Reflexões sobre o processo de avaliação
Indice
1. Introdução
2. Escola, o ensino e a aprendizagem.
3. Avaliação - metodologia
4. Análise da prática avaliativa na escola estadual de I e II
5. Conclusão
6. Referência bibliográfica
Não raro temos ouvido comentários do tipo: "por que uma monografia sobre avaliação? Isto já está muito batido, todo mundo já sabe, já conhece". Luckesi, esteban, garcia, barriga, afonso, geraldi, loch, silva júnior, santos silva, bicudo, souza, castro, arena, penin, saul, esposito, davis, sousa, depresbiteris, franco, hoffmann e tantos outros, não se cansam de falar e escrever sobre avaliação. Eles comprovam a afirmação acima. Estamos conscientes que "todo mundo já sabe, já conhece", mas poucos consideram a avaliação no seu devido lugar. Poucos praticam uma avaliação inovadora. E é isto que queremos: nos juntar àquelas vozes e escritos e colocá-la no lugar em que merece e deve estar.
Precisamos analisar a avaliação sob dois prismas: o da verificação e o da avaliação propriamente dita. O termo verificar provém, etimologicamente do latim - verum facere - e significa "fazer verdadeiro". O termo avaliar, por sua vez, também tem sua origem no latim, provindo da composição a-valere, que quer dizer "dar valor...". Porém, o conceito de avaliação é formulado a partir das determinações da conduta de "atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa, que, por si, implica um posicionamento positivo ou negativo em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado".
A verificação se encerra no momento que fazemos uma determinada constatação. Ela, em si, não leva o sujeito a tirar consequência novas e significativas. A avaliação implica numa tomada de posição e exige, como consequência, uma decisão de ação.
É nosso objetivo mostrar aos professores, alunos e pais que é preciso mudar a concepção de que a nota é o que importa. O que importa, na verdade, é o ensino, a aprendizagem realmente efetivada. A avaliação tem a função de diagnosticar aqueles pontos em que o educando precisa enfatizar mais. Portanto, realizaram-se o ensino e a aprendizagem, o resultado é a avaliação. Isso não quer dizer que deva estar só no final de um módulo ou bloco de ensino, ou ainda, no final de um bimestre, como se faz comumente, mas esta deve acontecer durante todo o processo de ensino-aprendizagem. Segundo barriga, "o exame (avaliação) é um efeito das concepções sobre a aprendizagem, não o motor que transforma o ensino". O que transforma o ensino é a eficiência e a eficácia daqueles que atuam no sentido da construção do novo, do ser humano, da cidadania, da ética.
Para a realização desse trabalho escolhemos como objeto de análise da prática avaliativa oito professores da escola estadual de i e ii graus "jk", de nova xavantina.
Buscamos no presente texto, fazer uma reflexão sobre os processos de avaliação e sua problemática. Partimos da idéia da avaliação como um processo que visa apreender aquilo que o aluno não assimilou no processo ensino-aprendizagem, enfatizando-o em seguida, para que a aprendizagem se efetive.
Por isso, vamos abordar no primeiro capítulo, a temática da escola, dando destaque ao aluno, ao ensino e à aprendizagem, tendo esse espaço como uma área de conflitos, contradição e luta. No segundo capítulo vamos discutir a avaliação propriamente dita, refletindo-a de modo prático, traçando o seu histórico, abordando os diferentes tipos de avaliação que se pratica na nossa escola. No terceiro capítulo será feita uma análise da prática avaliativa na escola de i e ii graus jk, da cidade de nova xavantina, estado de mato grosso, caracterizando-a, por meio de um levantamento junto aos professores sobre avaliação, na tentativa de verificar sua compreensão sobre a mesma. Por fim, apontamos alguns caminhos por onde acreditamos que o avaliador possa trilhar ao avaliar seu aluno, que significa, em contrapartida, a auto-avaliação do profissional da educação, se assim quisermos olhar. Alertamos, todavia, que não pretendemos dar receitas, mesmo porque estas não podem ser dadas, visto que a educação é feita segundo a realidade vivida pela escola, pelo educador e pelo educando, pela comunidade inserida no processo educacional.
