Um colega de trabalho é considerado chato porque puxa o saco do chefe, um marido é considerado chato pela esposa porque faz muito barulho com seus arrotos e flatulências, ele revida, dizendo que ela é mais chata porque o trata com menos carinho do que o cão, que passou a dormir na cama do casal. É claro que o homem reclamou, mas ela sugeriu que ele fosse dormir no tapete da sala.
Não são somente os adultos que carregam a pecha de chato. Uma criança considerada chata geralmente é malcriada, birrenta, não aceita nãos, e certamente foi desde muito cedo mimada pelos pais. Um professor pode ser considerado chato pelos alunos porque suas aulas são tão monótonas e previsíveis que funcionam como soníferos; já o aluno chato em geral é desinteressado nas aulas, preferindo perder o tempo com brincadeiras bobas, fora de lugar e hora, que terminam irritando os colegas e professores.
Os exemplos de sujeitos chatos são infinitos. Alguém fez uma estimativa sobre o aumento do número de chatos crescendo em progressão geométrica enquanto a população aumenta em progressão aritmética. Se é verdade esta previsão, o mundo do futuro será insuportavelmente chato para se viver, aliás como já previra o grande Barão de Itararé, na primeira década do século passado.
Os animais também podem ser chatos, como o cachorro do vizinho que late a noite toda, ou o passarinho que canta como que para testar os nossos ouvidos. O animal chateia ou não dependendo de nossa experiência, simpatia e empatia para com eles. Tem gente que não gosta de gato, outros não gostam de cachorro, papagaio, periquito, etc. Cada um tem seus motivos conscientes ou não conscientes do por que o bicho é irritante e chato. Já os insetos, vírus, bactérias, certamente despertam vários sentimentos negativos para além de despertarem chateação, que para alguns geram até fobias: aracnofobia, por exemplo, é a fobia de aranhas...
Quando nossa saúde fica abalada certamente nos sentimos chatos. Ninguém nega que os sintomas de uma gripe diminuem nosso humor e aumenta nossa irritação por tudo. Entretanto, uma nova patologia psíquica denominada pelos psiquiatras de distimia vem diagnosticando as pessoas crônica e continuamente mal humoradas; provavelmente é atualmente a doença que mais chateia tanto o doente como os que lhe são próximos.
Raymundo da Lima
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