O uso do Fogo: O manejo indígena e a piromania da monocultura

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O uso do fogo: o manejo indígena e a piromania da monocultura
MAURO LEONEL
INTRODUÇÃO do uso indiscriminado da queimada, como técnica de preparo dos terrenos para a agricultura, é atribuída equivocadamente aos povos tribais de floresta. Tanto entre cientistas, quanto entre leigos, a crença de ser o uso descontrolado do fogo um legado indígena é tida como verdadeira. Monteiro Lobato foi mais longe, atribuindo a destruição de recursos naturais pelo fogo ao desprezado caipira, que teria recebido tal legado do seu ancestral índio. Estas interpretações não levam em conta a degradação humana, a perda da solidariedade e da mútua ajuda que decorrem, por sua vez, da perda do domínio do pequeno produtor familiar e do grupo tribal sobre a terra motivada pela concentração fundiária, que passou, com a agricultura colonial de exportação, ao controle dos grandes latifúndios, destruindo as culturas de subsistência e a troca de excedentes, em favor da monocultura.

A

Muito poucos foram os que se dedicaram a pôr em dúvida tal certeza preconceituosa, a do selvagem predador, embora mais que duvidosa. Basta lembrar que os indígenas estão há 12 mil anos sobre estas terras e não podem ser responsabilizados pela destruição de cerca de 93% das florestas da
Mata Atlântica, nos passados 500 anos, e de 14% da Amazônia, nos últimos
30 anos. Como explicar que as áreas indígenas, que representam cerca de
20,66% do espaço amazônico (Ricardo, 1999), estejam, e até agora, entre as

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