Para darmos seqüência ao nosso texto, é preciso que nos situemos geograficamente, localizando tanto a cidade, como a escola por nós trabalhada, bem como é preciso entender o processo de formação desta cidade ao longo do tempo.
A escola de i e ii graus juscelino kubischeck de oliveira situa-se no bairro tonetto, na região central da cidade, tendo sido fundada no ano de 1975, para atender a população estudantil da antiga vila de ministro joão alberto. Sendo inicialmente, uma extensão da escola de i e ii graus gaspar dutra, de barra do garças, adquiriu autonomia quando da emancipação da cidade, de nova xavantina.
Nova xavantina resulta da junção da antiga ministro joão alberto, posteriormente, chamada nova brasília e a vila de xavantina, que era até aquela época a base militar da fab. A vila xavantina fora ponto de apoio da expedição roncador-xingú, que originou a sudeco - superintendência para o desenvolvimento do centro oeste.
A cidade de nova xavantina localiza-se na região centro-leste do estado de mato grosso, com as seguintes distâncias da cidade em relação à capital do estado, seus vizinhos e outros centros de importância regional:
Distâncias de nova xavantina às cidades de importância regional
Cidade/município |
Distância (em km) |
Água boa - mt |
84 |
Barra do garças - mt |
150 |
Brasília - df |
770 |
Campinápolis - mt |
85 |
Cuiabá - mt |
653 |
Goiânia - go |
570 |
Novo são joaquim - mt |
110 |
Fonte: dmer - dep. Mun. De estradas de rodagem/1.998.
O município limita-se com:
Água boa, ao norte; barra do garças, ao sul; araguaia e cocalinho, ao leste; campinápolis e novo são joaquim, a oeste (vide mapa anexo).
A superfície do município de nova xavantina estende-se por 5.575,25 km².
A população, conforme dados da prefeitura municipal, está assim dividida:
Distribuição da população no espaço
Localização |
Quantidade |
População urbana |
12.779 hab. |
População rural |
5.310 hab. |
Total |
18.089 hab. |
Fonte: prefeitura municipal de nova xavantina/1.998.
Nestas populações podem ser encontrados elementos gaúchos, maranhenses, baianos, mineiros, goianos, índios e outros, não havendo nenhum levantamento estatístico que nos aponte aspectos étnicos dessas populações, prevalecendo, de qualquer forma, a heterogeneidade populacional.
A economia da cidade se baseia principalmente na agricultura e pecuária, estando assim dividida:
Soja, arroz, milho, banana, seringueira, mandioca, cana-de-açúcar, oleicultura, fruticultura (mamão, abacaxi, coco, maracujá).
Bovinos de corte, bovinos de leite, suínos, eqüinos, caprinos.
A cidade é servida por uma rede de pequenos armazéns, mercados, lojas, supermercados, postos de gasolina, hotéis, pensões, restaurantes, bares, açougues, lanchonetes, laticínios e outros estabelecimentos comerciais de pequeno a médio porte, conforme informação da divisão de tributação da prefeitura municipal. Possui também algumas entidades de classe, como associações de moradores de bairros, associações de produtores rurais e parcereiros, sindicato de produtores rurais, sindicatos de trabalhadores públicos municipais e sindicato de trabalhadores e profissionais da educação (professores da rede pública estadual). Existem duas agências bancárias, uma cooperativa de crédito e outros órgãos estaduais e municipais, hospital, postos de saúde, pronto-socorro municipal. Contudo, a população é carente quanto ao aspecto saúde, não havendo assistência médica adequada para a população mais carente.
A escola estadual de i e ii graus "jk" é objeto de nosso estudo e será melhor caracterizada no capítulo 3, quando trataremos da prática avaliativa de seus professores.
Trataremos a seguir de discutir teoricamente a relação entre escola, ensino e aprendizagem com ênfase na escola brasileira e sua realidade.
