Na encruzilhada do destino: Afinidades e diferenças do olhar em Walter Benjamin e Hannah Arendt


Uma das últimas cartas de Walter Benjamin, publicada no segundo volume da edição francesa da sua correspondência, no Verão de 1940, pouco tempo antes da sua morte, é dirigida a Hannah Arendt. Sem dúvida que ele esperava juntar-se-lhe nos Estados Unidos, para onde se dirigia uma grande parte dos intelectuais alemães e judeus que viviam exilados por toda a Europa, durante a perseguição nazi.

Todavia, a trágica e inesperada morte de Walter Benjamin impediu esse encontro. Hannah sentiu para com ele essa dívida de alma, encontrando no seu pensamento uma fonte de inspiração, ainda que as divergências sejam grandes entre ambos. Hannah Arendt nunca se viu como filósofa e nunca pediu para si mais do que o estatuto de pensadora política. Walter Benjamin, na sua correspondência, reclama para si o de crítico literário. Mais pragmática e sistemática que Benjamin, ela legou-nos um pensamento vasto e transparente como as claras águas de um rio. Próxima de figuras do pensamento tão incontornáveis como Jaspers ou Heiddeger, ela soube desenvolver a entretecedura do seu pensamento e da sua escrita de uma forma tão original quanto pragmática e, nessa medida, afasta-se do pensamento fenomenológico puro.

A generosidade de Hannah Arendt, no modo como se dedicou a todos os amigos de comum destino, revela uma humanidade, que nos toca. É graças aos seus esforços, como aos de Gershom Scholem, Adorno, Horkheimer, entre outros, que nos é traçado o percurso de vida de Benjamin. Em Homens em Tempos Sombrios, um conjunto de ensaios dedicados a vários autores célebres da modernidade (Hermann Broch, Rosa Luxembourg, Brecht, entre outros), Hannah consagra um longo estudo (o qual já havia sido publicado como prefácio à obra de Benjamin, Illuminations) a Walter Benjamin, onde testemunha a sua existência, sempre determinada pelas precárias condições económicas e trágicas em que viveu, e convive com o seu pensamento, com a abertura e a frontalidade que sempre lhe conhecemos, mesmo quando o preço a pagar por essa frontalidade lhe saiu demasiado elevado.

Nesta obra, a autora não procura apenas desenhar os contornos da obra de Walter Benjamin, mas essencialmente confrontá-la com a dos pensadores que mais o influenciaram, nomeadamente autores como Gershom Scholem e Kafka, analisando a influência do romantismo alemão e do pensamento morfológico de Goethe, sem dúvida aquele que mais notavelmente marcou a obra de Walter Benjamin.


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Maria João Cantinho
mjcantinho[arroba]hotmail.com


 
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