Esta comunicação trata de dois assuntos principais.
Em primeiro lugar, da recepção dos escritos de Adorno, da sua reverberação no campo musical. Esta parte do texto é fortemente autobiográfica na medida em que reflete e acompanha as fases da minha formação e da minha vida como músico e compositor. Desse meu ponto de vista, parti de uma suspeita, pude colocar uma hipótese e terminar com uma interrogação.
Em segundo lugar, coloco num nivel mais geral a questão da tradução; vou referi-la no primeiro ponto, relativamente aos diferentes tempi das traduções das obras de Adorno nas diferentes línguas, tentarei levantar aqui uma necessidade paradoxal de tradução relativamente às músicas e aos seus diversos contextos de existência ou seja, por outras palavras, face ao funcionamento de hegemonias nas duas indústrias culturais: a de massas e a de elite.
Foi publicado há cerca de um ano um livro meu que inclui vários ensaios sobre música e estética entre os quais dois ensaios sobre Adorno; sigo de perto a ideia principal desses ensaios, mas acrescento algumas hipóteses novas.
No campo da reflexão estética sobre música, Portugal está muito próximo do zero. Estamos sem dúvida muito longe, no tempo e no espaço, da excitação intelectual que fez com que, quando o livro de Adorno Filosofia da Nova Música foi publicado em 1949, alguns compositores frequentadores de Darmstad tenham começado a estudar alemão para poderem ler o retumbante volume, como refere o livro de Max Paddison. Os compositores portugueses escrevem pouco, suspeito que a maioria não lê muito, e quando lê, não lerá Adorno. Ou nunca leu, ou já leu há muitos anos, ou já não quer ler.
António Pinho Vargas
antoniopinhovargas[arroba]gmail.com