2. Escola, o ensino e a aprendizagem.
Sabemos que a escola é o espaço do conflito, da contradição, da dialética. Dialética entendida como arte do diálogo para atingir a verdade e desenvolvimento do pensamento por tese, antítese e síntese, tida também como método de análise que procura evidenciar as contradições da realidade social e resolvê-las no curso do desenvolvimento histórico. No contexto da escola como espaço da dialética, hegel (in: giles: 1979), diz que ela "... Não é a arte de contrapor conceitos, de fazer amostras de virtuosismo formal e sofista. A dialética é o método, antes é a ciência que descobre o absoluto no conflito que resulta no relativo", porque ali na escola convivem as diferenças culturais, sociais, econômicas e as visões de mundo sempre em construção em função dessa convivência. Neste sentido, hegel nos diz também que o conflito é a negação, sendo que isto não significa a neutralização ou anulação de opostos, "mas sim o ressurgimento do positivo a partir do negativo, do pensamento a partir do ser, do sujeito a partir do objeto e de um ressurgimento reforçado e potencializado graças ao conflito". Por outro lado, a contradição é a força propulsora do mundo. Assim, a dialética enquanto capacidade de convivência de opostos na escola, "é uma visão do mundo, do homem e da história que enfatiza o desenvolvimento através do conflito, o poder das paixões humanas que produzem resultados inusitados e a ironia de acontecimentos inesperados. Antes de ser método de descoberta, a dialética é um método de exposição".
Dayrell (1.984), completa afirmando que "a instituição escolar é o resultado de um confronto de interesses: por um lado, uma organização oficial do sistema escolar, que define conteúdos da tarefa central, atribui funções, organiza, separa e hierarquiza o espaço, a fim de diferenciar trabalhos, definindo idealmente, assim, as relações sociais; de outro lado, os sujeitos (alunos, professores, funcionários) que criam uma trama própria de inter-relações, fazendo da escola um processo permanente de construção social". Neste sentido, entendemos a escola como espaço sócio-cultural ordenado em dupla dimensão, em função de seus componentes.
Desta forma, os alunos e a escola interagem. Aqueles são projetos desta, mas convém compreender que a escola também é parte do projeto dos alunos, ocupando seus anseios e expectativas. Assim, por atender múltiplos anseios e expectativas, acreditamos que a escola seja também polissêmica, o que equivale a levar em conta o seu espaço, seus tempos, suas relações sendo significadas de forma diferenciada, tanto pelos alunos quanto pelos professores, dependendo da cultura e projeto dos diversos grupos sociais nela existentes. (dayrell: 1984).
Esteban (1.999), afirma que "a escola é um espaço caracterizado pela multiplicidade. Experiências, realidades, cosmovisões, objetivos de vida, relações sociais, estruturas de poder, tradições históricas e vivências culturais diversas se plasmam nos diversos discursos que se cruzam em seu cotidiano, pondo em diálogo conhecimentos produzidos a partir de várias perspectivas. A polissemia surge como um traço marcante das interações estabelecidas e entra em confronto com uma estrutura pedagógica que prevê e propõe o pensamento unívoco". Neste sentido, é preciso pensar a escola como um espaço que é capaz de preparar seus alunos para participarem e atuarem produtivamente na sociedade tecnológica. Isto significa, segundo silva (1.996) dar-lhes acesso aos códigos da modernidade, num horizonte ético caracterizado pelo domínio dos princípios básicos de convivência democrática. Os códigos da modernidade dizem respeito à aprendizagem de algumas competências e habilidades básicas:
Esteban sugere ainda que a escola deve propiciar alguns princípios básicos de convivência democrática, desta forma resumida:
No contexto da escola, a sala de aula também é um espaço de encontro, mas com características próprias, sendo a convivência rotineira de pessoas com trajetórias, culturas, interesses diferentes que passam a dividir um mesmo território, pelo menos por um ano. Assim, o cotidiano na sala de aula reflete uma experiência de convivência com a diferença. Independente dos conteúdos ministrados, da postura metodológica dos professores, é um espaço potencial de debate de idéias, confronto de valores e visões de mundo, que interfere no processo de formação dos alunos. Neste sentido, coelho (s/d), afirma que a sala de aula não é um espaço físico, uma realidade formal, burocrática em que, de um lado, o professor "ensina", expõe, impõe, repassa, socializa o saber já acumulado e sistematizado pela humanidade e, de outro, os alunos "aprendem", assimilam, absorvem, aceitam, engolem o que lhes é apresentado. O que a constitui, faz existir como realidade escolar é o trabalho de professores e aluno, ou seja, a rigorosa elaboração teórica que aí se constrói; a busca, a dúvida e o questionamento que se cultiva; o saber vivo com o qual se confronta e cuja compreensão e superação se persegue". Assim, se faz necessário discutir a escola sob o ponto de vista do fazer pedagógico, verificando se é possível encontrar um modelo educacional em meio ao que temos. E o que está disseminado pelo território brasileiro, em especial o que temos em nova xavantina hoje, servirá de modelo, de padrão educacional a quem deseja fazer comparações ou análises da educação?
