Analise gráfica
Mário de Andrade
Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Se um deus morrer, irei ao Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta,
Mas um dia afinal toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
Mario de Andrade
Sou Trezentos, Sou Trezentos - E - Cinquenta, é um poema de Mario de Andrade, 1930. De um modo geral, o poema fala sobre a sensação de onipresença, de poder se locomover velozmente de um lugar para outro, ignorando a distância, deixando claro ao leitor sobre as localizações geográficas que a primeira estrofe traz; Piauí, Pirineus que se refere a cordilheira entre a França e a Espanha, Caiçaras, que se refere a vários lugares: habitantes de Cananéia, ou estacada de proteção em volta de aldeias indígenas, ou palhoça, junto da praia para abrigar embarcações, ou até mesmo cerca tosca de troncos e galhos. Uma única palavra no verso, referindo-se a tantos lugares, mostra que o Brasil das vanguardas “vivia” entre duas dimensões principais: a metrópole moderna e a selva; a Paulicéia Desvairada e o universo antropofágo; o