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1667 palavras
7 páginas
Peter Burke. A fabricação do rei. A construção da imagem pública deLuis XIV. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1994, 254 pp.
Lilia K. Moritz Schwarcz
Professora do Departamento de Antropologia – USP
Dizia Montesquieu que “o esplendor que envolve o rei é parte capital de sua própria pujança”. Mais do que um elogio, a consideração sintetiza particularidades da monarquia, ou mesmo, a dimensão simbólica presente em qualquer tipo de poder público e político. Com efeito, se é só a realeza que introduz o ritual em meio à sua lógica formal e no corpo da lei, podese dizer, porém, que não há sistema político que abra mão do aparato cênico, que se conforma tal qual um teatro; uma grande representação.
Seguindo essas pistas, Marc Bloch, em ensaio pioneiro sobre as mentalidades, datado de 1924, analisava o fenômeno do toque real – o caráter maravilhoso dos reis taumaturgos –, demonstrando como se devia atentar antes para a expectativa coletiva do milagre, do que para o milagre em si.
Norbert Elias, por outro lado, acentuou a importância da etiqueta no interior do Antigo Regime, encontrando uma lógica que nada tinha a ver com o mero adereço, ou com a idéia da existência de vogas aristocráticas luxuosas e sem sentido. Na verdade, não foram poucos os autores que, partindo de eixos e perspectivas diversas, destacaram a relevância do ritual na efetivação do poder, no caso monárquico. Autores como
Starobinski, com a análise dos símbolos da realeza, Kantorovicz, com a demonstração do corpo duplo