Traçar a trajetória do corpo na escritura do ficcionista Caio Fernando Abreu, a circulação e a disseminação de suas narrativas pelos fragmentos textuais, através de múltiplas fraturas e interstícios por eles abertos no espaço da narrativa pós-moderna, não é mais do que tentar percorrer, reescrevendo-a enquanto leitura do desejo, de signos esfacelados e espalhados como Osíris.
Nesse recortes de si, teremos desenhos de Caio por viés. Sempre aos saltos, vestido de preto, com ladrilhos de espelhos colados pela roupa, ora dark, ora hippie, ora etéreo, meio poeta noturno, lunar, verborrágico e com extrema sensibilidade. Costumava dizer que era o retrato vivo de todos os clichês de seu tempo.
Dono de uma escritura que ele mesmo intitulou de barthesiana e nesta pesquisa acrescenta-se, também, perversa, esconde no seu corpo escritural viagens vertiginosas, deslocamentos incessantes que falam de “amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura”.
Nesse horizonte do texto-a-texto com Caio, ainda que espiando-lhe de longe, o ficcional “se encontra com a verdade à medida que questiona as práticas da verdade”. (LIMA, 1991, p.51). A obra ficcional, segundo Costa Lima, organiza-se no plano da persona desviando-se sempre dela, possibilitando uma visão à distância, em outro espaço.
Rodrigo da Costa Araújo
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