Trabalho
ACERCA DA CONSTITUIÇÃO DA TEORIA DA LINGUAGEM
(Louis Hjelmslev, Universidade de Copenhague)
A linguagem - a fala humana - é uma riqueza inesgotável dotada de múltiplos valores. A linguagem entrelaça-se, indissociavelmente, ao homem e o acompanha em sua jornada. A linguagem é o utensílio com o qual o homem dá forma ao pensamento e ao sentimento, às sensações, ao esforço, à vontade e à ação, o instrumento com o qual move e é movido, a derradeira e mais profunda pré-condição da sociedade humana. Mas é, também, a última e inarredável tábua de salvação do indivíduo, seu refúgio em momentos de solidão, nos espaços onde a mente enfrenta o viver, conflito que deságua no monólogo do poeta, do pensador, do introspectivo. Antes do primeiro despertar de nosso consciente, a linguagem já soava ao nosso redor, pronta a acolher e abrigar o primeiro e hesitante germe do pensar, para daí acompanhar-nos, de forma indissociável, ao longo da vida, desde os afazeres do cotidiano até os nossos momentos mais íntimos e mais sublimes, de onde o cotidiano, pela âncora da reminiscência que a linguagem assegura, toma emprestado calor e força. Não é a linguagem um mero companheiro de viagem, que nos seja familiar, porém externo; é, sim, uma trama tecida na profundidade da mente humana; é o tesouro das lembranças enraizadas no indivíduo e em sua estirpe, é a consciência ética atenta, pela recordação e pelo incentivo. A fala é a marca da personalidade, para o bem e para o mal. A marca da