Um dos aspectos mais originais da Ontologia de Lukács está na peculiar relação que estabelece entre método e ontologia. Todavia, este é, também, um dos seus aspectos menos explorados. Normalmente, ao se discutir o método em Lukács, se recorre à História e Consciência de Classe muito mais que aos seus últimos escritos.
As dificuldades do tema, contudo, são proporcionais à sua importância. Ainda que inúmeras referências sejam feitas ao longo de Per una Ontologia dell' Essere Sociale, na enorme maioria das vezes explicitando aspectos do procedimento metodológico de Marx ou então criticando a postura hegeliana, Lukács não nos deixou nenhuma discussão exaustiva sobre o tema. Este fato nos obriga, preliminarmente, a um esforço de sistematização das diferentes passagens nas quais o filósofo húngaro aborda a problemática do método. Sendo assim, longe de solucionar as dificuldades, pretendemos, neste artigo, organizar coerentemente as passagens acerca da relação entre método e ontologia que encontramos fundamentalmente (ainda que de modo não exclusivo) no capítulo central de sua Ontologia, «O Trabalho».
Uma abordagem que se propõe ontológica parte de questões metodológicas; um capítulo dedicado à análise da categoria do trabalho enquanto tal tem início por um argumento de caráter essencialmente metodológico. Este início poderia sugerir, a um leitor apressado, uma prioridade da esfera metodológica sobre a ontologia -- justamente o oposto do que postulam os textos da maturidade de Lukács. Por outro lado, é da máxima importância o fato de Lukács iniciar, com uma referência direta à questão do método, o capítulo conceitualmente decisivo da sua Ontologia. Tal fato corresponde a uma característica marcante no último Lukács, que é o seu esforço para delimitar seus pressupostos metodológicos principalmente frente ao neo-positivismo, ao materialismo vulgar e ao idealismo hegeliano -- não raramente, repetimos, sob a forma de discussão dos pressupostos de Marx.
Sergio Lessa
sergio_lessa[arroba]yahoo.com.br