O artigo aborda o carnaval gay realizado em determinados territórios de Florianópolis, como praias, bares, boates e também numa rua do centro da capital, tendo como base central a ocupação destes espaços e a sociabilidade que neles tem lugar. Realiza-se desta maneira um estudo da homossexualidade brasileira, mas por via de uma territorialidade, em vez de se centrar a análise numa suposta identidade homossexual comum a homens e mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente com pessoas de seu próprio sexo. Através de um levantamento histórico e bibliográfico, de conversas informais e da observação participante, compreende-se este carnaval gay como a dramatização de uma vivência homossexual no Brasil, particularmente na capital catarinense, e suas possibilidades de reterritorialização para sujeitos que possuem um histórico de vidas desterritorializadas por conta de sua orientação sexual.
Palavras-chave: homossexualidade; liminaridade; territorialidade.
Durante os anos de 2001 e 2002, realizei em Florianópolis, mais especificamente na Ilha de Santa Catarina, uma etnografia que tinha como objetivo inicial o estudo de uma parte do carnaval de rua da cidade, conhecido como carnaval gay, que acontece em determinados territórios. Partindo de estudos relacionados à antropologia da festa e à antropologia urbana, bem como os estudos de gênero e, mais especificamente, de homossexualidade, encontrei a possibilidade de realizar um estudo que, em primeiro lugar, nega apoiar-se numa suposta identidade homossexual, comum a homens e mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente com pessoas de seu próprio sexo. Assim, opta-se por uma leitura da utilização presente e passada destes espaços, um estudo de territorialidade, em que a ocupação física e simbólica de domínios como a casa e a rua e seus espaços intermediários pode apontar para a especificidade da homossexualidade na cultura brasileira.
Desta forma, este trabalho fará a utilização de uma categoria de entendimento que tem se mostrado reveladora para o estudo do espaço urbano contemporâneo. Trata-se da noção de pedaço (MAGNANI, 1996), entendida aqui como um conjunto de territórios marcados por uma determinada sociabilidade que, antes de estar impregnada na identidade dos atores sociais, faz-se presente na ocupação de certos roteiros. Os territórios de que tratarei aqui - observados a partir do carnaval - são marcados pela sociabilidade que se convencionou chamar de GLS.
Marco Aurélio da Silva
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