Num tempo antigo de que não há memória, num calmo fim de tarde, o momento ideal para todos os desaparecimentos, um homem vê , sem compreender, que o seu companheiro se imobiliza e se cala, estranhamente. O que aconteceu? Será o sono de todos os dias, apenas desta vez mais calmo e prolongado? Mas o corpo tornase cadáver, primeiro tão parecido com o dos animais que lhes servem de alimento, depois começa a apodrecer e a pouco e pouco desaparece. A analogia com os animais mortos aliada à dolorosa observação do acabamento físico, e à ausência de comunicação, terão incutido no espírito desses homens antigos uma primeira consciência, ainda ténue, da morte.
Carlos Machado
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