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Adubação nitrogenada e resíduos vegetais no desenvolvimento do feijoeiro em sistema de plantio (página 2)

Carlos Alexandre Costa Crusciol; José Ricardo Machado; Orivaldo Arf; Ricard

 

No presente experimento foram realizadas as seguintes avaliações:

Massa de matéria seca dos restos vegetais: foi realizada com a coleta de 0,5 m2 dos restos vegetais no solo após o manejo do triton na área experimental, acondicionados em sacos de papel, estes devidamente identificados e levados para secagem em estufa de ventilação forçada à temperatura média de 60-70oC, até atingir massa constante, o que aconteceu em 72 horas; Cobertura: as avaliações do percentual de cobertura morta foram realizadas imediatamente, 7 e 14 dias após o manejo do triton na área, pelo método do Ponto Quadrado proposto por Spedding e Large (1957). Neste período de avaliação da cobertura vegetal (10 até 25 de abril de 2001), ocorreram precipitações na ordem de 45,3 mm, distribuídos nos dias 10/4 (7,1 mm), 21/4 (36 mm), 23/4 (1,2 mm) e 24/4 (1 mm), com uma temperatura média neste período de 27oC.

Massa de matéria seca da parte aérea das plantas: por ocasião do florescimento pleno das plantas, foram coletadas, em local pré-determinado na área útil de cada subparcela, 10 plantas que foram levadas ao laboratório, acondicionadas em sacos de papel e levados para secagem em estufa de ventilação forçada à temperatura média de 60-70oC, até atingir peso constante.

População de plantas: por ocasião da colheita, foi avaliada a população de plantas através da contagem das plantas da área útil das subparcelas.

Componentes de produção: por ocasião da colheita, foram coletadas 10 plantas em local prédeterminado, na área útil de cada subparcela, e levadas para o laboratório para determinação de número de vagens / planta; número de grãos / planta; número médio de grãos / vagem. A massa de 100 grãos foi obtida através da coleta ao acaso e pesagem de 2 amostras de 100 grãos por subparcela.

Análise do nitrogênio total nas folhas e nos grãos: para determinação do teor de N total, foram utilizadas todas as folhas das plantas coletadas em cada unidade experimental, durante o período de florescimento pleno. Os grãos foram coletados após a colheita, representado por uma pequena amostra de cada subparcela. Ambos foram submetidos a uma lavagem rápida com água destilada e colocadas para secagem em estufa de ventilação forçada de ar a 60 - 70oC, as folhas por 72 horas e os grãos por 120 horas. A seguir, moídos em moinho tipo Willey para em seguida, sofreram a digestão sulfúrica e a análise conforme metodologia de Sarruge e Haag (1974).

Produtividade de grãos: as plantas da área útil de cada subparcela foram arrancadas e deixadas para secar a pleno sol. Após a secagem, as mesmas foram submetidas a trilhagem mecânica, os grãos foram pesados e os dados transformados em kg ha-1 (13% base úmida).

Resultados e discussão Observando a Tabela 1, nota-se que em todas as avaliações da porcentagem de cobertura a soja apresentou uma menor cobertura do solo, mesmo sendo realizada a colheita mecanizada, em que os restos vegetais são devolvidos à área. A cultura da soja é bastante difundida no sistema de plantio direto, principalmente na região Centro-Oeste do Brasil, por causa do seu retorno econômico direto. Entretanto, a escolha da cobertura vegetal deve ser feita no sentido de obter grande produção de biomassa (Balbino et al., 1996). Nota-se que a soja foi a terceira cultura que proporcionou maior quantidade de matéria seca (9244 kg ha-1). Tanto o milho, o milheto e o arroz apresentaram maior cobertura do solo, mesmo com valores inferiores de matéria seca em relação à soja, possivelmente por causa de pequenas falhas e imperfeições que provavelmente ocorreram no momento da distribuição dos restos vegetais, a qual foi feita manualmente, após a trilhagem das plantas de soja. Nas outras culturas a homogeneidade foi alcançada por causa do triton para distribuição dos restos culturais.

