a questão da leitura
Millôr Fernandes
[...] Na cabeça a gente ainda tem a cara, que fica na frente, e a nuca que está sempre atrás, por mais que a gente vire pra olhar ela. Os membros são para ter a ponta dos dedos, que senão a gente não podia fazer as contas nas provas de matemática. Os braços servem para proteger a gente da cosquinha, senão a gente ria com qualquer ventinho que desse embaixo do braço. O tronco é onde é mais bonito na mulher do que no homem. Atrás dele fica a espinha, que é uma porção de dobradiças pra gente poder sentar, se levantar, deitar e sair correndo quando acaba a aula. Se não fosse o tronco a gente seria só pernas o tempo todo.
(FERNANDES, Millôr. Conpozissõis Imfãtis. Rio de Janeiro: Nordica, 1975)
O filhão do gabiru
Melhoria do padrão de vida e comida desmontam a tese de uma raça nanica no Nordeste
Ancelmo Gois
Os 34 centímetros de altura que separam os dois homens na foto acima derrubam um mito. O mais baixo é o trabalhador rural pernambucano Amaro João da Silva, 54 anos, 1,35 metro de altura. Sete anos atrás, ele virou manchete de jornal com o apelido de "homem gabiru" (como são chamados alguns tipos de rato no Nordeste). Parecia então que o gabiru pernambucano era a própria ilustração do que a miséria nordestina estava produzindo: uma geração de pessoas nanicas num processo que tenderia a agravar-se. Na época, levantamentos errados sobre a miséria brasileira afirmavam que o país abrigava 30 milhões de famintos.
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