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Aplicação de lodo da estação de tratamento de água em solo degradado (página 2)

Milton Marchiori Júnior e Wanderley José de Melo

Utilizaram-se vasos de polietileno com capacidade de 6 kg, que foram preenchidos com 5 kg de solo degradado. Nos tratamentos com 100, 150 e 200 mg kg-1 de N a aplicação do LETA foi feita gradativamente ao longo de 15 dias, de acordo com a capacidade de retenção de água do solo degradado para evitar percolação. Após aplicação do LETA, o solo do tratamento solo degradado + calcário e os solos com 100, 150 e 200 mg kg-1 de N receberam 2 Mg ha-1 de calcário dolomítico (PRNT = 131%). Os vasos foram irrigados com água destilada a cada dois dias. Aos 30 dias após o início da irrigação, o solo foi removido dos vasos, colocado em bandeja de plástico e homogeneizado, retirando-se, então, uma amostra, que foi secada ao ar e à sombra, destorroada e peneirada (0,5 mm) para fins das análises químicas.

A condutividade eletrolítica (CE) e o Na+ foram determinados a 25°C em extrato aquoso, na relação 1:5 (solo:água) (Raij et al., 2001). A determinação do Na+ no extrato 1:5 foi feita em fotômetro de chama. Os teores de Ca, Mg e K total foram obtidos por meio da digestão nítrico-perclórica e determinados por espectrofotometria de absorção atômica (Ca e Mg) e fotometria de chama (K). Os teores de Ca, Mg e K foram obtidos por meio do extrator Mehlich 1 (Jones Junior, 1990). O COT foi determinado pelo método proposto por Tiurin (oxidação via úmida) conforme descrito em Dabin (1976). Após a análise química, foi determinado o incremento de CE (DCE) pela subtração entre o valor de CE do tratamento que recebeu LETA e o da testemunha. O pH foi medido em água, utilizando-se a relação solo:extrator de 1:2,5. Os resultados obtidos foram submetidos à análise da variância (P<0,05) e, nos casos em que o teste F se mostrou significativo, aplicou-se o teste de Tukey para a comparação de médias (Banzatto & Kronka, 1992). Na análise de correlação e regressão utilizou-se o programa Estatística.

Os teores de Ca total aumentaram com a aplicação de LETA (Tabela 1). Os altos teores de Ca no LETA ocorrem em função da adição de grandes quantidades de CaO presentes no lodo. Associando os altos teores de Ca com aumento no valor de pH (Testemunha, 5,5; solo degradado + calcário, 6,1; e dos tratamentos com 100, 150 e 200 mg kg-1 de N, 7,6, 7,8 e 7,9, respectivamente) o LETA mudou a reação do solo degradado, inicialmente ácida, para uma reação neutra ou fracamente alcalina. Nestas condições, tem-se uma situação semelhante ao que ocorre em solos calcários. Os altos teores de Ca e os valores elevados de pH interferem amplamente nos processos de adsorção e solubilização de íons responsáveis pela concentração de nutrientes no solo, e podem também causar a salinização do solo degradado. Os teores extraíveis de Ca, obtidos pelo extrator Mehlich 1, foram maiores na dose equivalente a 200 mg kg-1 de N, e os valores encontrados ficaram próximos aos teores totais. Os teores totais e extraíveis de Mg aumentaram com as doses de LETA (Tabela 1). Conforme verificado no Ca extraível, os teores de Mg extraídos pelo extrator Melich 1 foram próximos aos totais. O extrator Mehlich 1 é universalmente utilizado na extração de P, Ca, Mg, Na, Mn e Zn (Jones Junior, 1990). Por se tratar de uma mistura de ácido sulfúrico e ácido clorídrico (pH 1,2), pode ter solubilizado formas pouco solúveis destes elementos. A aplicação do lodo não afetou o teor de K total no solo degradado, mas aumentou os teores extraíveis, que apresentaram correlação linear (r = 0,99**, P<0,05) com as doses do lodo. Os teores extraíveis de K após adição do LETA são semelhantes aos encontrados por Lorenzo (1991) em solo degradado pela mineração de bauxita (111 mg kg-1), utilizando Mehlich 1. A aplicação de LETA e calcário promoveu valores de DCE que variaram de 0,90 a 2,59 dS m-1 em relação à testemunha (Tabela 2).

O efeito do LETA nos valores de DCE, conforme revelado pela análise de correlação, foi conseqüência da grande quantidade de sais adicionados por meio do lodo, principalmente Ca, e da baixa CTC inicial do solo degradado (Tabela 3). Estes resultados estão de acordo com os de Epstein et al. (1976), que atribuíram os aumentos na CE de solos fertilizados com lodo de esgoto à grande concentração de Ca2+, Mg2+ e Cl- presentes no resíduo. Quanto aos teores de Na+ avaliados no extrato 1:5, observa-se que até o tratamento que recebeu 150 mg kg-1 de N, a aplicação do lodo não causou diferença entre os tratamentos. O carbono orgânico total do solo degradado foi influenciado pela aplicação de LETA (Tabela 2). No entanto, apesar de os teores de carbono orgânico total apresentarem relação linear com as doses (r = 0,99**, P<0,05), são considerados baixos para solos agrícolas. Esses resultados corroboram os de Duda et al. (1999) em solo degradado sem vegetação (1,3 g kg-1). Já Santos et al. (2001), em área degradada por processos de erosão encontraram valores da ordem de 12,17 g kg-1. Estes resultados evidenciam que a atividade de mineração exerce grande impacto nas características químicas do solo, principalmente no teor de carbono. Isto ocorre, conforme Bayer & Mielniczuk (1997), porque o carbono orgânico é afetado tanto por oxidação como por erosão e está relacionado com a intensidade de revolvimento do solo e pela sua influência nos regimes de aeração, umidade e temperatura, e exposição da superfície. O LETA pode ser disposto em áreas degradadas, visto que eleva os teores de macronutrientes e o valor de pH do solo. Em altas doses pode causar a salinidade do solo. Para fins de recuperação, sua aplicação deve estar associada a um resíduo orgânico (composto de serragem, esterco de bovino).

Agradecimentos

À Fapesp, pelas bolsas concedidas às autoras Sandra Tereza Teixeira e Érica Tome da Silva.

Referências

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Sandra Tereza Teixeira; Wanderley José de Melo; Érica Tome da Silva
wjmelo[arroba]fcav.unesp.br
Universidade Estadual Paulista, Dep. de Tecnologia, Via de acesso Paulo Donato Castellane, s/nº, CEP 14884-900 Jaboticabal, SP. E-mail: ssteixeira1[arroba]starmeida.com, wjmelo[arroba]fcav.unesp.br, ericatome[arroba]bol.com.br



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