António Pinho Vargas leu a transcrição da entrevista anterior, anotou-a. É um diálogo que prossegue.
Depois de 1998 a ópera “existiu” mais duas vezes: na apresentação em versão de concerto na Culturgest em 2002, no ciclo de concertos com a minha “Obra Completa” e na saída da edição em CD em 2004 na EMI.
Estas duas circunstâncias permitiram-me regressar à ópera. No primeiro caso, pude realizar a revisão que queria fazer e, no segundo, mergulhar profundamente na obra durante o longo trabalho de edição da gravação com José Fortes. Quanto à revisão quero esclarecer em que secções mexi. Alterei bastante a parte de Moçambique no I Acto. Não tinha ficado satisfeito com o meu trabalho aí. Não posso explicar porquê mas os textos que referiam os massacres eram-me insuportáveis. E, no entanto, queria mantê-los.
Tratava-se de os incluir com um tipo de desbobramento vocal que os tornasse ininteligíveis. A solução da revisão agrada-me muito mais e passou por uma alteração da distribuição das falas – antes alternadas com o diálogo dos quatro soldados e agora passadas para uma introdução coral. Já sabia em 1998 que gostaria de alterar esta secção mas não havia tempo. Na segunda alteração, de muito menor importãncia, escrevi alguns compassos para o coro pequeno no “Chão da História” para substituir algumas intervenções faladas com ritmo escrito muito difíceis de realizar com rigor. Não houve nenhuma outra alteração embora tivesse parecido porque a realização musical, quer do coro quer da orquestra, foi muito mais correcta na Culturgest.
António Pinho Vargas
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