O olhar segundo Jean-Paul Sartre


Influenciado por Hegel, Husserl, Heidegger, Marx e Descartes, Sartre, o primeiro fenomenólogo francês, é muito apreciado por sua capacidade de ter sido filósofo, literato e político engajado ao mesmo tempo. Sua obra principal, base do existencialismo, é o Ser e o Nada, publicado em 1943, onde ele dedica um item à questão do olhar, ao qual atribui um lugar de suma importância para a constituição do ser.

Segundo ele, o olhar mascara os olhos, pois desde o momento em que o percebemos, os olhos são colocados em segundo plano. Este olhar não está ligado a uma forma determinada. Não é somente a convergência dos glóbulos oculares, mas uma manifestação de tudo que o lembre (barulho de passos, ranger de portas, etc), assim sendo, quando percebemos o olhar, deixamos de perceber os olhos. O olhar não é neutro, ele me avalia e me atribui julgamentos de valores que são, ao mesmo tempo, verdadeiros e falsos, e por isso o outrem me constitui através de seu olhar.

Quando fixo meu olhar sobre o outrem eu o concebo, por probabilidade, em um contexto, ele se refere a mim mesmo e a alguma outra coisa além dele próprio (o local onde se encontra). Isto o faz sujeito, além de sua objetividade. Quando sou olhado, é minha objetividade que prevalece. Ser uma coisa para o outrem, ou seja, para aquele que me olha, é a anulação da minha liberdade, porque o outrem me envolve com seu olhar e me revela o meu ser-objeto.

Sartre cita o exemplo de um jardim onde temos a grama, as cadeiras, etc, nesse contexto, vejo um homem que passa. Eu o percebo como um homem e não como uma coisa a mais, pois ele não é, simplesmente, visto, mas também vê as coisas que estão ao seu redor. Este homem me vê e há uma fuga, a percepção me escapa, a própria presença do outro me escapa; sou afetado profundamente pelo olhar e perco minha transcendência.

Podemos, segundo o autor, distinguir o olhar em três momentos: primeiramente o homem acrescido à paisagem, onde é concebido como objeto que pode ser retirado do contexto, tal como um banco, uma árvore, ou qualquer outra coisa; em seguida, existe o homem em relação com a paisagem, uma relação unívoca que escapa dele, ele não pode ser retirado, mas não tenho relação real com ele, aí, ele é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito; por último temos o homem em relação a mim, onde ele passa de objeto a sujeito.


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Celuy Roberta Hundzinski Damásio
celuy.roberta[arroba]gmail.com


 
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