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Alimentação de cordeiros lactentes (página 2)

Mauro Sartori Bueno, Eduardo Antonio da Cunha, Luis Eduardo dos Santos

 

Fisiologia ruminal dos cordeiros lactentes

Cordeiros lactentes têm o rúmen-reticulo pouco desenvolvido e o abomaso, ou estomago químico, muito desenvolvido. O leite ingerido, através da goteira esofágica, vai diretamente ao abomaso para ser digerido, como um monogástrico. O desenvolvimento ruminal é efetuado através de estimulo às papilas da sua parede. Esse estimulo é feito pelos produtos oriundos de fermentação ruminal, os ácidos graxos voláteis. Alimentos ricos em energia, como os concentrados, são excelentes estimulantes para o desenvolvimento ruminal, pois produzem maior quantidade de acido graxos. Alimentos volumosos ricos em fibras de baixa digestibilidade produzem menor quantidade de produtos de fermentação ruminal e podem acumular-se no rumem e dificultar a ingestão de mais alimentos, sendo portanto não aconselhável para essa categoria.

Animais que consomem grande quantidade de leite por longos períodos não desenvolvem seu rumem e, portanto, não podem ser desmamados, pois não estão aptos a consumirem alimentos sólidos.

Alimentos

Cordeiros lactentes tem o rumem não desenvolvido e não podem conseguir energia da fermentação da fibra. Devem ser alimentados como monogástrico, com alimentos com pouca parede celular (fibra) e muito conteúdo celular (amido, proteína verdadeira). Dessa maneira, os ingredientes concentrados são os mais indicados. Como respondem eficientemente a alimentos ricos em energia e proteína, devemos direcionar os ingredientes de maior valor nutritivo para animais jovens e deixar os alimento ricos em fibra para os animais mais velhos, com completa capacidade fermentativa ruminal.

O milho e outros cereais são os ingredientes energéticos mais indicados.

O milho é o principal ingrediente energético de ração animal em nosso meio e tem preço bom. É composto basicamente por amido e é pobre em proteína e cálcio! Possui excelente palatabilidade para cordeiros muito jovens. Fonte de cálcio é necessária (calcário calcitico) para corrigir sua deficiência nesse elemento.

A forma de fornecimento da ração concentrada é importante, pois está ligado ao consumo voluntário. Cordeiros muito jovens até ao redor de 35 dias, preferem rações finamente moídas; entre 35 e 60 dias rações peletizada, e a partir têm grande preferência por rações com ingredientes grosseiramente moídos, ou grão inteiros.

O melaço seco, rico em açúcar solúvel, sacarose e pobre em proteína, apresenta elevada palatabilidade e pode ser incorporado às rações concentradas, ao redor de 2-5%, para aumentar a palatabilidade e atrair os animais ao consumo de alimento sólido.

O farelo de soja, o melhor ingrediente protéico para dietas dos animais, tem elevada palatabilidade, além de elevado teor protéico, com proteína de ótima qualidade.

O farelo de algodão tem boa palatabilidade também, um pouco inferior à do de soja. O farelo de algodão no mercado atualmente tem dois tipos: 28% de PB e 38% de PB. Obviamente o farelo de algodão com maior teor protéico e menor teor de fibra (cascas) é mais indicado para compor ração concentrada para essa categoria.

Óleos vegetais podem ser incorporados à ração concentrada dessa categoria no intuito de aumentar o seu teor energético. Adição de 1-4% de óleo soja pode ser aconselhado, contudo, deve-se prever a necessidade de aumento de vitamina E na ração (20mg/dia) e a compatibilidade da mistura homogênea dos ingredientes.

Uréia não é aconselhável nessa fase, pois além de ser de baixíssima palatabilidade, não é aproveitada por essa categoria, incapaz de fermentar a fibra e ter crescimento microbiano ruminal.