A escola brasileira e sua realidade
Não há um modelo de escola em que alguém possa se espelhar para a construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento. Em primeiro lugar, porque cada escola deve ou pelo menos deveria respeitar o contexto no qual está inserida. E o contexto das escolas que conhecemos é o do não-saber, do desconhecimento, que não é fuga para o saber, mas apenas confirmação do clientelismo, dos jogos de interesses que perpassam a educação de um modo geral.
O modelo de escola ideal não é, então, este que conhecemos, porque se trata de uma escola castradora, dos anseios de alunos, professores e sociedade, porque se encontra a serviço de uma burguesia atendendo seus interesses e não dando margem a que o estudante, o professor e a sociedade (o cidadão comum) busquem o conhecimento a que aspiram. A escola e a educação por ela praticada têm sido acanhadas, instáveis, por não preparar (já que é esse seu propósito) o aluno para a vida social, para o trabalho, nem mesmo para o vestibular, uma vez que o aluno saído do ensino regular tem que se submeter muitas vezes, a mais um ano de cursinhos pré-vestibulares para "garantir" uma vaga na universidade. Se não encontramos no meio educacional uma escola que possa servir de modelo, de referência, o que falar então de sua realidade?
A realidade da nossa escola é a da falta de preparo do educador, (pois bem como diz garcia (1.999), "se não se investe na formação e atualização de professores, se não se estimula à pesquisa educacional em que se investiguem os processos de aprendizagem, considerando as condições objetivas e subjetivas dos alunos e alunas, não se podem melhorar os processos de aprendizagem"), do desestimulo, dos baixos salários, das direções autoritárias, sem conhecimento da realidade educacional mesma, porque geralmente são maus professores que os alunos, para se verem livres deles, elegem para diretores. Deixam de ser maus professores e vão exercer direção ditatorial, fora da realidade, porque são atingidos em cheio nas vaidades, dando vazão à prepotência e à arrogância. Além disso, existe a questão da política salarial do governo, da qual minto (1.999), afirma que "a (des)valorização dos profissionais de ensino revela o descaso dos governantes (estaduais e municipais também) para com o ensino fundamental e médio, enfaticamente traduzido, sobretudo por meio dos valores pagos por aula para professores iniciantes dos quatro primeiros anos (do ensino fundamental), que tenham formação de magistério de 2º grau, hoje ensino médio, após o ano da educação em 1.996, que no amazonas, r$ 1,84; no ceará, r$ 2,11; na paraíba, r$ 1,30; em pernambuco, r$ 1,75; em minas gerais, r$ 2,70; em são paulo, r$ 2,98; no paraná, r$ 2,45; em santa catarina, r$ 2,25; no rio grande do sul, 2,05". Os valores citados se referem ao ano de 1.997, o que não quer dizer muito, pois o autor diz que "eles continuam "modernos", uma vez que na maioria dos estados e municípios não sofreram acréscimo Algum, Produzindo O Desestímulo De Que Falamos.
a democracia inexiste em tais escolas. O que existe, é uma confirmação do que escreve demo, (1.998), ou seja, uma "democratização da ignorância", porque chamam todos para uma sala de professores e passam a brincar de liberais, democratas, pois, segundo o autor, democracia que imagina resolver tudo já é autoritária. O que temos visto, e esta é mais uma confirmação da teoria de pedro demo, é um excesso de "democratismo" que tem a capacidade de solapar a própria democracia, incluindo-se aí a pretensão de aplicá-la para qualquer coisa e em qualquer lugar.