Tabela 1.
Valores médios referentes às avaliações da porcentagem de cobertura vegetal e à matéria seca dos restos vegetais.
Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, 2001.

Cobertura

Cobertura Vegetal

Matéria
Seca

após o triton

7 dias após o triton

14 dias após o triton

%

kg ha-1

Milho

100,0 a

98,5 a

84,5 b

5799 d

Mucuna-preta

100,0 a

100,0 a

87,9 ab

10310 b

Arroz

98,5 a

94,5 a

79,5 c

4965 d

Soja

91,8 b

86,7 b

71,2 d

9244 bc

Milheto

100,0 a

96,8 a

83,7 b

6361 d

Crotalaria juncea

100,0 a

100,0 a

90,5 a

15201 a

Milho + mucuna preta

100,0 a

98,5 a

84,5 b

7349 cd

CV(%)

0,52

1,53

1,08

13,65

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade

A Crotalaria proporcionou a maior quantidade de matéria seca (15201 kg ha-1). Resultado semelhante foi obtido por Amabile et al. (2000) que, em condições de cerrado, observaram que a Crotalaria juncea apresentou a maior produção de matéria seca, aproximadamente 17.000 kg ha-1, constituindo-se excelente cultura para o sistema agrícola, levando-se ainda em consideração o retorno indireto, ou seja, os benefícios gerados às culturas complementares, como reciclagem de nutrientes, aumento da matéria orgânica (Balbino et al., 1996).

Em relação a mucuna-preta, apesar de ser uma leguminosa com uma baixa relação C/N e apresentar tendência de decomposição mais rápida, nota-se, pela sua grande quantidade de matéria seca, que a taxa de proteção ao solo foi excelente, não diferindo estatisticamente da Crotalaria juncea. Esta, por ter uma quantidade maior de caule, constituiu uma cobertura de solo com teor maior de lignina, tendendo ao longo do tempo ter decomposição mais lenta. O milheto, que também proporcionou boa cobertura de solo, não produziu uma quantidade alta de matéria seca.

Já o milho e o milho + mucuna-preta apresentaram comportamento semelhante em relação às análises de cobertura do solo e matéria seca, concluindo que a presença da mucuna-preta nas entrelinhas do milho não interferiu no resultado final da cobertura do solo.

A avaliação da população de plantas de feijão nos diversos tratamentos não foi submetida à análise da variância, visto que o ‘stand final’ foi homogêneo com variação máxima de 22.000 plantas ha-1 (Tabela 2). Em um experimento realizado por Shimada et al.

(2000), com o objetivo de verificar o efeito causado no feijoeiro de inverno por diferentes populações de plantas, verificaram que tal diferença poderá causar efeitos nos outros parâmetros somente se for superior a 100 mil plantas ha-1. Horn et al. (2000), estudando uma variação de população de 100, 200, 350 e 500 mil plantas ha-1 de feijão, em condições de cerrado, não encontraram diferenças para a maioria das características agronômicas estudadas.

Tabela 2.
Populações de plantas obtidas para o feijoeiro em função de diferentes coberturas vegetais
e níveis de nitrogênio aplicado em cobertura.
Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, 2001.

Parcelas
Coberturas vegetais

População de plantas
(plantas ha-1)

Arroz

237000

Milheto

227000

Milho

237000

Mucuna-preta

237000

Soja

249000

Crotalaria juncea

234000

Milho + Mucuna-preta

241000

Subparcelas

Nitrogênio em cobertura (kg ha-1)

0

234000

30

245000

60

242000

90

238000

120

227000

150

238000

Os resultados da avaliação das diversas características agronômicas do feijoeiro, em função das coberturas vegetais e diferentes níveis de adubação nitrogenada estão apresentados nas Tabelas 3, 4, 5 e 6. Houve efeito significativo da cobertura vegetal e níveis de nitrogênio para a massa seca de plantas e efeito significativo da interação cobertura vegetal x níveis de N para a massa seca de plantas, número de vagens por planta e número de grãos por planta. Além disso, a análise de regressão para os níveis de nitrogênio aplicados em cobertura mostrou efeito significativo para a massa seca de plantas.