Volumoso pode ser utilizado, principalmente no intuito de adaptar os animais a sua dieta posterior, pós desmame. Deve-se lembrar que os cordeiros abaixo de 70 dias têm capacidade fermentativa muito reduzida e elevadíssima exigência nutricional e que volumosos tem elevado teor de fibra, pouco aproveitada pelos animais. Contudo, pode-se direcionar para estes animais volumosos de excelente qualidade, como fenos de gramínea excelente qualidade, com teor protéico acima de 14%. Uma boa sugestão seria feno de leguminosa, principalmente o de alfafa.

A silagem de milho, devido seu elevado teor energético (68-70% de NDT) pode ser utilizada, contudo é deficiente em proteína. Pode-se adicionar farelo de soja com fonte de proteína.

É importante adaptar os animais a sua dieta pós desmame para evitar a perda de desempenho devido à demora em aceitar o novo alimento. Geralmente os cordeiros lactentes aprendem a comer com suas mães e o volumosos consumido por elas são bem aceito por eles.! Tentar fornecer alimento não conhecido pelos animais após a desmama leva tempo para adapta-los e resulta em baixo consumo e perda de peso.

Localização dos cochos privativos

Cordeiros jovens, até 45 dias, são muito tímidos e não se afastam das ovelhas mais de 10 m, Acima dos 60 dias tornam-se mais independentes e podem distanciar-se mais. Desta maneira o cocho privativo para os cordeiros lactentes deve situar-se em local muito próximo onde as ovelhas permanecem, em local seco e confortável.

Estratégias de manejo: Mamada controlada

As mamadas podem ser efetuadas em períodos predeterminados, possibilitando a separação de mãe e cria por algumas horas por dia, permitindo a mamada somente durante a noite. Apresenta a vantagem de poder alimentar essas duas categorias separadamente, podendo-se encaminhar as matrizes, durante o dia, para as pastagens, sem expor suas crias a problemas sanitários (verminose), longas caminhadas e alimento inadequado. Estimula o consumo de alimento sólido pelas crias que permanecem longos períodos sem mamar. Os cordeiros podem permanecer fechados e fornecer-lhes alimento de qualidade, sendo a amamentação realizada somente a noite.

Trabalho realizado no Instituto de Zootecnia comparando o desempenho de cordeiros Santa Inês criados com suas mães até os desmame (60 dias) e outro grupo com mamadas controladas, com acesso somente duas vezes ao dia às ovelhas, tendo á sua disposição ração concentrada com 18% de PB e 80% de NDT. Os resultados de ganho de peso no período de amamentação e peso ao desmame mostraram que não houve prejuízo para o desempenho dos cordeiros, além de estimular a entrada antecipada das ovelhas ao cio e assim, diminuir o intervalo parto-primeiro cio das ovelhas. Assim pode ser aconselhada como prática de manejo. Esta pratica estimula o consumo de alimento sólido pelos cordeiros e permite a cobertura antecipada das fêmeas (40-60 dias pós-parto), diminuindo o intervalo entre partos para 7 meses.

Exemplo de formulação de ração para ser usada para cordeiros lactentes

(20% de proteína bruta, 80% de NDT, 0,7% de cálcio e 0,5% de fósforo)

33,0% de farelo de soja

64,5% de milho em grão moído

1,5% de calcário calcítico

1,0% de mistura mineral para ovinos

Mauro Sartori Bueno, Eduardo Antonio da Cunha, Luis Eduardo dos Santos
msbueno[arroba]iz.sp.gov.br; cunha[arroba]iz.sp.gov.br; lesantos[arroba]iz.sp.gov.br
Pesquisadores Científicos do Instituto de Zootecnia, IZ/Apta-SAA-SP CP 60, Nova Odessa-SP, CEP 13460-000, e-mail: msbueno[arroba]iz.sp.gov.br
A publicação dos textos técnicos disponíveis na WEB de autoria dos pesquisadores da área de ovinocultura, Drs. Luiz Eduardo dos Santos, Eduardo Antonio da Cunha e Mauro Sartori Bueno, está liberada desde que na forma integra, sem alterações e tendo claramente citados os autores e a instituição (Instituto de Zootecnia - Nova Odessa (SP) / APTA / SAA.)



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