Artigo original: "Cienc. Rural, Dez 2002, vol.32, no.6, p.983-988. ISSN 0103-8478"
O objetivo deste trabalho foi determinar o padrão antropométrico dos operadores de tratores agrícolas da Depressão Central do Rio Grande do Sul. Os operadores de tratores agrícolas foram medidos por meio de um painel constituído por duas chapas metálicas, permanecendo durante as medições em pé, eretos, com o mínimo de roupa possível e em contato com o painel. As variáveis medidas foram as seguintes: altura do corpo; altura ao nível dos olhos; altura ao nível dos olhos sentado; altura do cotovelo; alcance do braço; alcance da mão; distância pé-patela; apoio do assento. Os dados obtidos demonstram que há diferenças entre o biótipo do operador utilizado pela indústria de tratores agrícolas e o do operador da região, de forma que este último apresentou, para todas as medidas, à exceção do apoio do assento, uma média maior. Observa-se também que, para cada medida, os limites inferior e superior do intervalo onde se encontram 90% dos operadores avaliados foram, respectivamente, menores e maiores que o padrão utilizado pela indústria, caracterizando uma maior variação. Levando-se em consideração as diferenças existentes entre o perfil antropométrico dos operadores de tratores agrícolas da Depressão Central do Rio Grande do Sul e os parâmetros utilizados pela indústria, pode-se confirmar a hipótese de que os tratores agrícolas que se encontram atualmente em comercialização no Brasil podem não oferecer o conforto necessário ao operador desta região .
Palavras-chave: antropometria, tratores, ergonomia
The objective of this work was to evaluate the anthropometric measures of the agricultural tractor operators of the Central Region of Rio Grande do Sul State. The agricultural tractor operators were measured through a panel that was made of two metallic plates. During the measurement, they were standing, wearing the minimum amount clothes possible, and touching the panel. The measures body height, eyes level height (standing), eyes level height (sitting), elbow height, arms reach, hands reach, kneecap-foot length and seat length were taken. The data showed that there are differences between the operators’ measures used by industry and those taken in this research. The anthropometric measures of the analyzed operators were usually higher than the industrial parameters. For each measure, the lower and bigger upper limits, that included 90% of the operators measured, were lower and higher, respectively, to those used as industrial parameters. This characterizes a major variation. Based on the differences, the commercial agricultural tractors in Brazil can not offer the necessary comfort and ergonomics to the operator of the region.
Key words: antropometrics, tractors, ergonomics.
A intensificação do uso de máquinas agrícolas começou, no Brasil, a partir da década de 60, fruto do processo de modernização da agricultura. Entre essas máquinas, destaca-se o trator agrícola, que é considerado por alguns autores como sendo a base ou eixo da mecanização agrícola moderna (SCHLOSSER, 1998).
Em relação ao trabalho manual, o uso do trator agrícola reduziu de forma significativa a carga física à qual o trabalhador encontrava-se submetido. Entretanto, os operadores de tratores agrícola continuam expostos a uma determinada carga física e, neste caso, também mental, pois a operação de um trator exige o controle simultâneo de diversas variáveis referentes ao trabalho, conforme explica MÁRQUEZ (1990). O esforço físico e mental leva à fadiga, o que diminui a capacidade de concentração do operador, aumentando, em conseqüência, a ocorrência de acidentes de trabalho, que podem resultar em erros (MÁRQUEZ, 1990). Da mesma forma, diminui a produtividade do trabalho (PURCELL, 1996; WITNEY, 1988) e colabora para uma maior incidência de doenças ocupacionais. A intensidade do esforço físico e mental depende, em grande parte, das características ergonômicas dos tratores agrícolas (PURCELL, 1996).
A adaptação do posto de operação ao operador pode ocorrer de duas maneiras distintas. A primeira delas refere-se à incorporação ao projeto de itens qualitativos de conforto, como cabinas, dispositivos eletrônicos de controle, dispositivos absorvedores de vibrações, entre outros. Geralmente, a incorporação destes itens implica um aumento considerável do custo da máquina ao agricultor. A agricultura brasileira, em crise desde meados da década de 80, não tem condições de suportar este diferencial de custo. Assim, para ter competitividade neste mercado, através da redução do valor de venda do produto, as indústrias importam os projetos originais de suas matrizes e retiram os itens relacionados ao conforto (SCHLOSSER, 1998). A outra forma de adaptação da máquina ao homem relaciona-se à correta disposição e dimensionamento de todos os componentes do posto de operação, como comandos, volante de direção, assento, estruturas de proteção e vias de acesso e saída. Contrariamente à incorporação de itens qualitativos, esta maneira de adaptação não resulta em grandes aumentos nos custo e, embora não resolva todos os problemas relacionados à qualidade ergonômica dos tratores, colabora para uma significativa melhoria nas condições de conforto oferecidas ao operador e, em conseqüência, para uma diminuição na ocorrência de acidentes e de doenças ocupacionais e para um aumento na produtividade do trabalho.
Para que o projeto do trator agrícola possa contemplar o correto posicionamento e dimensionamento dos componentes do posto de operação, a ergonomia recorre a outra ciência, a antropometria. Segundo MINETTE (1996), a antropometria é a parte da antropologia física que estuda as dimensões do corpo humano. As medidas corporais de que trata a antropometria são usadas para definir a localização dos componentes do posto de operação, de forma que indivíduos de diferentes tamanhos tenham fácil acesso e saída ao posto de operação, bem como consigam alcançar e acionar, com o mínimo esforço e de forma a manter uma postura corporal correta, todos os comandos (volante, pedais dos freios e da embreagem, acelerador, entre outros). ROBIN (1987) expõe ainda que a colocação de todas as partes constituintes do posto de operação deve ser tal que haja espaço livre ao redor do operador para que este possa se movimentar sem dificuldade.
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