No início do século XX, as comunidades judaicas que começavam a se organizar nas principais cidades do país, como Rio de Janeiro e São Paulo, tiveram que lidar com a presença de prostitutas judias. O convívio da população local com as “indesejáveis” desafiava a imagem que os judeus gostariam de passar (povo pacato, ordeiro, moralmente íntegro), de modo a facilitar sua integração à sociedade nacional. O artigo trata das motivações que levaram jovens judias sobretudo do leste europeu ao mercado do prazer, sua presença no Brasil e as estratégias usadas pelas comunidades judaicas na criação de fronteiras simbólicas entre “puros” e “impuros”, evitando, desta forma, más interpretações e confusões por parte dos gentios.
PALAVRAS-CHAVE: prostituição judaica; imigração judaica; identidade étnica.
O Brasil experimentou, entre meados do século XIX e início do século XX, mudanças significativas na sua paisagem urbana, sobretudo em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde se perseguia o progresso, a modernidade e a “civilização”. O objetivo era inserir-se no mundo civilizado reproduzindo o mundo europeu através de novos lazeres e possibilidades de busca do prazer. Surgia a vida noturna e, com ela, novos personagens nem sempre bem vindos pelas autoridades policiais e pela população de uma maneira geral, como cafetões e prostitutas. Passear pela cidade, divertir-se nas casas de espetáculos, almoçar e jantar nos restaurantes, cafés e confeitarias ou simplesmente admirar as vitrines dos magazines passou a fazer parte do cotidiano de paulistas e cariocas.
“A ‘indústria do lazer’ possibilitou uma nova movimentação das ruas e, conseqüentemente, uma nova ordem urbana. Longe já se estava da época na qual as ladainhas, as novenas, as festas dos santos eram os únicos acontecimentos a quebrar a monotonia da nascente burguesia cafeeira” (Menezes 1992:23).
Marcelo Gruman
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