Somente o número de grãos por vagem não apresentou diferença significativa, mostrando que é uma característica intrínseca do cultivar.

Tabela 3.
Desdobramento da interação significativa referente à massa seca de plantas.
Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, 2001.

Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si ao nível de 5% pelo teste de Tukey;
(1) Y = 4,073 + 0,152 x - 0,0023 x2 + 0,00001x3 r2 = 0,95;
(2) Y = 5,294 + 0,060 x - 0,0003 x2 r2 = 0,80

Tabela 4.
Desdobramento da interação significativa referente ao número de vagens por planta.
Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, 2001.

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, ao nível de 5%, pelo teste de Tukey
(1) Y = 12,116 - 0,095 x + 0,0007 x2 r2 = 0,97
(2) Y = 9,126 + 0,030 x r2 = 0,65
(3) Y = 11,431 - 0,063 x + 0,0004 x2 r2 = 0,70

Para massa seca da parte aérea das plantas, notase que a interação cobertura x nitrogênio foi significativa, o desdobramento se encontra na Tabela 3, sendo que em geral a Crotalaria juncea proporcionou maior incremento nessa característica concordando com Wutke et al. (1998) que, avaliando o rendimento do feijoeiro irrigado em rotação com gramínea e adubos verdes, notaram que a utilização da Crotalaria juncea é extremamente viável na rotação com feijoeiro, aumentando sua massa seca. Nos tratamentos com restos culturais de arroz e de soja, os dados de massa seca de plantas se ajustaram a equações cúbica e quadrática, respectivamente, em função do aumento dos níveis de nitrogênio aplicado em cobertura.

Tabela 5. t
Desdobramento da interação significativa referente número de grãos por planta.
Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, 2001.

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si, ao nível de 5%, pelo teste de Tukey

(1) Y = 63,058 - 0,545 x + 0,0040 x2 r2 = 0,94
(2) Y = 49,347 + 0,730 x - 0,0138 x2 + 0,00006x3 r2 = 0,70
(3) Y = 46,055 + 0,174 x r2 = 0,69
(4) Y = 59,552 - 0,420 x + 0,0029 x2 r2 = 0,68

Tabela 6.
Massa de 100 grãos N total na parte aérea e nos grãos e produtividade de grãos do feijoeiro em função de diferentes coberturas vegetais e níveis de nitrogênio aplicado em cobertura.
Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, 2001.

Médias seguidas de mesma letra na coluna para cada fator não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey
(1) 2033,38 + 0,99x r2 = 0,82

O desdobramento da interação referente ao número de vagens por planta está apresentado na Tabela 4. Nota-se que houve apenas efeito significativo entre as coberturas vegetais nos níveis de 120 e 150 kg ha-1 de nitrogênio, onde o cultivo do feijão após a Crotalaria juncea propiciou a obtenção do maior número de vagens por planta nos dois níveis de N utilizados e houve destaque também para o feijão cultivado após milho no nível de 150 kg ha-1 de N, em relação a este parâmetro. Na média, observa-se que o feijoeiro apresentou comportamento semelhante em todas as coberturas vegetais utilizadas.

Para o cultivo após milho, Crotalaria e milho + mucuna-preta a aplicação de níveis crescentes de nitrogênio se ajustaram às funções linear, quadrática e linear respectivamente, concordando com os dados de Calvache (1997), onde comprovaram em seus experimentos que o N em cobertura afetou o número de vagens/planta.

Na Tabela 5, está apresentado o desdobramento para o número de grãos por planta e a cobertura propiciada pelo milheto, na média, apresentou certa tendência a um menor incremento neste parâmetro.

O cultivo do feijoeiro após milho se ajustou a uma função quadrática, após mucuna-preta a uma função cúbica, após a Crotalaria a uma função linear e após milho + mucuna-preta se ajustou a uma função quadrática em resposta a aplicação de diferentes níveis de N. Esses resultados concordam com Calvache (1997) e Silva et al. (2000), pois concluíram em seus experimentos que a aplicação de doses crescentes de N no solo influenciam no número de sementes por planta.

