A Festa de Babette (1987), filme de Gabriel Axel, parece ser do tamanho do mundo (se isso pode ser pensando) quando instaura crises, reflexões, devaneios em tempos de pós-modernidade. Uma poética que instiga diálogo com vários textos. O filme, que tem como pano de fundo o final do século XIX e se passa num vilarejo na Dinamarca, também aponta repressões ocorridas em Paris.
Nossa leitura terá apoio nessa narrativa para falar ou propor reflexões que permitam a transgressão, inclusive a do pensamento, coisas do “tamanho do mundo” e também no conceito de intertextualidade proposto por Julia Kristeva. Portanto, não será novidade a interrelação do filme com o tema “o tamanho do mundo” porque, na formação de um outro texto, no caso desse curto ensaio, como aponta a estudiosa francesa, há um movimento simultâneo de absorção e modificação como registrado na epígrafe acima. E, nesse caso, é o deslocamento que norteará os diálogos.
O filme explora uma fotografia gélida e sombria, retrata a vida com delicadeza dos signos, materializando, assim, o clima que norteia a pacata aldeia afastada da civilização e cujos princípios se refugiam no louvor a Deus e nos preceitos religiosos.
Numa grande tempestade, em 1871, Babette chega ao vilarejo da Dimamarca fugida da guerra que assombra a França para se hospedar na casa das religiosas Matina e Philippa, filhas do falecido pastor e mentor religioso do lugarejo.
Sob a égide do rigoroso pastor luterano, as irmãs conduzem a vida sob uma rotina religiosa, sacrificando paixões e desejos em nome da fé e das obrigações. Tinham o compromisso de manter vivos os ensinamentos do pai entre habitantes do pequeno lugarejo.
Com a chegada de Babette, uma misteriosa refugiada da guerra civil da França, a vida para as irmãs e seu pequeno povoado começa a sofrer transformações significativas. Após viver quatorze anos como criada e cozinheira das irmãs, Babette vive limitada e esquecida na rotina que não exigia da vida transgressões fundamentais.
Até que um dia, Babette é informada que ganhou um prêmio elevado na loteria e, ao invés de retornar a França, pede permissão para preparar um jantar em comemoração ao centésimo aniversário de morte do pastor. Começa então, nesse momento, reflexões que enovelam em uma teia de explosões visuais intermitentes que contagia os signos em cadeia erotizante de devoração (ou degustação?), suspendendo os sentidos, violando as leis e a lógica vigentes na desolada comunidade da costa da Dinamarca, para se fazer apenas transgressão.
Rodrigo da Costa Araújo
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