Interpretação desencanto manuel bandeira

6209 palavras 25 páginas
Estudos Semióticos - número três (2007)

Análise semiótica de "Desencanto", de Manuel
Bandeira
Dayane Celestino de ALMEIDA (USP / PIBIC-CNPq)

RESUMO: Ao longo de sua carreira, Manuel Bandeira escreveu vários poemas que podem ser considerados “poéticas”, ou seja, eles tratam do “fazer poesia”, ora dizendo para quê a poesia serve, ora dizendo como ela deve ser. Este trabalho apresenta uma análise de um desses poemas – “Desencanto” – sob a perspectiva da semiótica francesa.
Especial atenção foi dada à organização do plano da expressão, à aspectualidade e à tensividade no poema.
PALAVRAS-CHAVE: semiótica; aspectualidade; tensividade; poesia; M. Bandeira
ABSTRACT: Throughout his career, Manuel Bandeira wrote some poems that talk
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Podemos observar, portanto a evidência das vogais nasais
(ditongos nasais) nesta segunda estrofe. Quanto às consoantes que compõe a rima, a

www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es

Estudos Semióticos - número três (2007)

ALMEIDA, D.C.

última consoante é igual para cada par de versos, menos nos versos pares da segunda estrofe, conforme o esquema abaixo:
Estrofe 1
v.1 e 3 [R]
v.2 e 4 [t]

Estrofe 2
v.1 e 3 [ tS]
v.2
[v]
v.4
[s]

Estrofe 3
v.1 e 3 [k]
v.2 e 4 [X]

Na terceira estrofe, observamos um quiasmo das consoantes [X] e [k] em rouca e corre: rouca corre
Na estrofe 1, as consoantes mencionadas têm em comum o seu ponto de articulação: tanto [R] quanto [t] são consoantes alveolares. A mesma correspondência de ponto de articulação ocorre na estrofe 3: ambas as consoantes ( [k] e [X] ) são velares. Assim, vemos que houve uma simetria com relação aos sons que compõem as rimas das estrofes 1 e 3, evidenciada pelo que acabamos de verificar e pelo que mencionamos anteriormente acerca dos traços das vogais. Além disso, ressaltamos que é na estrofe 2 que ocorre a única rima “masculina”, ou seja, é a única vez em que rimam palavras oxítonas (vão e coração) em todo o poema. Tal fato, juntamente com as relações percebidas entre as estrofes 1 e 3, parece apontar para uma singularidade da segunda estrofe, com relação às demais. Há mais relações entre as

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