O objetivo deste estudo foi analisar os significados da violência entre os policiais militares decorrentes do uso da força letal na sua atuação profissional, justificando as mortes de policiais e civis. A literatura sobre a atividade policial e violência tem enfocado uma trajetória associando sua função política de controle social. Raros foram os estudos que colocaram o foco nas concepções dos policiais sobre o seu trabalho e risco profissional.
Uma pesquisa qualitativa com base empírica de setenta entrevistas com policiais militares de todas as patentes e funções operacionais foi feita em Salvador. Procedeu-se a um levantamento de dados sobre a vitimização em atividades policiais militares na Bahia no período de 1999-2001 para fundamentar as entrevistas. Para os policiais militares o uso da força no trabalho necessita um significado moral para justificar a intervenção física contra outrem. A violência permanece com um significado negativo e representa uma falha nos argumentos e no preparo profissional. Nas justificativas para a gradação do uso da força são comentadas a influência dos oponentes e dos espectadores da cena, a tensa convivência interna e a formação militar. As mortes de policiais são representadas como se eles fossem descartáveis. Houve uma escolha moral nos exemplos mortes de bons policiais e as explicações foram as falhas institucionais ou a condição de ser policial. As mortes provocadas por policiais têm uma representação de serem empurrados e elas sofrem um processo de naturalização institucional. Houve uma manifestação de alto nível de pressão no trabalho e da falta de um programa institucional para policiais envolvidos em confrontos armados. As expectativas dos policiais sobre seu trabalho são de reconhecimento pela tarefa de proteção e apoio social que fazem quotidianamente, acabar o militarismo na polícia, melhorar as condições de trabalho e terem acesso à formação humanitária, aprimoramento profissional para atuarem na resolução de conflitos.
Maria Da Conceição Casulari
conceicaocasulari[arroba]gmail.com