Na Tabela 6, estão apresentados os quadrados médios referentes à massa de 100 grãos, N total da parte aérea e nos grãos e a produtividade do feijoeiro. Nota-se que não houve resultado significativo do tipo de cobertura, níveis de nitrogênio ou mesmo das interações para o número de grãos por vagem, massa de 100 grãos e para a produtividade. Esses resultados concordam com Arf et al. (1999) que, trabalhando com doses e parcelamento da adubação nitrogenada em cobertura na cultura do feijão de inverno, sob sistema de plantio direto, verificaram que não houve efeito significativo para os parâmetros avaliados. Além disso, a análise de regressão para os níveis de nitrogênio aplicados em cobertura mostrou efeito significativo apenas para a produtividade de grãos.

Os dados médios obtidos na avaliação dessas (Tabela 6) mostram que a aplicação de níveis crescentes de N, bem como a utilização de diferentes coberturas vegetais não influenciaram significativamente a massa de 100 grãos os teores de nitrogênio total na parte aérea e nos grãos. Observase ainda que, em todas coberturas vegetais e níveis de nitrogênio aplicados em cobertura, as plantas apresentaram, na época do florescimento, teores adequados de N na parte aérea (Malavolta et al., 1980). Isso, provavelmente, ocorreu devido ao suprimento das necessidades das plantas pelo nitrogênio presente no solo ou obtido em todos os tratamentos.

O teor de N nos grãos dá uma idéia do estado nutricional da planta e do teor de proteínas nos mesmos, podendo-se observar que não houve diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 6), indicando então um equilíbrio no estado nutricional da planta e no teor de proteína dos grãos do feijoeiro cultivado em diferentes coberturas vegetais e com diferentes níveis de adubação nitrogenada em cobertura. No presente trabalho verificou-se que as diferentes coberturas vegetais não apresentaram diferença significativa pelo teste F.

Entretanto, dentro do contexto econômico nacional, dificilmente um agricultor irá deixar de cultivar a cultura da soja no verão para semear a crotalária, porém, deve-se ressaltar que, dentro de um sistema de produção, com cultivo no sistema de plantio direto, uma opção seria entrar com adubos verdes, no caso, a crotalária, em uma pequena parte da área, em um sistema de rotação de culturas, visando a melhoria das características da área e o aumento da matéria orgânica no solo (Wutke, 1998).

A aplicação de nitrogênio em cobertura se ajustou a uma função linear onde, com o aumento dos níveis de nitrogênio, houve aumento na produtividade de grãos. Os resultados obtidos concordam com os obtidos por Oliveira et al. (1996) e Soratto et al. (2000), os quais obtiveram um aumento significativo na produtividade de grãos com o aumento dos níveis de N aplicado em cobertura. Por outro lado, pode-se observar que a adição de 150 kg ha-1 de N propiciou um acréscimo de apenas 9% na produtividade em relação ao tratamento testemunha. Incrementos maiores foram encontrados nos trabalhos de Fronza et al. (1994) que obtiveram um aumento de 72% em relação à testemunha, Silva et al. (2000) obtiveram um incremento de 65%, mostrando então a eficiência da adubação em cobertura, confirmando que o feijoeiro pode responder a doses elevadas de nitrogênio.

Vários fatores podem explicar este pequeno incremento, tais como a hipótese de o nitrogênio presente no solo ter sido suficiente para suprir as necessidades da cultura do feijão, ou mesmo simbiose com rizóbios nativos do solo; pode ainda pode ter ocorrido a mineralização dos resíduos vegetais disponibilizando N à cultura do feijão.

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Received on May 15, 2002.
Accepted on March 26, 2003.

Tiago Roque Benetoli da Silva1*, Orivaldo Arf2 e Rogério Peres Soratto1
arf[arroba]agr.feis.unesp.br

1. Departamento de Produção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Campus Botucatu, Fazenda Experimental Lageado, C.P.237, 18603-970, Botucatu, São Paulo, Brasil. 2. Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia Faculdade de Engenharia, Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil. *Autor para correspondência. e-mail: benetoli[arroba]fca.unesp.br



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