A invenção das tradições
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1. Introdução: A Invenção das Tradições
ERIC HOBSBAWM Nada parece mais antigo e ligado a um passado imemorial do que a pompa que cerca a realeza britânica em quaisquer cerimônias públicas de que ela participe. Todavia, segundo um dos capítulos deste livro, este aparato, em sua forma atual, data dos séculos XIX e XX. Muitas vezes, “tradições” que parecem ou são consideradas antigas são bastante recentes, quando não são inventadas. Quem conhece os “colleges” das velhas universidades britânicas poderá ter uma idéia da instituição destas “tradições” (a nível local, embora algumas delas - como o Festival of Nine Lessons and Carols (Festa das Nove Leituras e Cânticos), realizada anualmente, na capela do King’s College em Cambridge, na véspera de Natal - possam tornar-se conhecidas do grande público através de um meio moderno de comunicação de massa, o rádio. Partindo desta constatação, o periódico Past & Present, especializado em assuntos históricos, organizou uma conferência em que se baseou, por sua vez a presente obra. O termo “tradição inventada” é utilizado num sentido amplo, mas nunca indefinido. Inclui tanto as “tradições” realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas, quanto as que surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e determinado de tempo - às vezes coisa de poucos anos apenas - e se estabeleceram