A referência, numa aula de História do Brasil, a uma suposta alteração que o compositor Wilson Batista teria feito, por pressão da política disciplinadora do Estado novo, na letra do samba “O Bonde de São Januário” trocando o verso “O Bonde São Januário leva mais um sócio otário, só eu não vou trabalhar” por “... leva mais um operário, sou eu que vou trabalhar” foi o ponto de partida para a escolha do tema do presente trabalho: as noções de malandragem e trabalho durante o período do governo de Getúlio Vargas correspondente ao Estado Novo.
Durante a ditadura estado-novista vigorava, em nosso país, uma extremamente fértil fase de criação musical, denominada “Era do Rádio”. Curiosamente a passagem de Vargas pelo cenário político brasileiro também nomeou uma era: “A Era Vargas”. As relações entre estas duas “eras”, as mudanças e permanências sobre as obras e a identidade “malandra” dos sambistas diante da tentativa de imposição de uma ética do trabalho a estes criadores pela ideologia política do Estado Novo delimitarão nosso estudo.
A malandragem, que até então mantinha laços estreitos com a música popular no Brasil e com a qual muitos sambistas eram identificados, não era vista com bons olhos pelo aparelho repressivo da época. Diversos sambas cujas letras não se identificavam com o então direcionamento político estatal foram censurados pelo Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP, órgão encarregado de fortalecer a imagem paternalista de Getúlio Vargas e difundir a política cultural do Estado Novo na qual prevaleciam os ideais de exaltação do trabalho.
Maurício Martins de Souza
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