a realidade da escola não é o caos, mas também não é o paraíso. Seria se o professor tivesse mais ambição e pudesse buscar se informar mais seja através de jornais, revistas, livros ou mesmo por meio da internet. É preciso que governantes e escolas invistam no conhecimento, no pedagógico, mas é preciso que o professor também invista em si mesmo para que a educação não continue um "fazer de conta" constante, o qual a sociedade ainda tem pago um preço muito alto. Para isto os órgãos governamentais, como ministério, secretarias de educação e outros departamentos têm muitos projetos para a educação nacional. Projeto, conforme do vale(1.999), é "uma tomada de posição diante da realidade natural, social e humana; e sendo sempre um processo avaliativo em relação ao existente", sendo, conforme o mesmo autor, que "todo projeto é ação consciente voltada para a criação de uma realidade futura. É ação consciente porque planejada tendo em vista o futuro. É sempre um misto de realidade e supra-realidade, isto é, algo além da realidade existente que pretende transformar", assim, projetar, na realidade, é lançar-se ao futuro incerto ou pelo menos problemático.
A lei 5.692/71, que instituiu o ensino profissionalizante no brasil, procurava colocar no mercado de trabalho a mão-de-obra que este necessitava, tendo em vista o crescimento industrial e comercial do país no final dos anos 60 e início da década de 70. Formava-se o técnico em contabilidade, em administração, o contador, o agrimensor, o mecânico, o desenhista industrial e outros em nível de segundo grau e supriam-se as necessidades mais urgentes, atravessando assim, a década de 80 e parte da de 90, quando o congresso aprovou a lei de diretrizes e bases da educação - ldb, implantada nas escolas e avançando em alguns pontos e retroagindo em outros. Privilegiando ora um setor da educação, ora outro e dando uma forte conotação para a privatização do ensino público, fez com que professores de todos os níveis começassem a se manifestar. Nota-se que o governo tem se afastado gradativamente, ou pelo menos tem dado sinal disso, e parece indicar o desejo de entregar os meios educacionais para a iniciativa privada, o que seria lastimável, se se confirmasse, visto que o estado não tem exercido seu papel de forma condigna, ficamos imaginando isto na mão dos capitalistas.
a criação da ldb trouxe em seu bojo os parâmetros curriculares nacionais - pcn's, que é um conjunto de conteúdos propostos pelo mec a serem trabalhados nas escolas, visando a uniformização do ensino. Os parâmetros curriculares nacionais, no entanto, são comparados por geraldi (1.999), a uma sofisticada cartilha, mais poderosa e perigosa que a singela caminho suave. Por sua vez, minto, (op. Cit.), Afirma que "os parâmetros curriculares nacionais (pcn's), tendo como pressuposto a adoção de um único teórico, o construtivismo, com prevalência da psicologia genética, afronta o princípio constitucional do pluralismo de idéias e concepções pedagógicas".
assim, como a nova lei previa, os pcn's, estabeleceu-se também campanhas que visavam também "conscientizar o cidadão" com slogans destacando: "acorda brasil, tá na hora da escola!" Campanha com empresários falando da importância da escola; a campanha: "um grande país começa na sala de aula" que explicita a ênfase no tempo pedagógico dentro da sala de aula; "educação, prioridade nacional, tarefa de todos", isto significando uma forma do estado deixar suas funções; "educação. Só assim resolveremos o problema do brasil". São campanhas que visavam e visam trazer o aluno para a sala de aula, mas de maneira demagógica, pouco convincente, visando apenas a ter o aluno na escola para justificar os relatórios para aos órgãos financeiros as grandes somas enviadas ao brasil, que pouco têm resolvido quando é para se resolver questões realmente populares.
