Pesquisando democracia e desenvolvimento


Apresentação do seminário “Força e legitimidade”, sobre o programa de pesquisa do novo Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Democratização e Desenvolvimento da Universidade de São Paulo. O seminário foi realizado no segundo semestre de 2003 e as contribuições serão reunidas proximamente em livro.

Como este seminário foi pensado como apresentação do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Democratização e Desenvolvimento à comunidade uspiana, gostaria de começar observando o que, a meu juízo, nos aproxima e diferencia de organismos semelhantes, o que a forma de organização adotada, vinculada à Pró-Reitoria de Pesquisa, acrescenta em relação às atividades que tradicionalmente desenvolvemos nos departamentos. Salvo engano, a proposta de criação de núcleos de pesquisa na Universidade de São Paulo obedeceu a pelo menos duas ordens de considerações [1]. A primeira foi teórica: em suas formulações mais avançadas, o pensamento moderno acata a idéia de que as mais ricas interpretações da realidade derivam de enfoques metodológicos que relativizam os limites das abordagens disciplinares e estabelecem diálogo entre variados campos do saber. Seja nas ciências da natureza, seja, com maior ênfase, nas ciências humanas, a busca da inter e da transdisciplinaridade impõe-se como orientação básica, se o objetivo é dar conta da realidade. A segunda razão é institucional. Não é segredo para ninguém que, a par de suas conhecidas vantagens em relação à velha cátedra, a estrutura departamental do trabalho acadêmico dificulta por vezes a interlocução organizada entre campos disciplinares afins; dificuldade redobrada pela ambivalência das agências públicas de fomento à pesquisa, que mantém a retórica interdisciplinar, mas avaliam por disciplina.

Tudo isso acaba por provocar o aparecimento de outras formas de associação e cooperação entre pesquisadores de especialidades e orientações distintas. Os NAPs apareceram nesse contexto como tentativas institucionais de superar as limitações mencionadas. Contudo, também eles têm seus riscos. Sem que se saiba o que é causa e o que é conseqüência, ao verticalizar a vocação temática, acabam criando novas barreiras ao trabalho multidisciplinar; e tal verticalização favorece ou é favorecida pela feudalização. Quando esta ocorre, é como se a instituição destinada a criar novos laços de solidariedade intelectual, complementar e não concorrente aos departamentos, caísse no círculo de ferro do nosso velho personalismo, apenas recoberto por capa meritocrática (como se sabe, formulações como as de Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil; Nestor Duarte, em Ordem Privada e Organização Política Nacional; Maria Isaura Pereira de Queiroz, em O Mandonismo na Política Brasileira, entre outros, também se aplicam ao cotidiano acadêmico...).

Com base nesta percepção, nossa proposta foi a de criar um núcleo de pesquisa com escopo reconhecidamente amplo, que abordasse uma problemática e não apenas uma temática, e construísse sua identidade não pela crença em um Método ou em qualquer Teoria privilegiada, mas pela capacidade de funcionar em rede e de conjugar expertises diversas no processo de apreensão do real, por sua vez visado sempre como uma totalidade. Daí a sua composição, que reúne sociólogos, historiadores, filósofos, geógrafos, economistas e cientistas políticos - coisa rara nesta Faculdade - numa empreitada comum. Daí seu mínimo denominador: seja qual for o objeto posto para investigação, trata-se de situá-lo em suas relações com as outras esferas e aos problemas da sociedade global.

Nosso universo, assim, é o das ciências humanas, e o nosso problema teórico, horizonte de investigação, será, veremos adiante por que, o das complexas e desiguais relações entre os processos de democratização e desenvolvimento.


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Gildo Marçal Brandão
gmb[arroba]usp.br


 
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