartolina de coloração azul, por meio de água destilada. O parasitismo foi permitido por 48 horas, avaliando- se a seguir: duração do período de desenvolvimento (ovo-adulto), porcentagem de emergência, número de ovos parasitados, porcentagem de parasitismo, número de adultos emergidos por ovo, longevidade das fêmeas e razão sexual obtida pela divisão do número de fêmeas pelo total de indivíduos emergidos.

A preferência hospedeira foi avaliada utilizandose as linhagens selecionadas, dentre as 20 estudadas anteriormente, adotando-se a metodologia de Hassan (1989). Como forma de se eliminar o efeito da diferença de tamanho entre ovos de A. kuehniella e S. frugiperda, ao invés de se determinar um número fixo de ovos de cada hospedeiro, optou-se por distribuí-los de forma a preencher pequenas áreas de 0,4mm2, as quais estavam dispostas em cantos opostos de uma arena de cartolina de 20mm2. No centro de cada arena foi ofertada uma gota de mel de abelha, colocando, em seguida, a arena no interior de um tubo de vidro de 8,5 x 2,5cm. Fêmeas (n=20) de T. pretiosum recém-emergidas de ovos de A.

kuehniella, provenientes das linhagens selecionadas, foram individualizadas no interior dos tubos, e monitoradas a cada 45min, durante um período de 6 horas, registrando-se a posição de cada uma na arena e, dessa forma, determinando-se a preferência através da freqüência de contatos nos ovos de ambos os hospedeiros.

As características biológicas avaliadas no primeiro experimento foram submetidas à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (p¡Ü0,05). Com esses parâmetros, foi realizada, ainda, uma análise de agrupamento ("Cluster analyses"), utilizando-se uma matriz de distância euclidiana através do método da média não-ponderada, para se avaliar o grau de similaridade entre as linhagens estudadas. Os resultados do teste de preferência entre A. kuehniella e S. frugiperda foram comparados pelo teste de x².