a introdução dos pcn's, por outro lado, colocou uma urgência para as escolas, que foi a necessidade de elaboração do projeto político pedagógico - ppp - que visam ser uma construção coletiva. Isto é, deve contar com a participação da direção, corpo técnico-administrativo e sociedade na sua elaboração. Do vale, (1.999), afirma que "o projeto pedagógico é sempre um projeto político-pedagógico na medida em que realiza opções, toma partido diante da realidade existente e diz (ou deveria dizer) a que veio de maneira transparente". Neste contexto, do vale (1.999), nos diz ainda, que "a experiência organizacional tem evidenciado que quando os professores não são ouvidos torna-se difícil à identificação com as decisões tomadas pelo alto (direção). De igual modo, quando os alunos não são ouvidos e não têm poder de fala, o ensino corre na contramão. De forma geral a indisciplina, o desrespeito e a agressão resultam da não-participação discente".
assim, segundo penin (1.999), o projeto pedagógico, como o projeto educacional, "é fruto da projeção desenhada por todos os sujeitos envolvidos, profissionais e usuários, coordenados por uma liderança profissional democrática, após análise genética, genealógica e prospectiva da escola, a partir tanto das sinalizações já presentes a respeito do futuro da civilização humana quanto das realizações que queiram imprimir nesse futuro".
As informações que recebemos diariamente das escolas com as quais nos relacionamos não confirmam esta recomendação legal, pois é sabido que as coordenadoras pedagógicas, no anseio de executar o trabalho e pelo excesso de cobrança elaboram o "ppp" que é aprovado pelos professores e demais interessados, a toque de caixa.
desta forma, a democracia apregoada pelo sistema de ensino fica deixando a desejar e o ensino, a aprendizagem não se completam conforme o que se deseja nas leis, nos projetos educacionais.
Ensino-aprendizagem
diz-se que a experiência educacional é a mais humana de todas as experiências, aquela que nos permite recriar continuamente a história e apropriamo-nos dos bens da cultura. É através do pensar, do aprender, do criar que estamos nos adiantando sempre e buscando o organizar os espaços em que vivemos.
Para nós, ensinar é levar ou proporcionar o conhecimento àqueles que não o têm, sejam crianças, jovens ou adultos. Esse ensinar não é uma aventura qualquer, mas o início de uma relação e de uma história de vida dos sujeitos que participam da aventura maior que é adentrar aos grandes mistérios do conhecimento humano por uma trajetória nova, que segundo coelho (1.999), "não se constitui de forma linear, num contínuo acrescentar de mais tijolos nessa interminável construção, mas se faz também de rupturas, de descontinuidades", conhecendo o velho, construindo e desconstruindo o novo cotidianamente, sem desprezar aquilo que é antigo, o tradicional, pois, como ainda afirma coelho (1.999), "a tradição não é necessariamente uma "múmia", uma realidade ultrapassada, incômoda e inútil. Isto seria a negação da tradição, que é vida e se renova a cada
instante como superação/conservação do que se foi e, ao mesmo tempo, é".
a educação, o ensinar e o aprender se fazem cotidianamente, numa tríplice aliança - instituição, professor e aluno - que assim, concretizam o complexo processo ensino-aprendizagem que suprem as necessidades e os anseios da sociedade. Neste sentido, penin, (1.999), afirma que no "âmbito do ensino, o aluno é o único elemento que é dado e tem de ser aceito tal como é no seu ponto de entrada na escola. A tarefa desta começa a partir daí, e só tem um limite para se organizar/reorganizar internamente: o definido no seu próprio projeto pedagógico, tendo em vista a função social da escola, que supõe o aprendizado contínuo do aluno". Assim também, hoffmann, (1.998), afirma que "respeitar as diferenças entre os alunos é uma tarefa que exige, sobretudo, humildade e cooperação entre os professores".
