Publicado em Interciencia 17, 6, 1992.
1. Instituições brasileiras de apoio à pesquisa.
O apoio governamental à pesquisa científica no Brasil data da década de 50, com a criação do Conselho Nacional de Pesquisas como órgão subordinado à Presidência da República. Antes, as principais instituições de pesquisa do país eram vinculadas aos ministérios do governo federal (como o Instituto Oswaldo Cruz e o Instituto Nacional de Tecnologia no Rio de Janeiro), ao governo do Estado de São Paulo (como o Instituto Biológico de Defesa Animal, o Instituto Butantã e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas) ou às duas principais universidades do país, a Universidade de São Paulo e a Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro). Desde a década de 20, no entanto, a Fundação Rockefeller vinha apoiando o ensino, a pesquisa e a formação de pesquisadores na área médica e de saúde pública, e teve uma atuação de grande importância no período do após-guerra, ao tornar possível que um número significativo dos pesquisadores mais destacados do país em física, genética, biologia e outras áreas pudessem completar sua formação na Europa e nos Estados Unidos[7].
O atual sistema de apoio à pesquisa foi constituído ao longo da década de 70. A principal agência governamental é a Secretaria de Ciência e Tecnologia, subordinada diretamente à Presidência da República, à qual se vinculam o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a Financiadora de Estudos e Projetos. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico é o sucessor do antigo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), do qual conserva a sigla[1,2,6]. Nos anos 70 o Conselho foi transferido da Presidência da República para o Ministério do Planejamento, com um mandato de aumentar sua ação para a área de tecnologia, dos programas de intercâmbio internacional, da informação científica, e muitos outros. Além disto, o CNPq assumiu a gestão direta de um conjunto de instituições de pesquisa de diversas origens, como o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o Instituto de Pesquisas da Amazônia e o Museu Paraense Emílio Goeldi.
A Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP foi organizada como uma empresa pública a partir de um fundo de apoio ao desenvolvimento tecnológico estabelecido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. Este fundo foi, mais tarde, transformado em uma verba orçamentária, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, administrado pela FINEP. Além deste fundo, utilizado para o financiamento de projetos acadêmicos e institucionais, em instituições públicas e privadas, a FINEP atua como um banco responsável por empréstimos a projetos tecnológicos no setor empresarial.
A terceira instituição significativa do governo federal brasileiro na área do apoio à atividade científica é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, um órgão do Ministério da Educação. Criada no início dos anos 50 por Anísio Teixeira, a CAPES proporciona bolsas de estudo de pós-graduação no país e no exterior, coordena programas de cooperação internacional vários países, e desde 1977 mantém um sistema altamente prestigiado e reconhecido de avaliação regular dos programas de pós-graduação no país[3].
CNPq, CAPES e FINEP são responsáveis pela administração do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT), um projeto financiado em conjunto pelo Banco Mundial e pelo governo brasileiro, e orientado para um conjunto de áreas tecnológicas definidas como prioritárias.
A nível estadual, a principal instituição é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que desde o início dos anos 60 administra uma percentagem fixa da receita do Estado de São Paulo (inicialmente 0,5%, e 1% nos últimos anos). A FAPESP dá auxílios a pesquisadores individuais na forma de apoio a projetos, bolsas de estudo e viagem, e auxílio para a organização de eventos científicos, tendo nos últimos anos começado a desenvolver uma área de projetos integrados. Várias outras fundações de amparo à pesquisa foram criadas ou reformuladas nos Estados brasileiros por ocasião das reformas constitucionais ao final da década de 80, mas nenhuma delas conseguiu ainda o grau de institucionalização e importância que a FAPESP apresenta.
Finalmente, cabe mencionar a atuação, no Brasil, de algumas agências internacionais de apoio à pesquisa científica. Além da Fundação Rockefeller, já mencionada, cabe destacar a Fundação Ford tem atuado no Brasil principalmente a partir dos anos 60, concentrando seu apoio na área de ciências sociais e humanidades, e outras instituições americanas e européias, a maioria delas voltadas para questões relativas às condições de vida das populações mais carentes.
A estimativa global é que o Brasil gasta por ano cerca de 2 bilhões de dólares, ou 0,6% do produto nacional bruto, em ciência e tecnologia, 20% dos quais atribuídos ao setor produtivo[8]. O texto abaixo apresenta alguns dados mais detalhados das principais agências governamentais.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq divide suas atividades em "ações de fomento", "execução de pesquisas", e "informação e difusão de ciência e tecnologia"[5]. No ano de 1990 o CNPq dispendeu um total de 349,292 milhões de dólares em suas diversas atividades, e 371,098 milhões em 1991. As ações de fomento incluem as bolsas de estudo no país e no exterior, o apoio a projetos de pesquisa e o apoio a convênios de cooperação internacional e nacional, além de serviços de apoio ao pesquisador. No ano de 1990 elas corresponderam a 69% do total de gastos do Conselho; em 1991 esta participação subiu para 78%. Os principais dados financeiros a respeito das atividades do CNPq no período 1990-1991 podem ser vistas no quadro 1.
Quadro 1 |
1990 |
1991 |
||
Valor |
Percentagem |
Valor |
Percentagem |
|
Fomento |
241,380.90 |
69.11 |
289,684.4 |
78.06 |
Execução de Pesquisas |
47,051.50 |
13.47 |
33,237.9 |
8.96 |
Difusão de Informação em Ciência e Tecnologia |
8,269.80 |
2.37 |
5,226.5 |
1.41 |
Administração |
37,439.80 |
10.72 |
27,677.6 |
7.46 |
outros |
15,150.00 |
4.34 |
15,272.3 |
4.12 |
Total |
349,292.30 |
100% |
371,098.70 |
100% |
Dados fornecidos pelo CNPq, já convertidos em US$. |
Valor |
Percentagem |
|
Auxílios a Pesquisa |
41,443 |
17.17 |
Auxílios Viagem |
1,157 |
0.48 |
Pesquisadores visitantes |
270 |
0.11 |
Eventos científicos |
2,780 |
1.15 |
Bolsas de Estudo |
195,731 |
81.09 |
Total |
241,381 |
100.00 |
No Brasil |
No exterior |
Total |
|
iniciação científica |
5,887 |
--- |
5,887 |
aperfeiçoamento |
2,389 |
--- |
2,389 |
mestrado |
8,661 |
89 |
8,750 |
doutorado |
2,637 |
923 |
3,560 |
Pós-doutorado |
45 |
373 |
418 |
Estágio/aperfeiçoamento |
--- |
80 |
80 |
Pesquisa |
3,594 |
--- |
3,594 |
TOTAL |
23,213 |
1,465 |
24,678 |
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