Contos da Montanha
Analisar os contos de Miguel Torga é como analisar reflexos sociais do interior de Portugal. Suas personagens trazem o genuíno habitante da montanha. Ao nos adentrarmos pela paisagem humana das aldeias transmontanas, encontramos em cada esquina os rostos descritos no universo de Torga. Quantas lendas e costumes não nos conta essa gente que a narrativa de Torga registrou. São personagens inseridas no ambiente rústico e pobre das aldeias. São personagens natos nas dificuldades do frio cortante das montanhas e passam pela vida com a visão irônica de todo o meio do qual emanam as tradições, as crenças, o trabalho, a religião.
Tomando como base os “Contos da Montanha”, (8ª edição - Coimbra - 1996), vamos …exibir mais conteúdo…
E parou. Nunca assaltara nenhum lugar sagrado. Sempre era roubar a Senhora da Saúde!”
Mas Faustino respeita a profissão que tem, como um egocêntrico Robin Hood, achava de direito tirar da santa que tanto tinha, para dar a si próprio, pobre ladrão miserável. E para concretizar tal sonho, caminhou durante a noite debaixo de uma chuva pesada. Todo molhado, chega à capela e descobre que a caixa de esmolas está vazia, sente-se lesado, chega à conclusão de que o verdadeiro ladrão é o padre, afinal foi quem limpou a caixa e deu fim ao dinheiro. Com a ironia cáustica que é comum em Miguel Torga, o pobre ladrão volta para casa sem o dinheiro, o sonho desfeito, com muita febre por andar à chuva. Pouco tempo depois está moribundo. Mesmo em delírio, já a receber a extrema-unção, ele não perde a forma de rebelião, ao acusar o padre de ladrão.
O Firmo, não é ladrão, mas também tem a alma maior do que o meio em que surgiu e ao qual está confinado. O espírito é o da aventura. Mas como a sua aventura é viver os perigos da estrada e dos lugares distantes, sem o retorno do dinheiro dos emigrantes, o Firmo é acusado pela aldeia e pelo padre de não ter raízes e amor à terra e à família, o que levaria também à