aprender é buscar desvendar os mistérios do não-saber, buscar o saber mais, que como bem nos diz garcia (1.999), "o prazer de aprender desaparece quando a aprendizagem é reduzida a provas e notas; os alunos passam a estudar para se dar bem na prova e para isso têm de memorizar as respostas consideradas certas pelo professor ou professora. Desaparecem o debate, a polêmica, as diferentes leituras do mesmo texto, o exercício da dúvida e do pensamento divergente, a pluralidade. A sala de aula se torna um pobre espaço de repetição, sem possibilidade de criação e circulação de novas idéias". Segundo hoffmann (1.998), "não há sentido em falar para os alunos sobre a importância da matemática ou do português na sua vida, para que eles venham a querer a aprender. Essa importância é uma descoberta que não se ensina, mas que acontece pelo gostar do conhecer, pela própria curiosidade intelectual que estará ou não presente no desafio proposto". Neste contexto, garcia (1.999) afirma que "os bem sucedidos são aqueles capazes de melhor repetir o que diz o professor ou professora, enquanto os que ousam divergir são considerados alunos-problemas, e recebem as piores notas. Ou seja, a nota dez recebe aquele que foi capaz de responder de acordo com as verdades do professor e do autor por ele referendado. A nota cinco é a que recebe aquele que respondeu certo apenas 50% do que lhe foi perguntado. E zero é a nota do divergente, aquele que ainda não abdicou da capacidade de pensar crítica e criativamente e tem a ousadia de afirmar a sua diferença". Desse modo, persegue-se incansavelmente o igual na escola e todas as diferenças são obstáculos que impedem a aprendizagem: os alunos agitados ou muito quietos, os alunos pobres, doentes, de idades diversas, com talentos inesperados, com deficiências físicas e mentais, que falam línguas diferentes passam pelo crivo da comparação. A compreensão do aluno, segundo hoffmann (1.998), passa pela sua história, suas condições concretas de existência, pois as interações de cada pessoa com o meio abrangem significações de caráter biofisiológico, afetivo, cognitivo e social, o que representa a crescente individualidade de cada um a partir de sua capacidade de autotransformação para adaptação às necessidades exteriores.
o aluno, segundo os dados da psicologia educacional e as analises piagetianas, aprende por esquemas referenciais, sempre do conhecido para o desconhecido, daquilo que para ele está concretizado para aquilo que lhe é abstrato, estranho. Neste sentido, garcia (1.999) nos diz que "o esquema referencial do sujeito é mobilizado sempre que se confronta com uma nova informação, demandando muitas vezes mais tempo do que o tempo do que o tempo da escola permite, pois não se trata de algo mecânico que possa limitar-se ao ensinar e ao imediato aprender". Coelho, nos diz que "não podemos nos esquecer de que esses jovens que hoje são nossos alunos foram roubados - pelo estado, pela escola, pela sociedade - em seu direito à palavra, ao pensamento. Não conseguem, muitas vezes, entender o que ouvem e lêem, ou melhor: não sabem ouvir, não sabem ler. Balbuciam as palavras, repetem as frases, mas não conseguem captar o sentido preciso que encerram e expressam". Mas apesar disso, sabemos que estes jovens vivem cheios de anseios, perspectivas variadas, dentro da sua realidade e cultura.
ensinar, educar exigem posturas que não podem ser fixas, enrijecidas, mas também não podem ser contraditórias, pois o educador deve ser coerente com suas atitudes no mundo da escola, no educacional, cultural, social, político e filosófico, uma vez que o educador é um espelho em que o educando vai se refletir, se basear durante boa parte de sua vida. E sobre isto, geraldi (1.999), nos diz que "todo ato pedagógico é político, não havendo educação neutra".
o trabalho educacional não nasce de um sonho do educador pura e simplesmente, porque não somos, mas fomos chamados, convocados a nos tornar professores/professoras. Desta forma, o professor/professora é fruto de uma força contingencial desconhecida dele mesmo que o impulsiona rumo ao futuro, através de suas ações educativas. A educação e em particular a aprendizagem tem sido vista como uma mudança ou transformação nas respostas do aluno, que sai do não-saber, da ignorância, para o saber, mudando também seu comportamento, melhorando seu ponto de chegada em relação ao ponto de partida, pois tanto o aluno quanto o professor jamais serão os mesmos no ponto de chegada, tendo ambos construído uma relação de respeito e solidariedade na trajetória.
