Patty Diphusa e outros textos (1992), livro escrito pelo cineasta Pedro Almdóvar revela o tom erótico, vertiginoso e transgressor de suas películas. De cunho autobiográfico e escrito nos anos oitenta, os traços da escritura de Almodóvar podem ser vistos, também, em suas cenas transbordantes de desejo e do aveludado vermelho da paixão. Uma extrema mise em scène do desejo. Afinal de contas tudo remete ao céu vermelho “e ausente de estrelas de Madri” - cenário preferido de seus filmes. “Sempre encontrei uma paisagem perfeita e uma fauna incorreta e ideal para cada um dos meus filmes”. (ALMODÓVAR, 1992, p.17).
Tudo, semelhante A Lei do Desejo, é escrito feito recortes em palimpsestos ou pequenos “fragmentos do discurso amoroso” - “Geralmente você conta histórias que já viu, mas alterando-as”. (1992, p.173).
Almodóvar, ficcionalizado no livro, conversa com Patty (totalmente “difusa”, “mulher sozinha e evasiva”) (1992, p.91) e confessa no prólogo do livro: “ Através de Patty eu (...) aproveito para me exercitar na escrita, atividade pela qual sempre senti inclinação” (1992, p.9-10).
Patty Diphusa, como muitos personagens das narrativas transgressoras do cineasta, é vertiginosa e semelhante ao adjetivo “difuso” que a acompanha no título do livro. “ O sinal de nossos tempos é a vertiginosidade, a atividade frenética. E você é uma garota típica do nosso tempo”. (1992, p.98). A narrativa autobiográfica, verborrágica e “obtusa” é recortada com memórias de Patty em pequenos flahes cinematográficos em primeira pessoa.
Mulher insaciável, erótica e estrela internacional de fotonovela pornô, a protagonista recebe um convite de um diretor de uma revista pós-moderna para relatar suas memórias. Semelhante a Almodóvar, Patty é do signo de libra, como Brigitte Bardô e Oscar Wilde - espelho, “iconografia feminina” (MELO, 1996, p.235) e inspiração para as mulheres da poética almodovariana.
Rodrigo da Costa Araújo
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