Análise sobre "Dois Velhinhos"
Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um consegue espiar lá fora.
Junto à porta, no fundo da cama, para o outro é a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, pergunta o que acontece. Deslumbrado, anuncia o primeiro:
- Um cachorro ergue a perninha no poste.
Mais tarde:
- Uma menina de vestido branco pulando corda.
Ou ainda:
- Agora é um enterro de luxo.
Sem nada ver, o amigo remorde-se no seu canto. O mais velho acaba morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela.
Não dorme, antegozando a manhã. O outro, maldito, lhe roubara todo esse tempo o circo mágico do cachorro, da menina, do enterro de rico.
Cochila um instante - é dia. Senta-se na cama, com dores espicha o pescoço: no beco, muros em ruína, um monte de lixo.
Análise
"Nesse pequeno grande conto, Dalton Trevisan lembra a imensa solidão dos asilos "Dois velhos inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo". O autor poderia ter escrito "esquecidos num quarto", mas a uso da palavra "cela" reforçou a ideia de solidão, esquecimento, confinamento, prisão: tudo aquilo que o asilo representa para anciães esquecidos pela família. Num quarto saturado de solidão, só um dos velhinhos tem acesso à janela, o outro tem de se conformar em ouvir as descrições do velhinho "sortudo": uma menina pulando corda, um cachorro no poste, um enterro...fatos tão