o educador e o educando têm esta relação que não é de igualdade no ponto de partida. Aquele é superior a este no saber. O aluno, durante a trajetória pode e deve crescer e no ponto de chegada, superar o mestre, demonstrando um grande esforço e sacrifício para isto. A relação cresce e se solidifica, se fazendo no respeito ao diferente e ao contraditório. Nesta relação, deveria ser mais importante ao educador investigar como o aluno chegou a uma resposta ao invés de verificar se encontrou a resposta certa, porque o ensinar se torna conhecer para o professor, através da investigação sobre processos de pensamento do estudante. Porque confrontados com idéias alternativas, todos os envolvidos no processo de aprendizagem alcançam a superação em termos de conceitos construídos sobre uma área de conhecimento. Hoffmann, (1.998). Desta forma, o professor deve ser um espectador que só vai interferir nos trabalhos em sala de aula, quando solicitado. Por isso, é preciso que aprenda a silenciar e escutar a expressão de seus alunos, do grupo. A tarefa do educador é promover momentos de troca e discussão de idéias, a partir de textos, de sua exposição, de perguntas provocativas, compreendendo que a evolução do conhecimento não se dá por etapas que se somam, mas pelo ultrapassamento, pela superação do antigo e a busca do novo.
alguns autores e mesmo muitos professores têm tentado traçar o perfil do educador. Todos dividem esse perfil em quatro áreas bem distintas que são:
Área do currículo: conhecimento do conteúdo; familiaridade com o escopo (propósito) e seqüência das disciplinas; visão global do currículo e dos princípios de sua organização; visão integrada e dinâmica do currículo, em relação à realidade; perspectiva interdisciplinar.
Área pedagógica: habilidade de realizar o planejamento pedagógico; de usar uma variedade de estratégias pedagógicas; de combinar técnicas pedagógicas com o estilo de aprendizagem do aluno; de utilizar uma variedade de técnicas de avaliação de alunos.
Área de gestão de sala de aula/relacionamento interpessoal: habilidade de desenvolver e manter a disciplina em sala de aula; de dar feedback construtivo; de motivar os alunos e mobilizar sua atenção; de diagnosticar necessidades de aprendizagem e propor soluções; de identificar estilos de aprendizagem e orientá-los adequadamente; de manejar tensão e conflito e vencer obstáculos; de compreender o ponto de vista dos alunos e a dinâmica de grupo de sua turma; de fazer demonstrações criativas de conceitos a serem aprendidos.
Área escolar: habilidade de trabalhar em equipes; de perceber a relação entre o trabalho de sua turma com o contexto da escola; de escutar e compreender o ponto de vista de colegas e pais.
Além dessas habilidades, autores como laranjeira, abreu, nogueira & soligo (1.999) e professores diversos apresentam um elenco de competências a serem desenvolvidas pelo educador não só no âmbito da sala de aula, mas também nas relações externas com o aluno e com a sociedade na qual vive:
Competências profissionais do professor:
Às competências acima, fazenda (1.998) acrescenta outros quatro tipos, que são:
Comumente é visto como um filósofo, como um ser erudito; logo adquire o respeito não apenas de seus alunos, mas também de seus pares. É aquele que todos consultam quando têm alguma dúvida. Ele é um ser de esperas consolidadas; planta, planta, planta e deixa a colheita para outrem. Ele ajuda a organizar idéias, classificá-las, defini-las.
Coelho (1.994) diz que "o ato de ensinar muitas vezes se reduz a uma rotina burocrática, para a qual não se exige maior competência e dedicação por parte dos professores, salários dignos, bibliotecas e laboratórios equipados". Educar e educar-se para coelho (1.999), é ensinar e aprender as ciências e a tecnologia, ensinar e aprender a falar e a escrever de acordo com a norma culta, a ver e a ouvir a natureza, o mundo, o outro, a sociedade, o professor, o aluno, a história, bem como ensinar e aprender os limites e possibilidades da educação, do conhecimento, da ciência e da tecnologia. Assim, ensinar não é repassar e socializar, nem aprender é armazenar, apropriar-se e consumir informações, internalizar conteúdos de consciência. Ao contrário. Ensinar é mediar e aprender é construir a relação com o saber, com o verdadeiro. O professor, enquanto mediador entre os estudantes e o saber, deve impor-se à classe, não pela força ou autoridade pura e simples, mas conseguindo interessá-los e fazendo-se compreender por eles, sem destruir ou sufocar suas dúvidas, questionamentos e poder de contestação. (coelho:1.999).
no capítulo que se segue, buscaremos refletir de forma mais aprofundada sobre avaliação, que é o foco principal desse nosso trabalho.